Nubank x Febraban: o que está por trás da nova disputa que agita o sistema financeiro brasileiro
A mais recente controvérsia envolvendo Nubank x Febraban expôs uma fratura que há anos se desenha no setor bancário: a disputa direta entre o modelo digital das fintechs, baseado em eficiência operacional e rápida expansão, e a estrutura tradicional das instituições financeiras consolidadas. O embate ganhou intensidade após a publicação de dados fiscais pelo CEO do Nubank, David Vélez, destacando o volume de tributos pagos pela instituição entre janeiro e setembro de 2025. O gesto, interpretado pelos bancões como uma provocação, desencadeou uma reação imediata da federação que representa o setor.
Com o avanço das fintechs sobre o mercado de crédito, pagamentos e investimentos, o confronto entre inovação e tradição tornou-se inevitável. Mas, no caso específico de Nubank x Febraban, o episódio simboliza algo maior: uma disputa narrativa pela legitimidade no debate público sobre tributação, concorrência e o futuro da intermediação financeira no Brasil.
O início da crise: dados fiscais e a resposta dos bancões
A mais recente fase da disputa Nubank x Febraban começou quando Vélez divulgou um gráfico detalhando os tributos recolhidos pela fintech no período de janeiro a setembro. Segundo os números apresentados, o Nubank teria desembolsado R$ 8,2 bilhões em Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, superando quatro dos maiores bancos tradicionais do País.
A comparação, direta e sem mediações, foi suficiente para provocar reação imediata da Febraban. A entidade demonstrou incômodo, sugerindo que a publicação evitou um debate transparente e deixando no ar uma série de questionamentos sobre a estrutura tributária da fintech. A partir daí, Nubank x Febraban tornou-se o centro das discussões no setor.
O incômodo dos bancos tradicionais não se resume ao conteúdo da postagem, mas ao impacto que ela produz na opinião pública. Em um ambiente em que a percepção de quem “paga mais impostos” influencia o debate sobre justiça fiscal, a comparação reforçou a imagem do Nubank como instituição eficiente, moderna e comprometida com a inclusão financeira.
Tributação e competição: os argumentos em disputa
Para entender a complexidade do embate Nubank x Febraban, é preciso analisar como funcionam os regimes tributários das instituições financeiras e das fintechs. A crítica mais frequente dos bancos tradicionais envolve a diferença de estrutura e, sobretudo, a ausência de licença bancária completa por parte do Nubank no Brasil — um ponto que a Febraban frequentemente utiliza para levantar dúvidas sobre a equiparação das obrigações fiscais entre as empresas.
A federação argumenta que o Nubank, apesar de grande participação no crédito, não suporta as mesmas exigências de capital e regulação impostas aos bancos tradicionais. Além disso, destaca que a fintech mantém sede fiscal nas Ilhas Cayman, o que levantou questionamentos quanto à destinação dos lucros obtidos no mercado nacional. Essa linha de ataque se tornou peça central na disputa Nubank x Febraban, ampliando o debate sobre o papel das fintechs no ecossistema financeiro.
O Nubank, por sua vez, reforça que segue todas as normas vigentes, recolhe impostos de acordo com a legislação e gera empregos e inclusão. Para a empresa, trata-se de romper narrativas que tentam deslegitimar o modelo digital em um momento de transformação estrutural do setor.
A inadimplência como combustível do conflito
Outro aspecto explorado pela Febraban refere-se à inadimplência. A entidade sugere que o modelo adotado pelo Nubank, com juros mais altos em determinados produtos e maior risco assumido na concessão de crédito, pode comprometer a sustentabilidade do sistema no longo prazo. No discurso dos bancões, a fintech cobra juros elevados, tolera inadimplência crescente e, por isso, não poderia ser comparada diretamente às instituições tradicionais.
Esse argumento reforça a imagem de um setor em disputa: de um lado, a flexibilidade das plataformas digitais; de outro, o conservadorismo sustentável dos bancos com décadas de atuação. Em Nubank x Febraban, a inadimplência se transformou em munição retórica, usada para reforçar a ideia de que o modelo digital ainda carece de maturidade regulatória.
Reação pública e a construção da imagem das marcas
A forma como Nubank x Febraban se desenrolou reflete também a disputa por reputação. O Nubank, que consolidou sua imagem como banco digital inovador, acessível e voltado às classes emergentes, costuma atrair a simpatia de consumidores que se enxergam em sua proposta de inclusão financeira. A Febraban, ao contrário, tende a representar os interesses dos bancos tradicionais, que têm enfrentado resistência pública em debates sobre tarifas e lucros.
O embate, portanto, tem impacto direto na percepção das marcas. O Nubank reforça sua narrativa de eficiência, transparência e modernidade, enquanto a Febraban tenta reassumir o espaço de defensora da estabilidade, da responsabilidade fiscal e da regulação equilibrada.
Na disputa Nubank x Febraban, vence quem conquista a narrativa — e, por enquanto, o debate continua aberto.
A nova regulamentação do Banco Central e o futuro da marca
O conflito ganhou mais nuances com a recente regulamentação do Banco Central que estabelece limitações ao uso dos termos “banco” e “bank” por empresas sem licença bancária. Como o Nubank ainda não possui essa licença, poderá ser obrigado a alterar sua marca caso não conclua o processo até 2026.
O tema, sensível e estratégico, tornou-se mais uma camada da disputa Nubank x Febraban. Enquanto a legislação resgata conceitos históricos de proteção ao consumidor e organização do sistema financeiro, o Nubank corre para ajustar sua estrutura regulatória e preservar o valor de uma marca já consolidada globalmente.
A expectativa do mercado é que a fintech obtenha a licença dentro do prazo, evitando uma mudança abrupta de identidade. Ainda assim, o debate mostra como a expansão das plataformas digitais levou o regulador a redefinir fronteiras que antes pareciam claras.
Inovação, mercado e a visão estratégica da fintech
No cerne da disputa Nubank x Febraban está a transformação estrutural do mercado financeiro. O Brasil tornou-se um dos ecossistemas mais inovadores do mundo em serviços bancários digitais, com Pix, open finance e cartões sem anuidade. Nesse contexto, fintechs conseguiram avançar sobre nichos antes dominados pelos grandes bancos.
A ascensão do Nubank responde a uma lacuna histórica: milhões de brasileiros passaram a ter acesso a crédito e produtos financeiros sem burocracia excessiva. Esse movimento, porém, inevitavelmente ameaça a hegemonia de instituições tradicionais, o que explica parte da tensão atual.
A disputa Nubank x Febraban não representa apenas divergências tributárias. Trata-se de um choque de modelos: um digital, ágil e orientado por dados; outro robusto, altamente regulado e fundamental para a estabilidade sistêmica.
Um setor em transformação
O episódio mostra como o setor financeiro está diante de um redesenho profundo. Reguladores discutem novos limites, bancos investem em digitalização acelerada e fintechs buscam ampliar sua robustez institucional.
Diante desse cenário, Nubank x Febraban pode ser apenas o primeiro capítulo de uma disputa mais ampla pela definição de qual modelo será dominante nas próximas décadas. A competição entre as instituições, longe de ser apenas uma troca de declarações, moldará tarifas, taxas de juros, produtos financeiros e a própria relação dos consumidores com o sistema bancário.
O Brasil acompanha de perto, porque o desfecho desse embate terá impacto direto no bolso de milhões de pessoas.






