A nomeação de Marcio Pochmann teve resistência da ministra Simone Tebet e de economistas mais ortodoxos
A escolha do economista Marcio Pochman para o cargo de presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está cercada de polêmica. Anunciado na última quarta-feira, 26, pelo ministro da Secretaria Especial de Comunicação, Paulo Pimenta, a decisão teve resistência da ministra do Planejamento, Simone Tebet, e de economistas mais ortodoxos. Professor de economia da Unicamp, que tem um viés mais heterodoxo, Pochmann é próximo ao PT e à Lula e já dirigiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), quando foi chamado de ideológico e intervencionista por seus pares. Com declarações polêmicas o economista já criticou o PIX e a reforma trabalhista e da previdência. Ele já defendeu um imposto de renda de até 60% e a exploração do “espaço sideral”. Confira abaixo algumas das principais ideias – e polêmicas – de Pochmann.
PIX
Mais de um mês antes de o Pix ser lançado, o que ocorreu no dia 16 de novembro de 2020, Pochmann lançou críticas à ferramenta de pagamento instantâneo. Em suas redes sociais, o economista afirmou, no dia 13 de outubro de 2020, que a iniciativa do Banco Central seria “mais um passo na via neocolonial” e uma “condição perfeita ao protetorado dos EUA”.
Com o Pix, BACEN concede +1 passo na via neocolonial a qual o Brasil já se encontra ao continuar seguindo o receituário neoliberal. Na sequência vem a abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar. Condição perfeita ao protetorado dos EUA.
— Marcio Pochmann (@MarcioPochmann) October 13, 2020
Imposto de Renda de 60%
Quando presidente do Ipea, o economista defendeu uma a alíquota de 60% no Imposto de Renda para quem recebe mais de 50 mil. Segundo registrou o jornal “O Estado de S. Paulo”, a declaração foi dada, em junho de 2008, durante participação de Pochmann na Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Exploração do ‘espaço sideral’
Pochman já idealizou que o Brasil fizesse uma exploração ao “espaço sideral”. Durante entrevista à Reuters, em 2021, ele argumentou que o país deveria desbravar frentes que não se dedica com afinco. “Brasil não tem GPS. Como podemos dizer que Brasil é país autônomo quando todo seu sistema de informação e comunicação vinculado ao espaço sideral, portanto à internet, depende de empresas que não são brasileiras?”, afirmou.
Criticas às reformas trabalhista e da Previdência
Já neste ano, Pochmann criticou a reforma trabalhista, aprovada no governo Michel Temer, e a reforma da Previdência, que foi realizada durante o mandato do então presidente Jair Bolsonaro. Para ele, as mudanças da reforma trabalhista “colapsaram” o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) que está transferido “parte do que arrecada do PIS/Pasep para o pagamento das despesas previdenciárias”.
Desmontagem do assalariamento com o estancamento econômico, deformas trabalhista e previdenciário e fiscalismo dentista colapsa o Fundo de Amparo ao Trabalhador que precisa transferir parte do que arrecada do PIS/Pasep para o pagamento das despesas previdenciárias.
— Marcio Pochmann (@MarcioPochmann) June 19, 2023
Importância do IBGE
Responsável fornecer dados e informações do país, o IBGE coordena os sistemas de informações cartográficas e estatístyicas. Para Carla Beni, economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a estatal é importante porque, com seus dados, as autoridades decidem “as políticas públicas com dotações orçamentárias para saúde e educação, que são feitas em cima do censo, principalmente, na parte do entendimento populacional que informa quantos habitantes tem naquela região. A partir disso você vai trabalhar com as esferas governamentais federal, estadual e municipal” afirma a pesquisadora. Para ela, a prioridade de Pochmann é “garantir a produção estatística do país dentro da instituição que é uma das mais importantes do país”. “O desafio desse novo presidente é fazer isso diante do desmonte orçamentário que o IBGE sofreu no governo anterior. Ou seja, voltar a fazer concursos públicos, fazer uma reposição do seu quadro de funcionários, ajustar o orçamento e dar um salário que se consiga fazer a manutenção dos agentes em campo”, pontua.
Já para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, Pochmann, à exemplo de países desenvolvidos, deve fortalecer o IBGE, a fim de diminuir às grandes desigualdades do país. “Alemanha e Estados Unidos, por exemplo, não deixaram de investir em seus institutos de estatística porque somente com um órgão comprometido é que se consegue realmente mapear para onde focalizar suas políticas públicas. O que eu quero dizer com isso? A gente sabe que o Brasil é um país desigual, que falta saneamento e tem muita precariedade na educação, mas para onde direcionamos os recursos? Sabemos que é no Norte e no Nordeste. Mas em quais regiões? Então, é importante fazer o monitoramento correto das estatísticas para que o dinheiro vá onde as pessoas realmente precisam”. Já para o operador de renda variável da Manchester Investimentos, André Luiz Rosa, a prioridade do presidente deve ser “a garantia da qualidade, precisão dos dados, investimentos em tecnologia para o ganho de eficiência, ampliação da transparência e principalmente, descoberta de novas necessidades juntamente com os setores públicos, privados e acadêmicos, para identificar áreas emergentes que necessitem de dados estatísticos e geoespaciais para apoiar o desenvolvimento do país”.
Sócio da Davos Investimentos, Marcelo Boragini pontua que a estatal precisa de alguém engajado politicamente para destravar o acesso às informações estatísticas e assim destinar os recursos de maneira correta. “O IBGE precisa de alguém com vontade de fazer e capacidade de mobilização política, ou seja, é politicamente que ele vai ter muito trabalho. Acho que vale lembrar que ter acesso às informações estatísticas e geográficas é indispensável para o planejamento e avaliação de um país. Dessa forma, o IBGE possui uma grande importância econômica e social”, pontua.