Decisão de juros do Fed movimenta os mercados em meio a apagão de dados e pressões políticas sobre Powell
A decisão de juros do Fed (Federal Reserve) desta quarta-feira (29) promete ser um dos eventos mais aguardados da semana nos mercados financeiros internacionais. Em meio a um apagão de dados econômicos causado pelo shutdown do governo dos Estados Unidos, investidores e analistas tentam antecipar o posicionamento do presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, sobre os próximos passos da política monetária americana.
De acordo com a ferramenta CME FedWatch, cerca de 96,7% das apostas do mercado já apontam para um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, levando-a ao intervalo de 3,75% a 4% ao ano. Caso se confirme, será o segundo corte consecutivo deste ciclo do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), reforçando a tendência de flexibilização monetária em meio à desaceleração da economia norte-americana.
Contexto: apagão de dados e incerteza sobre a decisão de juros do Fed
O cenário que antecede a decisão de juros do Fed é marcado por falta de dados atualizados, resultado da paralisação parcial do governo dos EUA, que impediu a divulgação de indicadores macroeconômicos importantes. Essa ausência de informações dificulta a avaliação precisa da inflação, do mercado de trabalho e do consumo, tornando o trabalho do banco central ainda mais desafiador.
Apesar da expectativa de corte, parte dos investidores teme que o apagão de dados leve o Fed a adotar uma postura mais cautelosa, possivelmente indicando uma pausa temporária no ciclo de afrouxamento. Powell deverá, portanto, calibrar sua comunicação para evitar turbulências nos mercados globais.
A decisão ocorre ainda sob pressão política intensa. O presidente Donald Trump voltou a criticar Powell publicamente, afirmando que pretende substituí-lo ao fim de seu mandato, que se encerra em maio de 2026. A declaração reforçou a percepção de que o Fed está sob escrutínio político, em um momento em que a independência da autoridade monetária é fundamental para a estabilidade dos mercados.
Expectativas sobre o discurso de Jerome Powell
Com o corte praticamente precificado, o foco do mercado está no discurso de Jerome Powell, que ocorrerá logo após o anúncio da decisão de juros. Analistas esperam sinais mais claros sobre:
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O impacto do apagão de dados na política monetária;
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As projeções revisadas para crescimento e inflação;
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A postura do Fed diante da pressão política e das incertezas externas.
Se Powell adotar um tom mais conservador, indicando prudência e foco no combate à inflação, os mercados podem reagir com ajuste de expectativas — especialmente no câmbio e nas bolsas emergentes.
Por outro lado, um discurso mais dovish (favorável à flexibilização monetária) tende a impulsionar o apetite por risco, beneficiando ativos de países como o Brasil, que já vêm atraindo capital estrangeiro.
Impactos esperados no Ibovespa e no câmbio
No Brasil, o mercado financeiro iniciou o dia em clima positivo, embalado pela expectativa da decisão de juros do Fed e por notícias favoráveis nas relações comerciais com os EUA. O Ibovespa (IBOV) fechou o último pregão em alta de 0,31%, aos 147.428 pontos, renovando seu recorde nominal histórico — o 16º do ano.
O movimento foi sustentado pelo avanço das ações do setor bancário e pela melhora no humor global. O dólar à vista encerrou as negociações em queda de 0,20%, cotado a R$ 5,35, enquanto o ETF brasileiro em Nova York, iShares MSCI Brazil (EWZ), subiu 0,74% no after-market, refletindo o otimismo dos investidores.
A expectativa é que, caso o Fed confirme o corte de juros, o Ibovespa mantenha o viés positivo, impulsionado pela entrada de capital estrangeiro e pela melhora na percepção de risco.
Fatores internos que influenciam o Ibovespa
Além do cenário internacional, o mercado local é impactado por temas domésticos relevantes. O retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país recoloca no radar a questão fiscal, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar que partes da Medida Provisória 1.303, que prevê cortes de gastos, devem ser incorporadas em um projeto de lei em tramitação na Câmara.
A aprovação dessa medida pode reduzir pressões sobre o orçamento federal e melhorar a percepção fiscal, favorecendo o desempenho da bolsa brasileira e dos títulos públicos.
Outro fator que influencia o mercado é o início da temporada de balanços corporativos no Brasil. O Santander (SANB11) abriu a sequência dos grandes bancos, com lucro líquido de R$ 4 bilhões no terceiro trimestre, alta de 9,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Nesta quarta-feira, também são esperados resultados de Bradesco (BBDC3), ISA Energia (ISAE4), Kepler Weber (KEPL3), Motiva (MOTV3) e Mercado Livre (MELI34), o que deve movimentar os setores financeiro, energético e de tecnologia na B3.
Cenário internacional: foco em Trump, China e temporada de balanços
Nos Estados Unidos, a semana também é marcada pela divulgação dos balanços das “Sete Magníficas”, grupo das maiores empresas de tecnologia do mundo. Hoje, apresentam resultados Microsoft, Alphabet (Google) e Meta, enquanto Apple e Amazon divulgarão seus números amanhã.
Esses relatórios podem moldar o humor global, já que o setor de tecnologia é o principal motor das bolsas americanas.
Outro ponto de atenção é o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, previsto para esta semana, que pode destravar negociações comerciais entre as duas maiores economias do planeta. A expectativa é de avanços nas conversas sobre tarifas de importação e exportação de minerais raros, com possíveis concessões de ambos os lados.
Na Ásia, as bolsas fecharam sem direção única: o Nikkei avançou 2,37% em Tóquio, enquanto Xangai subiu 0,70%. Já Hong Kong permaneceu fechada por feriado. Na Europa, o mercado amanheceu misto, com Londres em alta e Frankfurt levemente negativa.
Commodities e criptomoedas
Os preços do petróleo seguem próximos da estabilidade. O Brent é negociado a US$ 63,84 o barril, enquanto o WTI está em US$ 60,14, com investidores aguardando o próximo encontro da Opep+, marcado para domingo (2).
O mercado especula um possível aumento moderado na produção a partir de dezembro, o que poderia pressionar os preços globais.
No mercado de minerais e metais, o minério de ferro opera em alta de 1,93%, cotado a US$ 111,63 por tonelada em Dalian, refletindo sinais de recuperação da demanda chinesa.
As criptomoedas, por outro lado, iniciam o dia em queda: o Bitcoin (BTC) recua 1,3%, negociado a US$ 112.981, enquanto o Ethereum (ETH) perde 2,8%, cotado a US$ 4.003.
O que esperar para o restante da semana
Com a decisão de juros do Fed e a coletiva de imprensa de Powell, marcada para as 15h30 (horário de Brasília), os mercados devem operar com alta volatilidade. A reação imediata dependerá do tom do discurso e da percepção de continuidade dos cortes.
Se o Fed indicar cautela ou interrupção no ciclo de afrouxamento, o dólar pode voltar a subir e as bolsas globais podem sofrer ajustes. Mas, se o discurso for mais expansionista, o movimento pode favorecer os mercados emergentes, especialmente o Brasil, que vive momento de recordes na B3.
Os investidores também monitoram os próximos passos da política fiscal brasileira e o avanço das negociações comerciais entre Estados Unidos e Brasil, após o Senado americano aprovar o projeto que revoga tarifas de 40% sobre produtos brasileiros, como o café.
Decisão do Fed definirá o tom dos mercados globais
A decisão de juros do Fed desta quarta-feira é mais do que um movimento técnico de política monetária — é um teste de credibilidade e comunicação em um momento de incertezas políticas e econômicas.
Jerome Powell precisa equilibrar expectativas do mercado, pressões políticas internas e dados insuficientes para manter o controle da narrativa. Um erro de tom ou sinal trocado pode reverberar globalmente, afetando moedas, bolsas e commodities.
No Brasil, a tendência é de otimismo cauteloso, com o Ibovespa podendo ampliar ganhos caso o Fed adote postura mais branda. Ainda assim, o cenário permanece sensível e dependente da leitura que os investidores farão das palavras de Powell.






