Governo ameaça travar R$ 10 bilhões em emendas se Congresso não aprovar MP do IOF
O governo federal enfrenta uma corrida contra o tempo para garantir a aprovação da Medida Provisória (MP) do IOF, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas de 2026. O texto, que substitui o aumento original do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional até as 23h59 desta quarta-feira (8). Caso contrário, a proposta perde validade, gerando um impacto fiscal imediato e significativo.
Segundo o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), se a MP do IOF não for aprovada dentro do prazo, até R$ 10 bilhões em emendas parlamentares poderão ser contingenciados. A medida foi apresentada como parte da estratégia fiscal da equipe econômica para evitar uma perda estimada de R$ 17 bilhões no orçamento do próximo ano.
O que está em jogo com a MP do IOF
A MP do IOF tem um papel central no plano do governo de manter o compromisso com o arcabouço fiscal e garantir o cumprimento das metas de resultado primário estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O texto revisa dispositivos que tratam da tributação sobre operações financeiras, substituindo a alta original do imposto por mecanismos mais equilibrados, com foco em preservar a arrecadação sem onerar excessivamente o contribuinte.
De acordo com o governo, a não aprovação da MP do IOF criaria um rombo imediato nas contas públicas e obrigaria o Ministério da Fazenda a adotar medidas de contenção de gastos, incluindo o congelamento de parte das emendas parlamentares. Isso afetaria a execução de obras, programas sociais e investimentos em estados e municípios, o que tende a gerar forte repercussão política no Congresso.
Risco de contingenciamento e impacto no orçamento
O contingenciamento de até R$ 10 bilhões em emendas é uma das principais ferramentas previstas pelo governo caso a MP do IOF não avance. Esse bloqueio temporário de recursos representa um ajuste emergencial para evitar o descumprimento das metas fiscais.
O senador Randolfe Rodrigues enfatizou que o governo está legalmente obrigado a seguir o arcabouço fiscal, e qualquer perda de receita precisará ser compensada por cortes ou restrições orçamentárias. Segundo ele, o Planalto tenta manter a arrecadação estável, mas a não aprovação da MP poderia comprometer o planejamento financeiro de 2026.
Equilíbrio fiscal e credibilidade do governo
A equipe econômica vê na MP do IOF uma peça-chave para assegurar a credibilidade fiscal do governo Lula. Desde o início de 2025, o Ministério da Fazenda vem adotando medidas de ajuste orçamentário e de aumento de eficiência na arrecadação. A não aprovação da MP pode transmitir ao mercado financeiro uma mensagem de fragilidade política e instabilidade fiscal, gerando desconfiança em investidores e pressões sobre o câmbio e os juros.
Além disso, a MP do IOF é parte integrante da estratégia do governo para viabilizar o Orçamento de 2026, ano eleitoral em que o Executivo pretende manter espaço fiscal suficiente para investimentos públicos e programas sociais sem violar as regras do novo regime fiscal.
Tensões políticas e acusações de sabotagem
Nos bastidores do Congresso, a votação da MP do IOF se tornou um novo campo de batalha política entre o governo e a oposição. Randolfe Rodrigues afirmou que há uma ação de sabotagem articulada por lideranças do Centrão e da oposição, citando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-ministro Ciro Nogueira (PP-PI).
De acordo com o líder do governo, setores contrários ao Palácio do Planalto estariam tentando antecipar o debate eleitoral de 2026 e enfraquecer a base aliada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar das críticas, Randolfe destacou o apoio do presidente da Câmara, Hugo Motta, e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, na tentativa de viabilizar a votação da MP.
A acusação de sabotagem acirrou os ânimos entre os blocos partidários e aumentou a pressão sobre os líderes do Congresso para garantir um desfecho favorável antes do fim do prazo.
O papel estratégico da MP do IOF na política fiscal
A Medida Provisória do IOF faz parte de um conjunto de ações do governo para ampliar a arrecadação sem recorrer a aumentos abruptos de impostos. A intenção é modernizar a forma de cobrança do imposto sobre operações financeiras, simplificar regras e evitar distorções que impactem o setor produtivo.
A iniciativa também busca compensar a queda de receitas causada por incentivos fiscais concedidos em 2024 e pela desaceleração de alguns segmentos da economia, como indústria e comércio exterior. Com a MP, o governo pretende garantir uma receita adicional capaz de sustentar programas prioritários, como o Novo PAC e investimentos em infraestrutura.
Se o texto não for aprovado, a equipe econômica terá de recalibrar todo o plano orçamentário, o que pode gerar instabilidade nas projeções macroeconômicas e atritos entre Executivo e Legislativo.
Cenário no Congresso: votação apertada e incertezas
A MP do IOF passou por apenas um voto de diferença em comissão especial, o que demonstra o grau de divisão política em torno da proposta. A votação final no plenário é considerada decisiva e altamente imprevisível. O governo mobilizou líderes partidários, ministros e a articulação política da Casa Civil para tentar garantir os votos necessários.
Parlamentares da base têm buscado negociar ajustes de última hora no texto para atender a demandas regionais e setoriais, enquanto a oposição promete obstruir a sessão. A incerteza sobre o resultado aumenta a tensão no Palácio do Planalto e pode definir o tom da relação entre governo e Congresso nos próximos meses.
Consequências econômicas da rejeição da MP do IOF
A eventual rejeição da MP do IOF ou sua caducidade por falta de votação teria impacto direto nas finanças públicas. Especialistas apontam que o governo teria de rever o Orçamento de 2026 e adotar cortes emergenciais, afetando áreas sensíveis como saúde, educação e investimentos em infraestrutura.
Além do contingenciamento de emendas, haveria risco de redução de investimentos federais e de maior pressão por reformas estruturais para compensar a perda de arrecadação. A confiança dos agentes econômicos também seria abalada, podendo influenciar a curva de juros futuros e a cotação do real frente ao dólar.
Planalto busca saída negociada
Mesmo diante das divergências políticas, o governo tenta construir uma saída negociada. O Ministério da Fazenda trabalha em alternativas para repor as receitas previstas na MP do IOF, caso o texto não avance. Entre as medidas em análise estão ajustes na tributação de fundos exclusivos e revisões em incentivos setoriais.
O Planalto, porém, considera que nenhuma dessas opções teria o mesmo efeito imediato na arrecadação. Por isso, a aprovação da MP é tratada como prioridade absoluta até o último minuto de tramitação.
O impacto político da decisão
A votação da MP do IOF transcende o aspecto fiscal e se tornou um teste de força política para o governo no Congresso. Uma derrota neste momento seria interpretada como fragilidade na articulação e poderia enfraquecer a agenda econômica de Lula em um momento crucial para a execução do orçamento.
Por outro lado, uma vitória apertada consolidaria o apoio da base aliada, reforçando o discurso de responsabilidade fiscal e comprometimento com o equilíbrio das contas públicas. Em qualquer cenário, o desfecho da MP marcará um ponto de inflexão na relação entre Executivo e Legislativo na reta final de 2025.






