Copom e FED: semana decisiva para juros no Brasil e nos Estados Unidos
A semana que se inicia nesta segunda-feira (15/09/2025) é marcada por grande expectativa nos mercados financeiros. Isso porque investidores acompanham atentamente as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (FED), que devem definir os rumos da política monetária no Brasil e nos Estados Unidos.
O consenso é de que, no Brasil, a Selic permanecerá em 15% ao ano, enquanto nos Estados Unidos cresce a aposta em cortes de juros ainda em 2025. A combinação dessas decisões tem potencial para mexer com fluxos de capitais globais, influenciar bolsas, câmbio e renda fixa, além de sinalizar as diretrizes econômicas para os próximos meses.
Copom e FED: expectativas distintas para os dois bancos centrais
Embora ambos os encontros atraiam a atenção do mercado, os cenários são bastante diferentes.
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No Brasil: a Selic deve ser mantida em 15% ao ano. Apesar de o Relatório Focus indicar redução nas expectativas de inflação para 2025 e 2026, a projeção para este ano ainda supera o teto da meta (4,5%), o que limita espaço para cortes. As negociações com derivativos na B3 já precificam 95% de chance de manutenção da taxa.
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Nos Estados Unidos: o FED deve retomar o processo de afrouxamento monetário, interrompido em dezembro de 2024. Atualmente, os juros estão entre 4,25% e 4,50% ao ano. O mercado aposta em corte de 0,25 ponto percentual nesta reunião, mas há cerca de 5% de probabilidade de uma redução mais agressiva de 0,50 p.p.
Esse contraste deixa claro que o Brasil tende a manter uma política restritiva por mais tempo, enquanto os EUA caminham para flexibilização, refletindo as diferenças no estágio de cada economia.
Selic deve seguir estável até o fim de 2025
O Copom tem lidado com uma inflação persistente, mesmo após sucessivos ciclos de aperto monetário. O Relatório Focus mostra sinais de alívio, mas não suficientes para justificar cortes imediatos. A expectativa predominante é de que a taxa só volte a cair em 2026, o que mantém o Brasil em posição de destaque no cenário global por conta do elevado diferencial de juros em relação às economias desenvolvidas.
Esse diferencial, por sua vez, continua atraindo fluxo estrangeiro para a renda fixa brasileira, o que ajuda a equilibrar o câmbio, mesmo em meio à volatilidade global.
FED deve cortar juros em meio a sinais de desaceleração do emprego
Nos Estados Unidos, a inflação medida pelo Consumer Price Index (CPI) de agosto ficou em 3,1% no acumulado de 12 meses, em linha com as expectativas e com o mesmo resultado de julho. O dado, por si só, não justificaria pressa nos cortes.
No entanto, o mercado de trabalho mostra sinais claros de enfraquecimento. Em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas de trabalho não-agrícola, muito abaixo da média recente. Além disso, uma revisão semestral apontou que, entre março de 2024 e março de 2025, foram abertas 911 mil vagas a menos do que o inicialmente divulgado — uma diferença 50% superior à esperada e a mais intensa desde 2002.
Esses números fortalecem o argumento de que o FED precisa agir para evitar um desaquecimento mais abrupto da economia americana. O presidente do banco central, Jerome Powell, já havia sinalizado que cortes mais pronunciados poderiam ser necessários, caso os dados de emprego confirmassem tendência de desaceleração.
Perspectivas para o fim de 2025
O cenário mais provável é que o FED realize três cortes de 0,25 p.p. até dezembro, totalizando 0,75 ponto percentual. Ainda assim, há possibilidade de um caminho alternativo, com uma redução maior em uma única reunião e manutenção em outra.
Se confirmado, esse movimento consolidaria uma diferença ainda maior entre a política monetária dos Estados Unidos e a do Brasil. Enquanto a economia americana busca estímulo para sustentar o crescimento, o Brasil segue focado em ancorar expectativas de inflação.
Essa divergência pode gerar impactos importantes no fluxo de capitais, no comportamento do dólar frente ao real e na atratividade de ativos brasileiros no mercado internacional.
Impacto para investidores
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Renda fixa no Brasil: manutenção da Selic em 15% segue favorecendo aplicações conservadoras, como títulos públicos indexados à taxa básica.
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Bolsa brasileira: pode ser beneficiada indiretamente se os cortes nos EUA aumentarem a liquidez global, mas a Selic alta pesa no custo de capital das empresas.
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Câmbio: o diferencial de juros segue apoiando o real, mas a volatilidade internacional pode gerar movimentos bruscos.
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Mercados globais: a decisão do FED terá efeito imediato sobre Nasdaq, S&P 500 e demais índices, especialmente se os cortes forem mais agressivos do que o previsto.
Agenda da semana
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Segunda-feira (15/09): divulgação do IBC-Br (prévia do PIB brasileiro)
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Terça-feira (16/09): agenda fraca em indicadores, atenção a balanços corporativos
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Quarta-feira (17/09): decisões do Copom e do FED
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Quinta-feira (18/09): dados de pedidos de seguro-desemprego nos EUA
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Sexta-feira (19/09): divulgação de indicadores de confiança do consumidor no Brasil e nos EUA
Copom e FED: os próximos capítulos
A semana será decisiva para calibrar expectativas de investidores em todo o mundo. No Brasil, a sinalização do Copom ajudará a entender se há margem para flexibilização em 2026. Nos Estados Unidos, cada palavra do comunicado do FED será analisada em busca de pistas sobre a intensidade do ciclo de cortes.
Enquanto isso, os mercados devem permanecer voláteis, com investidores ajustando posições à medida que os dados e decisões oficiais forem divulgados. O cenário reforça a importância de acompanhar não apenas o resultado das reuniões, mas também o tom dos comunicados e entrevistas subsequentes.
A semana começa com uma certeza: todos os olhos estão voltados para Copom e FED. Se, de um lado, o Brasil deve manter a Selic em patamar elevado até o fim de 2025, de outro, os Estados Unidos caminham para cortes sucessivos, diante de um mercado de trabalho que dá sinais de fraqueza.
Esse contraste entre as duas maiores economias das Américas vai definir não apenas o humor dos investidores nos próximos dias, mas também os rumos do câmbio, da renda fixa e das bolsas de valores até o fim do ano.






