Faraó dos Bitcoins: CVM condena Glaidson Acácio dos Santos por esquema de pirâmide financeira
O Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) condenou Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como o “Faraó dos Bitcoins”, a uma multa de R$ 34 milhões por operar sem registro ou dispensa de oferta de valores mobiliários. A condenação está relacionada ao esquema de pirâmide financeira disfarçado de investimento em bitcoins, que movimentou impressionantes R$ 38 bilhões entre 2015 e 2021, causando um prejuízo estimado de R$ 9,3 bilhões.
Entenda o caso do Faraó dos Bitcoins
Glaidson, um ex-garçom e ex-pastor, liderava, a partir de Cabo Frio (RJ), uma operação fraudulenta que prometia retornos de 10% ao mês por meio da empresa G.A.S. Consultoria e Tecnologia. Segundo a CVM, o esquema envolveu pelo menos 8.976 investidores, incluindo pessoas físicas e jurídicas.
Em agosto de 2021, o esquema foi desmantelado pela Polícia Federal (PF) na Operação Kryptos, resultando na prisão de Glaidson e na fuga de sua esposa, Mirelis Zerpa, que atualmente está foragida. Zerpa teria transferido recursos para contas no exterior e estaria tentando uma carreira musical nos Estados Unidos.
Detalhes da condenação pela CVM
A CVM multou Glaidson, sua esposa e a G.A.S. Consultoria em R$ 34 milhões cada. Além disso, eles foram proibidos de atuar no mercado de valores mobiliários por 102 meses. A decisão foi tomada à revelia, já que os acusados não apresentaram defesa.
De acordo com a CVM, o esquema configurava um contrato de investimento coletivo (CIC) por apresentar as seguintes características:
- Investimento com condições padronizadas;
- Formalização por contrato;
- Participação coletiva dos investidores;
- Retornos financeiros provenientes do esforço do empreendedor.
A oferta pública de valores mobiliários também foi confirmada pela ampla divulgação em websites, redes sociais e até em cultos religiosos.
Esquema de pirâmide financeira disfarçado de investimentos em bitcoins
Embora os contratos da G.A.S. indicassem que os recursos seriam investidos em bitcoins, a investigação revelou que os valores eram desviados para outras empresas do grupo e contas pessoais dos administradores. Parte do dinheiro também foi usada em produtos bancários tradicionais e investimentos em outras criptomoedas.
A CVM identificou que a operação utilizava “ardil ou artifício destinado a induzir ou manter terceiros em erro”, caracterizando fraude e violação das normas do mercado de valores mobiliários.
A defesa do “Faraó dos Bitcoins”
Durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Criptomoedas em julho de 2023, Glaidson negou que sua empresa fosse uma pirâmide financeira. Ele afirmou que os atrasos nos pagamentos aos investidores foram causados pela atuação da Polícia Federal.
Segundo ele, a G.A.S. “sempre pagou adiantado” e teria condições de retomar as atividades caso os recursos bloqueados fossem liberados. No entanto, as evidências da investigação contradizem essa narrativa, apontando para a má gestão e desvio de recursos.
Ação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal
A Operação Kryptos, conduzida pela PF, desmantelou o esquema e revelou detalhes da atuação de Glaidson e seus associados. Mirelis Zerpa, responsável pela parte operacional do esquema, teria realizado saques sucessivos que somaram mais de R$ 1 bilhão logo após o início das investigações.
O Ministério Público Federal também apontou que a G.A.S. era tratada como uma “instituição financeira ilegal”, o que reforça a gravidade das acusações.
Impactos financeiros e sociais do esquema
O esquema do Faraó dos Bitcoins deixou milhares de investidores no prejuízo, muitos deles atraídos pela promessa de altos retornos em um curto período. Para a região de Cabo Frio, o caso representa um dos maiores escândalos financeiros, com consequências devastadoras para a economia local e para as famílias das vítimas.
A condenação pela CVM, embora significativa, é apenas uma parte das medidas legais tomadas contra Glaidson e seus associados. Processos criminais e ações de recuperação de ativos continuam em andamento.
O futuro das investigações e o impacto no mercado de criptomoedas
O caso do Faraó dos Bitcoins expõe a vulnerabilidade do mercado de criptomoedas no Brasil frente a esquemas fraudulentos. Ele também reforça a importância de regulamentação e fiscalização mais rigorosas para proteger investidores e garantir a transparência do mercado.
O desfecho do processo contra Glaidson Acácio dos Santos e Mirelis Zerpa poderá servir como um precedente importante para casos semelhantes, enviando uma mensagem clara sobre as consequências de fraudes financeiras.