Exportação de soja brasileira dispara com guerra comercial EUA-China e coloca país em posição estratégica
Por Redação Economia Agrícola
A disputa comercial entre Estados Unidos e China tem gerado impactos significativos no mercado global, mas, surpreendentemente, um dos grandes beneficiados é o produtor de soja brasileiro. A imposição de tarifas adicionais pelos EUA sobre produtos chineses levou Pequim a suspender completamente a compra da oleaginosa americana, abrindo espaço para que o Brasil aumente sua presença no principal mercado consumidor mundial.
A tendência atual indica que a exportação de soja brasileira para a China deve alcançar novos recordes nos próximos meses, reforçando o país como líder global no fornecimento da commodity. Em setembro de 2025, as vendas brasileiras de soja para o gigante asiático registraram alta de 57,1% em comparação ao mesmo período do ano passado, consolidando a força do agronegócio nacional.
Tarifa americana aumenta competitividade da soja brasileira
O cenário começou a se desenhar em fevereiro, quando o governo de Donald Trump impôs uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses. Como resposta, a China aplicou taxas de 10% a 15% sobre diversas mercadorias americanas, incluindo commodities estratégicas como a soja, tornando o preço do grão norte-americano menos competitivo.
Essa mudança abriu espaço para a exportação de soja brasileira, cuja competitividade frente ao produto americano passou a ser um diferencial decisivo para importadores chineses. Desde maio, o país asiático não adquiriu mais soja dos EUA, substituindo o produto por importações do Brasil e, em menor escala, da Argentina.
China: maior importador mundial de soja
A China é responsável por 61,1% das importações globais de soja, suprindo apenas 15% de sua demanda com produção interna. O restante, 85%, depende de grãos importados, utilizados principalmente na produção de ração animal para suínos e aves.
Em 2024, o Brasil forneceu 71,1% das importações chinesas, enquanto os Estados Unidos responderam por 21,1%. Argentina e Uruguai completam a lista de exportadores, porém com volumes significativamente menores, de 4,1 milhões e 2,02 milhões de toneladas, respectivamente. Esses números reforçam a importância estratégica do país sul-americano na cadeia global de suprimento da soja.
Impactos da guerra comercial na dinâmica do mercado
A suspensão das compras chinesas de soja americana evidencia os efeitos diretos da guerra comercial sobre o setor agrícola. Produtores norte-americanos enfrentam frustração e perdas financeiras, enquanto o Brasil se consolida como principal fornecedor para o mercado chinês.
As vendas brasileiras de soja aumentaram mês a mês em 2025: em julho foram exportadas 9,6 milhões de toneladas, alta de 7,4% em relação a 2024; agosto registrou 7,9 milhões de toneladas, 33,9% superior ao ano anterior; e setembro alcançou 6,8 milhões de toneladas, 57,1% acima do mesmo mês de 2024.
Do total exportado em setembro, 92,3% teve a China como destino, consolidando a liderança brasileira. Essa escalada, no entanto, traz desafios relacionados à dependência de um único mercado, riscos climáticos e pressão sobre o estoque interno.
Riscos para a produção e mercado interno
O crescimento da exportação de soja brasileira enfrenta riscos climáticos e estruturais. Fenômenos como El Niño e La Niña podem afetar a produtividade nas principais regiões produtoras, enquanto pressões sobre fertilizantes, defensivos e frete aumentam os custos de produção. Além disso, a capacidade de armazenagem do país tem se mostrado insuficiente diante da crescente produção, exigindo investimentos estratégicos em infraestrutura.
A safra 2025/26, segundo especialistas, depende da regularidade das precipitações durante fases críticas como plantio, floração e enchimento de grãos. Qualquer irregularidade pode comprometer o desempenho das lavouras e impactar a disponibilidade de soja para o mercado interno.
Impactos no setor industrial brasileiro
O aumento da exportação de soja brasileira também afeta a indústria de esmagamento, responsável pela produção de farelo e óleo essenciais para a alimentação animal e o setor de proteínas. Com mais grãos destinados ao exterior, a oferta interna se reduz, elevando os preços do farelo e pressionando margens de indústrias que dependem do insumo.
O Cepea (USP) indica que indústrias esmagadoras já enfrentam dificuldades para adquirir novos lotes no mercado à vista, evidenciando a necessidade de equilíbrio entre exportação e abastecimento doméstico.
Histórico de liderança brasileira no mercado chinês
O Brasil vem consolidando sua liderança nas exportações de soja para a China desde o primeiro mandato de Donald Trump. Em 2017, a participação brasileira nas importações chinesas chegou a 53,3%, enquanto os EUA ficaram com 34,4%. Com as tarifas sobre a soja americana implementadas em 2018, o Brasil atingiu 75,1% do mercado chinês, com os EUA caindo para 18,9%.
Mesmo após o acordo comercial “Fase Um” entre EUA e China, que previa compras adicionais de soja americana, o país asiático manteve-se fortemente dependente do grão brasileiro. Em 2024, 71,1% da soja importada pela China veio do Brasil, enquanto os EUA representaram apenas 21,1%.
Perspectivas futuras e desafios estratégicos
Manter o ritmo da exportação de soja brasileira nos próximos anos exigirá enfrentar riscos climáticos, ambientais e de mercado, além de investir em infraestrutura e tecnologia. A concentração das exportações em um único cliente aumenta a vulnerabilidade a mudanças geopolíticas e acordos comerciais entre Estados Unidos e China.
O Brasil precisa equilibrar suas vendas externas com a demanda interna, garantindo que a indústria de proteínas e a produção de farelo não sofram escassez. A aceleração em investimentos logísticos, armazenagem e inovação tecnológica será crucial para sustentar a liderança global da soja brasileira.
A guerra comercial EUA-China colocou o Brasil em uma posição estratégica como fornecedor global de soja. a exportação de soja brasileira atingiu volumes recordes em 2025 e deve manter-se em alta, beneficiando produtores, fortalecendo o agronegócio e elevando a relevância do país no mercado internacional. Entretanto, a dependência do mercado chinês e os desafios climáticos e estruturais exigem planejamento estratégico e investimentos contínuos para garantir a sustentabilidade e competitividade do setor.






