Fraude no e-commerce cai para 3,39% no primeiro semestre e indica amadurecimento do varejo digital brasileiro
Redução no índice de fraude e aumento no valor médio das tentativas mostram um novo perfil de criminosos digitais, enquanto o setor reforça estratégias de segurança e tecnologia antifraude.
Cenário de transformação digital e segurança no e-commerce
O comércio eletrônico brasileiro registrou uma queda significativa no índice de fraude no e-commerce, que passou de 3,65% para 3,39% no primeiro semestre de 2025, segundo levantamento da Equifax BoaVista.
O dado revela uma tendência positiva para o setor, que avança em maturidade digital e investe cada vez mais em tecnologias de prevenção e inteligência de dados para mitigar riscos.
Apesar da redução percentual, o levantamento também mostra uma mudança importante no perfil das tentativas de fraude: o valor médio das transações fraudulentas bloqueadas cresceu 102%, alcançando R$ 2.033,42.
Ou seja, os criminosos estão agindo com menor frequência, mas mirando valores mais altos, especialmente em segmentos de alto ticket como eletrônicos, tecnologia e viagens.
Esse movimento reforça que o varejo digital brasileiro está mais preparado para identificar padrões suspeitos, mas que o crime digital se tornou mais sofisticado, exigindo respostas ainda mais avançadas das empresas.
O avanço da tecnologia antifraude e a adaptação do varejo
A queda no índice de fraude no e-commerce é reflexo direto do aumento do uso de ferramentas de autenticação, machine learning e análise comportamental.
Empresas estão ampliando o uso de sistemas que cruzam informações de comportamento do consumidor, localização e dados de pagamento para evitar prejuízos.
De acordo com o relatório, as transações aprovadas após análise cresceram 4,4%, e o valor total dessas operações aumentou 32% em relação ao mesmo período de 2024.
Esses números confirmam que, embora o setor esteja lidando com menos fraudes, a qualidade e segurança das vendas válidas melhorou, impulsionando a confiança dos consumidores e lojistas.
O crescimento do e-commerce nacional, aliado a políticas mais rígidas de compliance digital e LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), fortaleceu o ambiente de negócios online.
Hoje, o Brasil é considerado um dos mercados mais atentos à segurança de dados da América Latina.
Fraudadores mais seletivos e o impacto financeiro das tentativas
Mesmo com a queda na taxa geral de fraude no e-commerce, o estudo aponta que o ticket médio das tentativas aumentou.
Os fraudadores estão evitando ações em massa e concentrando esforços em operações de maior valor, principalmente envolvendo cartões de crédito corporativos, marketplaces e produtos eletrônicos premium.
Esse novo comportamento, segundo especialistas do setor, é típico de um ambiente mais controlado.
Os criminosos sabem que as plataformas utilizam inteligência artificial para detectar transações fora do padrão e, por isso, tentam agir em menor escala, porém com ganhos potenciais maiores.
Ainda assim, a resposta do mercado é rápida. A maior parte das tentativas de fraude de alto valor é bloqueada antes da confirmação do pagamento, graças à integração de sistemas de monitoramento com gateways de pagamento e plataformas antifraude.
A maturidade digital do consumidor brasileiro
O aumento na segurança do varejo online está também ligado à educação digital do consumidor brasileiro.
Nos últimos anos, houve uma conscientização crescente sobre o cuidado com dados pessoais, golpes de phishing, links falsos e promoções fraudulentas — práticas recorrentes em datas como Black Friday e Natal.
Campanhas de orientação, realizadas por entidades como ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) e Procon, ajudaram a popularizar boas práticas, como verificar a URL dos sites, desconfiar de ofertas irreais e utilizar apenas meios de pagamento seguros.
Além disso, consumidores estão mais atentos às políticas de privacidade e reputação das lojas virtuais, o que também pressiona os varejistas a manter padrões de segurança cada vez mais elevados.
Segmentos mais afetados pela fraude no e-commerce
Embora o índice geral de fraude no e-commerce tenha caído, setores específicos ainda apresentam maior vulnerabilidade.
Os mais afetados continuam sendo:
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Eletrônicos e informática – pela alta demanda e revenda fácil no mercado paralelo;
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Moda e calçados – que atraem tentativas por volume de pedidos;
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Alimentos e delivery – com foco em uso indevido de cupons e carteiras digitais;
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Serviços financeiros e gift cards – preferidos por fraudadores pela liquidez imediata;
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Marketplace de terceiros – que exige integração antifraude entre vendedores e plataformas.
A tendência, segundo o relatório, é que a concentração de fraudes em produtos de alto valor continue, mas o aperfeiçoamento tecnológico e a análise em tempo real sigam reduzindo o impacto financeiro dessas ações.
A importância da LGPD e do compliance digital
Desde a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o ambiente de comércio eletrônico brasileiro passou a operar sob regras mais rigorosas sobre o uso, armazenamento e compartilhamento de dados.
Essa regulação ajudou a diminuir o número de brechas exploradas por cibercriminosos e aumentou a responsabilidade das empresas em proteger os dados dos clientes.
Empresas que descumprem a legislação podem ser multadas em até 2% do faturamento anual, o que fez com que a governança digital se tornasse prioridade.
Hoje, grandes redes e marketplaces possuem equipes dedicadas exclusivamente à segurança da informação, que monitoram tentativas de acesso indevido e realizam auditorias internas contínuas.
A aplicação consistente da LGPD tem sido um dos principais fatores de redução de fraudes digitais no Brasil, tornando o país uma referência em segurança cibernética na América Latina.
O papel das fintechs e das plataformas de pagamento
Outro ponto relevante para a queda da fraude no e-commerce é a atuação das fintechs e dos provedores de pagamento digital, que investem fortemente em sistemas de verificação instantânea, tokenização de cartões e biometria facial.
Instituições financeiras como bancos digitais e operadoras de cartão ampliaram o uso de IA (inteligência artificial) para detectar padrões de comportamento anormais.
Essas tecnologias analisam em segundos dados como IP, localização, histórico de navegação e tempo de preenchimento de formulários, evitando que transações suspeitas sejam aprovadas.
A integração entre plataformas de pagamento e sistemas antifraude tornou o ambiente de compras mais seguro e eficiente, beneficiando consumidores e lojistas.
O desafio da próxima década: prever antes de reagir
Apesar dos avanços, especialistas alertam que o combate à fraude no e-commerce é um processo contínuo.
Com o crescimento do open banking, da tokenização de pagamentos e da internet das coisas (IoT), novas formas de transação surgem — e com elas, novos riscos.
O desafio do setor agora é antecipar-se às ameaças, com uso cada vez mais preditivo da tecnologia.
Empresas que adotam sistemas de detecção em tempo real e análise preditiva baseada em IA conseguem bloquear golpes antes que causem prejuízos.
Ao mesmo tempo, a cooperação entre instituições financeiras, órgãos públicos e empresas privadas é essencial para que o ambiente digital brasileiro continue crescendo de forma segura e sustentável.
A confiança como ativo do e-commerce brasileiro
O fortalecimento da segurança digital e a redução da fraude no e-commerce reforçam um ponto essencial: a confiança.
Em um cenário de competição acirrada, a confiança do consumidor é o ativo mais valioso de uma marca.
Empresas que investem em transparência, certificação e comunicação clara sobre segurança não apenas reduzem riscos, mas aumentam suas taxas de conversão e fidelização.
No ambiente online, reputação é sinônimo de rentabilidade.
Um avanço consistente, mas vigilante
A redução do índice de fraude no e-commerce para 3,39% é um marco para o varejo digital brasileiro.
Mostra que o setor está amadurecendo, aprendendo com os desafios e investindo em tecnologia e prevenção inteligente.
O aumento no valor das tentativas de fraude, por outro lado, demonstra que o crime cibernético evolui — e que o combate precisa ser constante.
A combinação de inteligência de dados, regulação eficaz e conscientização do consumidor continuará sendo o caminho para manter o comércio eletrônico como um dos motores mais seguros e dinâmicos da economia brasileira.






