XP Investimentos reduz preço-alvo da São Martinho (SMTO3) e prevê cenário desafiador para o setor sucroenergético
A XP Investimentos São Martinho divulgou sua prévia de resultados referente ao segundo trimestre da safra 2025/2026 (2T26) e atualizou suas projeções para o ciclo 2026/2027 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do país. Apesar da recuperação parcial do setor, os analistas da corretora reduziram o preço-alvo da ação SMTO3 de R$ 22 para R$ 13,90, sinalizando potencial de queda adicional de 5,76% até março de 2027.
A recomendação da XP para o papel permanece neutra, refletindo preocupações com o equilíbrio entre oferta e demanda e a pressão persistente sobre os preços do açúcar e do etanol. Mesmo após uma desvalorização expressiva de cerca de 55% no acumulado de 2025, os analistas avaliam que ainda há espaço para ajustes negativos diante do cenário global de commodities agrícolas.
XP Investimentos São Martinho: desvalorização de 55% e valuation exigente
De acordo com a análise assinada por Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, da XP Investimentos, a São Martinho enfrenta um momento de fragilidade setorial. A companhia, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, é impactada por margens apertadas e incertezas climáticas que limitam o potencial de recuperação dos preços.
Os especialistas destacam que, mesmo negociada nos menores níveis dos últimos cinco anos, a ação da São Martinho apresenta valuation acima da média histórica. Atualmente, o papel opera a 18 vezes o EV/Ebit, enquanto a média de longo prazo é de cerca de 13 vezes. Esse descolamento, segundo a XP, reflete expectativas elevadas que não encontram sustentação nos resultados operacionais.
A corretora também projeta quedas expressivas de rentabilidade no curto prazo. O Ebitda ajustado estimado para o 2T26 é de R$ 661 milhões, uma redução de 30% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Já o lucro líquido projetado é de R$ 89 milhões, retração de 52% na mesma base comparativa.
Esses números indicam uma compressão significativa das margens da São Martinho, impulsionada pela queda dos preços do açúcar e pela pressão concorrencial no mercado de etanol.
Mercado sucroenergético enfrenta desequilíbrio entre oferta e demanda
A XP Investimentos São Martinho aponta que o cenário global de commodities agrícolas continua desafiador. O desequilíbrio entre oferta e demanda vem mantendo os preços do açúcar e do etanol sob forte pressão, especialmente diante do aumento da produção em países concorrentes e da redução do consumo em alguns mercados importadores.
No caso do açúcar, o aumento da oferta global e a normalização dos estoques em países asiáticos têm reduzido as cotações internacionais. Já o etanol sofre influência direta do preço da gasolina, que segue pressionado pela volatilidade do petróleo tipo Brent.
Além disso, o aumento da produção de etanol de milho no Brasil adiciona nova oferta ao mercado, o que deve limitar a recuperação dos preços durante a safra 2026/2027. Para os analistas, o cenário é de pressão contínua sobre as margens das usinas, com baixa probabilidade de um rali de preços nos próximos meses.
Perspectiva para a safra 2026/2027: produtividade melhor, preços sob pressão
Apesar do tom cauteloso, a XP Investimentos São Martinho reconhece perspectivas mais favoráveis para a produtividade agrícola no ciclo 2026/2027. A melhora climática, após um inverno mais estável, deve beneficiar a recuperação da cana-de-açúcar no Centro-Sul.
Os analistas ressaltam que as condições meteorológicas do último inverno foram mais benignas, o que favorece o crescimento e o teor de sacarose da cana. Ainda assim, mesmo com uma safra mais robusta, os preços podem não reagir proporcionalmente, já que o mercado global segue em equilíbrio confortável entre oferta e demanda.
No caso do etanol, a XP prevê forte aumento da produção, impulsionado pelo avanço das usinas de etanol de milho e pela expectativa de preços mais baixos do Brent. Essa combinação tende a limitar o espaço para valorização do combustível, especialmente fora do período de entressafra.
Para o açúcar, os analistas esperam um cenário estável, com o Brasil consolidando-se como principal fornecedor global, mas sem gatilhos que sustentem uma alta expressiva nos preços internacionais.
XP Investimentos São Martinho: lucros futuros podem ser revisados para baixo
Outro ponto de atenção destacado pela XP é a possibilidade de revisões negativas nas projeções de lucro futuro da São Martinho. A instituição avalia que a atual estrutura de custos e a volatilidade cambial podem reduzir a previsibilidade de resultados, impactando a atratividade do papel.
A queda acumulada de 55% nas ações em 2025 reflete parte dessas preocupações, mas, segundo a corretora, ainda não precifica integralmente os riscos operacionais. Por isso, o relatório mantém a visão de cautela, com recomendação neutra e potencial limitado de valorização até 2027.
Os especialistas ressaltam que o desempenho financeiro da companhia dependerá fortemente do comportamento dos preços internacionais do açúcar e do etanol, além da eficiência operacional das usinas para conter custos e preservar margens.
Setor sucroenergético: desafios estruturais persistem
O relatório da XP Investimentos São Martinho também chama atenção para desafios estruturais de longo prazo no setor sucroenergético. Entre os principais entraves estão:
-
Alta sensibilidade aos fatores climáticos, que afetam diretamente o rendimento agrícola;
-
Custos logísticos e tributários elevados, que reduzem a competitividade internacional;
-
Volatilidade cambial, que influencia tanto as exportações quanto os custos de insumos;
-
Dependência do mercado externo, especialmente da Ásia, para o escoamento do açúcar brasileiro.
Esses fatores, somados ao cenário global de juros elevados e à desaceleração da economia chinesa, tornam o ambiente de negócios mais desafiador para companhias do setor.
SMTO3: volatilidade e estratégia de longo prazo
No curto prazo, a XP Investimentos São Martinho acredita que a volatilidade nas ações da SMTO3 deve permanecer alta, acompanhando as oscilações das commodities agrícolas e do câmbio.
Entretanto, a empresa segue sendo referência em eficiência operacional, com histórico consistente de investimentos em tecnologia agrícola e diversificação de portfólio. A companhia possui quatro usinas integradas e capacidade de moagem superior a 24 milhões de toneladas de cana por safra, o que lhe garante vantagem competitiva em escala e produtividade.
Mesmo assim, a XP entende que o atual nível de preços já reflete as melhorias operacionais, e o mercado exigirá novos catalisadores — como recuperação mais forte do etanol ou ganhos expressivos na exportação de açúcar — para impulsionar o papel.
Projeções para 2026/2027: equilíbrio entre prudência e oportunidade
As estimativas da XP Investimentos São Martinho para o ciclo 2026/2027 sugerem uma melhora marginal nos resultados, com o Ebitda ajustado voltando a crescer diante da recuperação de produtividade agrícola e ganhos logísticos.
Ainda assim, a corretora reforça que o ambiente macroeconômico global e os preços das commodities continuarão determinantes para o desempenho da companhia.
Para investidores de longo prazo, o papel pode representar uma oportunidade de entrada gradual, desde que as premissas de eficiência e contenção de custos sejam confirmadas nos próximos trimestres.
Cautela e foco na eficiência
A leitura geral da XP Investimentos São Martinho é de cautela. Embora a companhia continue sólida e eficiente, o cenário de preços pressionados e lucros comprimidos limita o potencial de valorização das ações no curto prazo.
A recuperação sustentável dependerá de fatores climáticos favoráveis, estabilidade cambial e equilíbrio global entre oferta e demanda de açúcar e etanol.
Com o novo preço-alvo de R$ 13,90, a XP sinaliza um horizonte mais conservador para a SMTO3, reforçando que, apesar da desvalorização recente, a ação pode enfrentar novas pressões até que o setor encontre um novo ponto de equilíbrio.






