Bolsonaro, hacker e generais: bastidores do golpe de Estado em 2022 são expostos em delação de Mauro Cid
As investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 revelaram novos e explosivos detalhes nesta segunda-feira (9). O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, prestou depoimento no STF e confirmou o encontro do ex-presidente com o hacker Delgatti Neto, condenado por invadir sistemas judiciais. A reunião teria sido intermediada pela deputada federal Carla Zambelli e envolveu também um general de alto escalão. Esses fatos reforçam as suspeitas de que houve uma articulação direta dentro do Palácio do Planalto para deslegitimar o processo eleitoral brasileiro.
Golpe de Estado em 2022: o papel de Delgatti Neto e Zambelli
Segundo a delação de Mauro Cid, o hacker Walter Delgatti Neto foi recebido por Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto em agosto de 2022. A pauta: a possibilidade de invadir o sistema de votação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O encontro foi articulado por Carla Zambelli, que também participaria de uma segunda reunião envolvendo um general ainda não identificado.
Essa aproximação entre o núcleo político do governo e um criminoso cibernético condenado levanta sérias questões sobre a estruturação do golpe de Estado em 2022. Delgatti teria sido consultado especificamente para apontar formas de fraude que pudessem minar a credibilidade das eleições.
Zambelli, aliás, foi recentemente condenada a 10 anos de prisão por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Após a sentença, deixou o país e agora figura na lista de difusão vermelha da Interpol. A Polícia Federal já formalizou seu pedido de extradição.
A movimentação no Planalto após a derrota eleitoral
Outro trecho impactante da delação de Cid trata do comportamento de Bolsonaro após a derrota nas urnas. Segundo ele, o ex-presidente tornou-se recluso e passou a se comunicar apenas por meio de seu então ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto. Essa cadeia de comando restrita visava manter o fluxo de informações sob controle, ao mesmo tempo em que era avaliada a possibilidade de subverter o resultado das eleições.
Cid relata que Braga Netto era o único a manter contato direto e diário com o presidente, funcionando como uma espécie de operador estratégico do suposto golpe de Estado em 2022. As informações que chegavam a Bolsonaro eram filtradas e monitoradas, criando um ambiente favorável para ações de ruptura institucional.
STF inicia interrogatórios do núcleo do golpe
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal deu início à fase de interrogatórios no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022. Mauro Cid foi o primeiro a depor, por ter firmado um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Jair Bolsonaro é o sexto da lista e deve ser ouvido entre os dias 10 e 11 de junho.
Além de Bolsonaro, também são réus na ação os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Anderson Torres; o deputado federal Alexandre Ramagem; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e o próprio Cid. Todos fazem parte do chamado “núcleo crucial” da organização golpista.
O general Braga Netto, preso no Rio de Janeiro, será interrogado por videoconferência. Sua fala será exibida no plenário do STF, em um telão. Ele terá direito a conversar previamente com seu advogado antes do depoimento.
A estruturação do núcleo do golpe de Estado em 2022
De acordo com os autos, o núcleo principal da tentativa de golpe de Estado em 2022 foi composto por membros do alto escalão do governo Bolsonaro. A denúncia aponta o ex-presidente como líder da articulação golpista. A estratégia envolvia desde a produção de narrativas falsas sobre fraude eleitoral até o incentivo à desobediência civil e mobilizações antidemocráticas.
A relação com Delgatti Neto exemplifica como o grupo tentou se municiar de argumentos técnicos — ainda que fraudulentos — para justificar uma possível intervenção militar ou decretação de estado de sítio. O objetivo final seria impedir a posse do presidente eleito e manter o poder sob controle da antiga gestão.
Carla Zambelli e o elo digital do plano golpista
A atuação de Carla Zambelli no contexto do golpe de Estado em 2022 vai além da simples intermediação. Sua participação ativa na aproximação entre Delgatti Neto e Jair Bolsonaro demonstra que ela era peça estratégica no braço digital do plano. Além da tentativa de invasão do sistema do CNJ, sua movimentação nos bastidores revela o papel que a desinformação e o ataque às instituições judiciais tinham na engrenagem golpista.
Zambelli continua foragida, e sua situação jurídica pode se agravar com o avanço das investigações e a consolidação das provas obtidas nos depoimentos e delações.
Bolsonaro, Moraes e o confronto jurídico
O ministro Alexandre de Moraes é o relator do processo que apura o golpe de Estado em 2022 e estará presente em todas as oitivas. A presença de Bolsonaro diante do magistrado, que foi frequentemente criticado pelo ex-presidente, marca um momento emblemático para o judiciário brasileiro. É a primeira vez desde o fim do mandato que Bolsonaro e seus principais aliados se reúnem em um mesmo ambiente institucional para prestar contas sobre a tentativa de ruptura democrática.
Implicações jurídicas e políticas para os réus
As declarações de Mauro Cid fortalecem a tese do Ministério Público Federal de que houve tentativa deliberada de subverter a ordem democrática. A existência de um plano estruturado, envolvendo autoridades políticas, militares e criminosos cibernéticos, torna o caso um dos mais graves da história republicana recente.
A depender do andamento dos interrogatórios e das novas provas que podem emergir, os réus enfrentam penas severas, além de ficarem inelegíveis por muitos anos. A repercussão internacional também aumenta, sobretudo com a inclusão de Zambelli na lista da Interpol e o envolvimento de autoridades militares de alta patente.
O que esperar dos próximos passos
A tentativa de golpe de Estado em 2022 continua sendo um dos episódios mais sombrios da política brasileira. As revelações feitas por Mauro Cid reacendem o debate sobre a necessidade de fortalecer as instituições democráticas e garantir a responsabilização daqueles que atentaram contra o Estado de Direito.
Com Bolsonaro prestes a depor e outros integrantes-chave sendo interrogados nos próximos dias, o país se aproxima de um momento decisivo para o futuro da democracia. A delação de Cid não apenas complica a situação jurídica dos envolvidos, mas também serve como alerta de que o risco à estabilidade institucional ainda é uma realidade concreta, especialmente em cenários polarizados.