FIDCs lideram captação e superam investimentos tradicionais em 2025
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) se consolidaram como um dos instrumentos financeiros mais atrativos do mercado brasileiro em 2025. Pela primeira vez na história, esses fundos superaram produtos tradicionais, como renda fixa e multimercados, e lideraram a captação de recursos na indústria de fundos, acumulando R$ 81,2 bilhões em aportes nos últimos 12 meses.
Com o aumento da busca por rendimentos acima do CDI e alternativas à renda fixa, os FIDCs vêm atraindo tanto investidores institucionais quanto o público de alta renda. O avanço do setor é explicado pela flexibilidade das operações de crédito, que permitem transformar recebíveis em liquidez imediata para empresas, além de gerar rentabilidade superior para quem aplica.
O que são FIDCs e como funcionam
Os FIDCs são fundos que compram direitos creditórios — valores que empresas têm a receber no futuro — e os transformam em títulos negociáveis. Na prática, eles convertem dívidas em oportunidades de investimento.
Imagine uma faculdade particular que precisa de caixa para pagar professores e reformar suas instalações. Em vez de recorrer a empréstimos bancários, ela pode vender os recebíveis das mensalidades futuras a um fundo de investimento, recebendo o dinheiro antecipadamente. O fundo, por sua vez, repassa esses valores aos investidores, que lucram com os juros embutidos nessa operação.
Esses fundos existem desde o início dos anos 2000, mas ganharam novo fôlego após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) liberar, em 2023, o acesso parcial desses produtos ao investidor de varejo. A decisão abriu caminho para uma nova fase da democratização dos FIDCs no Brasil.
FIDCs: o motor da nova captação no mercado financeiro
De acordo com dados da Anbima, os FIDCs captaram R$ 81,2 bilhões em 12 meses, ultrapassando todas as demais categorias de fundos. O patrimônio total do segmento atingiu R$ 732 bilhões, equivalente a 7% da indústria de fundos brasileira.
Embora ainda distante dos fundos de renda fixa, que somam R$ 4,3 trilhões, os FIDCs já superam os fundos de ações (R$ 642 bilhões) e se aproximam rapidamente dos multimercados (R$ 1,6 trilhão). O movimento reforça a mudança de comportamento dos investidores, que buscam retornos mais elevados e diversificação em meio ao cenário de juros altos.
A estrutura dos FIDCs, baseada na compra de recebíveis e na distribuição de cotas, tem se mostrado eficiente para companhias que precisam antecipar fluxos de caixa e para investidores que desejam acesso a retornos diferenciados em operações estruturadas.
A estrutura de cotas e o grau de risco
O FIDC é dividido em cotas seniores e subordinadas, com diferentes níveis de risco e rentabilidade.
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Cotas subordinadas: absorvem as primeiras perdas em caso de inadimplência.
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Cotas seniores: são mais seguras e têm prioridade no recebimento dos rendimentos.
Essa estrutura permite equilibrar o retorno entre investidores com perfis distintos. A CVM autorizou que apenas as cotas seniores sejam acessíveis ao investidor de varejo, limitando o risco e protegendo o pequeno aplicador.
Segundo dados de mercado, menos de 5% dos FIDCs possuem mais de 500 cotistas, o que reforça o caráter ainda restrito desses fundos. No entanto, o avanço dos fundos de fundos (FOFs) — veículos que investem em cotas de outros FIDCs — deve ampliar significativamente o alcance entre investidores de perfil moderado.
O papel dos FIDCs no financiamento empresarial
Os FIDCs se tornaram uma alternativa importante ao crédito bancário, especialmente para empresas de médio porte e instituições de ensino, varejo e construção civil, que buscam liquidez para financiar suas operações.
essa modalidade permite que companhias antecipem receitas futuras e reduzam sua dependência de bancos, ao mesmo tempo em que oferece rentabilidade superior aos investidores. Trata-se de um mecanismo de intermediação financeira descentralizada, que estimula o crescimento econômico e amplia o acesso ao crédito privado no país.
Atualmente, existem mais de 8 milhões de CNPJs negativados no Brasil, de acordo com dados da Serasa. Nesse contexto, os FIDCs cumprem um papel essencial ao fornecer recursos para empresas com dificuldade de crédito bancário tradicional, permitindo a manutenção de atividades e empregos.
A ascensão do investidor de alta renda e a chegada ao varejo
Até 2023, os FIDCs eram acessíveis apenas a investidores qualificados — com patrimônio superior a R$ 1 milhão — ou a institucionais. A recente abertura do mercado ampliou o potencial de expansão, embora ainda em estágio inicial.
Segundo gestores, a entrada do varejo ocorrerá gradualmente, impulsionada pela criação de fundos híbridos e carteiras diversificadas que reduzem o risco individual das operações.
Ricardo Binelli, sócio da Solis Investimentos, explica que os fundos de fundos de FIDCs representam a nova fronteira do mercado. Essa estrutura permite a pulverização dos riscos, já que o investidor aplica em uma cesta de diferentes FIDCs e não depende do desempenho de uma única operação.
Riscos e desafios dos FIDCs
Apesar da segurança adicional das cotas seniores, os FIDCs ainda são produtos complexos e de maior risco em relação à renda fixa tradicional. O principal perigo está na inadimplência dos recebíveis e na qualidade do crédito das empresas envolvidas.
Um exemplo são os FIDCs baseados em precatórios, títulos que representam dívidas do governo com pessoas físicas ou jurídicas. Embora ofereçam retornos altos, esses papéis carregam riscos significativos, já que o pagamento pode demorar anos — ou até não ocorrer — dependendo da situação fiscal dos entes públicos.
Para especialistas como José Eduardo Barbosa, diretor da Multiplica Crédito & Investimento, o investidor precisa compreender que o risco de crédito e a liquidez limitada fazem parte da natureza desses fundos. Eles exigem análise técnica e acompanhamento constante, o que os torna inadequados para quem busca simplicidade ou resgate rápido.
Retornos acima do CDI e cenário de juros altos
Os FIDCs atraem investidores justamente por oferecerem rendimentos superiores ao CDI, referência do mercado de renda fixa. Em alguns casos, é possível encontrar fundos com retorno de 126% do CDI, o que representa um prêmio anual de 4% sobre a taxa básica.
No entanto, em um ambiente de juros elevados, pequenas empresas — principais emissoras dos recebíveis — enfrentam dificuldades financeiras, o que aumenta o risco de inadimplência. Ainda assim, as cotas subordinadas, que servem de proteção, permanecem sólidas e garantem a estabilidade dos fundos mais bem estruturados.
FIDCs como tendência de longo prazo
A consolidação dos FIDCs representa uma mudança estrutural no mercado financeiro brasileiro. O crescimento constante desse tipo de fundo indica uma maturidade maior do sistema de crédito privado e a busca dos investidores por diversificação com retorno real acima da inflação.
Especialistas acreditam que, nos próximos anos, os FIDCs ganharão ainda mais relevância, impulsionados pela inovação regulatória da CVM, pela expansão dos fundos de fundos e pelo avanço das plataformas digitais, que permitem acesso simplificado a produtos antes restritos ao público institucional.
FIDCs ganham protagonismo e se tornam nova fronteira de investimento
Com captação recorde, FIDCs deixam de ser uma opção de nicho e passam a ocupar posição central na indústria de fundos. O desempenho expressivo de 2025 mostra que os investidores estão em busca de alternativas à renda fixa tradicional, dispostos a correr um pouco mais de risco em troca de rentabilidade superior.
A tendência é que esses fundos continuem ganhando espaço nos próximos anos, consolidando-se como uma das principais ferramentas de financiamento corporativo e diversificação de portfólio no mercado brasileiro.






