Cotação do Dólar Cai com Inflação Baixa nos EUA e Trégua Comercial com China: Veja o Que Isso Significa para o Brasil
Cenário internacional favorece desvalorização do dólar
A cotação do dólar voltou a cair fortemente nesta quarta-feira, atingindo o menor patamar do ano frente ao real. A queda foi impulsionada por dois fatores principais: a inflação dos Estados Unidos veio abaixo do esperado e houve avanço nas negociações comerciais entre EUA e China. Esses dois eventos movimentaram o mercado internacional e refletiram diretamente nas moedas emergentes — entre elas, o real.
A menor inflação nos EUA elevou as expectativas de corte na taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed), o que enfraquece o dólar frente a outras moedas. Além disso, o acordo comercial firmado entre norte-americanos e chineses trouxe alívio às tensões tarifárias e reacendeu o apetite por risco entre os investidores.
Inflação abaixo do esperado nos EUA pressiona o dólar
Segundo o Departamento de Estatísticas norte-americano, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos EUA subiu apenas 0,1% em maio. Esse resultado ficou abaixo da projeção de 0,2% feita por analistas do mercado. A leitura mais baixa da inflação reforça a ideia de que o banco central dos EUA poderá adotar uma postura mais dovish (flexível), com possíveis cortes nos juros já a partir de setembro.
Com taxas de juros mais baixas, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano caem, tornando o dólar menos atraente para investidores globais. Isso leva à valorização de moedas de países emergentes, como o Brasil.
Além disso, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 2,4%, um pouco acima dos 2,3% de abril, mas ainda inferior à expectativa de 2,5%. No núcleo do CPI — que exclui alimentos e energia — os números também foram considerados positivos, com crescimento menor que o previsto tanto na comparação mensal quanto anual.
Cotação do dólar atinge menor valor do ano
Com esse cenário, o dólar à vista fechou em queda de 0,53%, cotado a R$ 5,5392, menor nível desde 8 de outubro do ano passado. Já o dólar para julho, contrato mais negociado na B3, recuou 0,62%, sendo negociado a R$ 5,5580 às 17h03.
Confira a cotação atualizada:
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Dólar comercial
Compra: R$ 5,539
Venda: R$ 5,539 -
Dólar turismo
Compra: R$ 5,785
Venda: R$ 5,605
A queda representa um alívio para importadores, viajantes e empresas com dívidas em moeda estrangeira. Além disso, tende a desacelerar os preços de produtos importados, o que pode contribuir para conter a inflação doméstica.
Acordo comercial entre EUA e China reaquece o otimismo
Outro fator que pressionou a cotação do dólar para baixo foi a retomada do diálogo entre Estados Unidos e China. Em Londres, representantes dos dois países anunciaram um acordo para flexibilizar restrições comerciais, especialmente em relação às exportações de minerais e imãs de terras raras.
Esses produtos são essenciais para a indústria tecnológica, o que torna o acordo particularmente relevante para o equilíbrio das cadeias produtivas globais. Com a redução das tensões, os investidores se mostram mais dispostos a assumir riscos, migrando capital para ativos em mercados emergentes e reduzindo a demanda por dólar.
O presidente Donald Trump também confirmou o fechamento do acordo e afirmou que a China se comprometeu a continuar fornecendo minerais estratégicos. Em contrapartida, os Estados Unidos aceitaram receber mais estudantes chineses em suas universidades, fortalecendo laços acadêmicos e diplomáticos.
Juros nos EUA devem cair e favorecer moedas emergentes
O novo dado de inflação e o acordo com a China consolidaram a perspectiva de que o Federal Reserve possa cortar juros já no terceiro trimestre de 2025. Com isso, o dólar perde força globalmente.
O índice DXY — que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas fortes como euro, iene e libra — caiu 0,23%, atingindo 98,732 pontos. Essa movimentação reflete uma menor atratividade da moeda norte-americana como reserva de valor e impulsiona moedas como o real, o peso mexicano e o rand sul-africano.
Impactos no Brasil e cenário fiscal doméstico
Internamente, o Brasil também vive momentos de expectativa. O presidente da Câmara, Hugo Motta, indicou que o tema dos gastos primários deve entrar na pauta política nos próximos dias. A pressão por medidas de ajuste fiscal aumenta, especialmente após as reações negativas do mercado às tentativas do governo de aumentar o IOF.
Em audiência pública, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o governo busca alternativas para equilibrar as contas sem aumentar a carga tributária. Entre as propostas estão o combate aos supersalários e a revisão das aposentadorias militares.
Essas iniciativas visam reduzir o déficit primário e fortalecer a confiança dos investidores, o que também influencia a cotação do dólar. Um ambiente fiscal mais sólido atrai capital estrangeiro e contribui para a valorização do real.
O que esperar da cotação do dólar nos próximos meses
Com o cenário internacional mais favorável e sinais de responsabilidade fiscal no Brasil, a tendência de curto prazo para a cotação do dólar é de continuidade na trajetória de queda. No entanto, essa valorização do real pode ser limitada por fatores como a volatilidade política, a condução das reformas econômicas e o comportamento da economia global.
Analistas projetam que, caso o Federal Reserve realmente inicie os cortes de juros em setembro e o governo brasileiro avance em suas propostas de controle fiscal, a moeda americana pode chegar a patamares abaixo de R$ 5,50 de forma sustentada.
Para investidores, empresas e consumidores, esse movimento pode representar uma janela de oportunidades. Importadores, por exemplo, ganham poder de compra. Já o turismo internacional se torna mais acessível. No entanto, exportadores podem ser impactados negativamente, pois um real mais forte encarece os produtos brasileiros no exterior.
Dólar mais fraco, real mais forte — mas com cautela
A combinação entre inflação mais baixa nos Estados Unidos e avanço nas negociações com a China criou um ambiente de maior otimismo nos mercados, levando a uma desvalorização do dólar em escala global. No Brasil, esse movimento foi intensificado pela expectativa de responsabilidade fiscal e pela ausência de medidas drásticas de aumento da carga tributária.
A queda na cotação do dólar alivia a inflação, barateia produtos e viagens internacionais e pode favorecer setores produtivos. No entanto, é fundamental que o governo mantenha o foco no equilíbrio fiscal e que o cenário externo continue favorável para que essa tendência se sustente.






