Lucro da BYD tem maior queda em quatro anos e acende alerta sobre concorrência no mercado de veículos elétricos
A BYD, uma das maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo, registrou uma queda histórica de 32,6% no lucro do terceiro trimestre de 2025 (3T25) em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa é a maior retração em mais de quatro anos, marcando o segundo trimestre consecutivo de declínio e refletindo a crescente competição que a montadora enfrenta no mercado chinês.
Resultados financeiros da BYD no 3T25
De acordo com o comunicado financeiro divulgado pela empresa, o lucro líquido da BYD somou 7,8 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 1,10 bilhão), enquanto a receita caiu 3,1%, totalizando 195 bilhões de yuans. Esta foi a primeira queda de receita em mais de cinco anos, um sinal de alerta para investidores e analistas de mercado.
especialistas apontam que a desaceleração se deve, em grande parte, à pressão de preços e à guerra comercial interna travada entre fabricantes chinesas como Geely, Leapmotor e XPeng, que vêm ampliando suas ofertas de modelos elétricos com preços mais competitivos e foco no público de entrada.
Segundo dados de mercado, a participação da BYD no setor automotivo chinês caiu de 18% em 2024 para 14% em setembro de 2025, uma perda significativa em um país que representa mais de 60% da demanda global por carros elétricos.
Competição acirrada e margens comprimidas
O mercado chinês de veículos elétricos tornou-se o mais disputado do mundo, com mais de 100 marcas competindo diretamente. A BYD, que antes dominava amplamente o segmento, agora enfrenta margens de lucro comprimidas e necessidade de redução de preços para se manter relevante entre consumidores de classe média.
Analistas do setor apontam que o aumento na oferta de modelos acessíveis, como os novos compactos elétricos da Geely e da Leapmotor, forçou a BYD a realizar rodadas agressivas de descontos em modelos populares, como o Qin Plus, para manter seu ritmo de vendas.
Segundo o consultor automotivo Chen Wei, de Xangai, “a estratégia de preços baixos afeta diretamente a lucratividade de empresas consolidadas como a BYD, que possui custos industriais maiores devido à escala e ao volume de exportações”.
Queda nas vendas e redução na meta anual
O impacto competitivo levou a empresa a revisar sua meta de vendas para 2025, que foi reduzida em 16%, passando de 5,5 milhões para 4,6 milhões de veículos. Apesar disso, a BYD mantém perspectivas otimistas para o mercado externo, especialmente na Europa e América Latina, onde os incentivos para a eletrificação da frota seguem em expansão.
No acumulado de 2025, as vendas trimestrais da BYD apresentaram queda pela primeira vez desde 2020, acompanhando uma redução na produção em suas megafábricas, o que indica um cenário de desaquecimento momentâneo da demanda doméstica.
Estratégia internacional: foco em exportações e novos mercados
A BYD tem intensificado sua presença internacional, buscando reduzir a dependência do mercado chinês. A companhia projeta dobrar as exportações de veículos elétricos e híbridos plug-in em 2025, com destaque para países europeus e latino-americanos.
Entre os principais destinos estão Alemanha, França, Noruega, Reino Unido e Brasil, mercados onde a empresa já conquistou forte presença. No Brasil, a BYD lidera o segmento de elétricos e planeja expandir sua fábrica em Camaçari (BA) para produzir modelos voltados à América do Sul.
Em outubro de 2025, a montadora anunciou o lançamento de um novo mini-EV no Japão, apresentado durante o Japan Mobility Show, como parte de sua estratégia de penetração no mercado asiático. O modelo é voltado a consumidores urbanos que buscam praticidade e baixo custo de manutenção.
BYD no Japão e o desafio de conquistar consumidores tradicionais
A entrada da BYD no mercado japonês é considerada estratégica, mas desafiadora. O país é dominado por marcas locais como Toyota e Honda, além de uma cultura automotiva fortemente nacionalista. Ainda assim, a fabricante chinesa acredita que seus mini-EVs podem conquistar espaço entre motoristas que priorizam eficiência energética e mobilidade urbana.
De acordo com a consultora de mobilidade Hiroko Yamazaki, de Tóquio, “a BYD chega com preços 20% menores que os dos concorrentes japoneses e foco em tecnologia de bateria Blade, que oferece maior autonomia e segurança”.
Essa estratégia pode render bons frutos, principalmente em cidades que incentivam veículos elétricos com isenção de taxas e estacionamento gratuito.
Tecnologia e inovação continuam no centro da estratégia
Mesmo diante da desaceleração, a BYD segue investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A empresa destinou mais de 12 bilhões de yuans em 2025 para inovação em baterias, chips e inteligência veicular, buscando manter vantagem competitiva frente a rivais internacionais como Tesla e Volkswagen.
A companhia também aposta em sua bateria Blade, que se tornou referência global por sua resistência térmica e durabilidade, reduzindo riscos de explosão e aumentando a eficiência energética.
No Brasil, a tecnologia será aplicada em modelos que serão produzidos localmente a partir de 2026, reforçando o papel estratégico do país nas operações latino-americanas da marca.
Análise de especialistas: a BYD ainda é dominante, mas o alerta está aceso
Para analistas financeiros, a queda de lucro não representa necessariamente um colapso da empresa, mas um ajuste natural em meio à maturação do mercado de veículos elétricos.
O economista Zhang Hui, da Universidade de Pequim, explica que “a BYD está migrando de um crescimento exponencial para uma fase de consolidação e eficiência”. Segundo ele, os próximos trimestres devem mostrar uma retomada gradual, apoiada pela expansão internacional e novos lançamentos.
Já o especialista em mercado automotivo Marcus Silva, da consultoria brasileira Auto Insight, destaca que “a BYD possui fôlego financeiro, escala industrial e liderança tecnológica suficientes para suportar períodos de pressão de margens — algo que startups do setor dificilmente conseguiriam”.
Perspectivas para 2026: equilíbrio entre preço, inovação e margem
O desafio da BYD, segundo analistas, será equilibrar inovação e rentabilidade. A empresa deve manter sua liderança em vendas globais, mas precisará adotar uma política de contenção de custos e segmentação de portfólio mais precisa.
O mercado global de veículos elétricos continua crescendo, impulsionado por políticas ambientais, aumento da infraestrutura de recarga e queda no preço das baterias. Ainda assim, a competitividade também cresce, e o espaço para erros estratégicos se torna cada vez menor.
Para 2026, a expectativa é de retomada de crescimento nos lucros, especialmente com o aumento das exportações e o fortalecimento das operações na Europa, Japão e Brasil.
Enquanto isso, investidores seguem atentos aos próximos balanços da montadora — que, mesmo com a maior queda no lucro em quatro anos, segue líder mundial em vendas de carros elétricos.






