Moraes considera “não pertinente” pedido de avaliação médica para Bolsonaro
Por Gazeta Mercantil — Brasília
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), avaliou que não é o momento processual adequado para analisar o pedido do Governo do Distrito Federal (GDF) que solicita uma avaliação médica sobre as condições de saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para eventual cumprimento de pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
A solicitação havia sido enviada pela Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seape), sob o argumento de que seria necessário atestar a “compatibilidade” entre o estado clínico de Bolsonaro e as condições carcerárias da unidade prisional. Moraes, no entanto, entendeu que o pedido é “não pertinente” neste momento e determinou sua retirada da ação penal referente ao núcleo central da trama golpista.
A decisão ocorre em meio à fase de recursos da condenação do ex-presidente, que ainda depende da análise da Primeira Turma do STF antes de uma eventual execução de pena. Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pelos crimes de golpe de Estado e organização criminosa, e o local de cumprimento da pena só será definido após o esgotamento dos recursos.
Pedido de avaliação médica e a resposta de Moraes
O pedido formal foi assinado pelo secretário da Seape, Wenderson Souza e Teles, e encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes. O documento justificava a solicitação pela proximidade do julgamento dos recursos relacionados ao caso da tentativa de golpe e pela possibilidade de que um ou mais réus sejam transferidos para o sistema penitenciário do DF.
No ofício, a Seape destacou o histórico de cirurgias abdominais e o estado de saúde recente de Bolsonaro, que passou por procedimentos médicos em 2025, após complicações derivadas de um atentado sofrido durante a campanha presidencial de 2018.
Apesar das alegações, Moraes considerou que a análise sobre a adequação médica do ex-presidente à Papuda só será necessária após a conclusão definitiva do processo criminal. Até o momento, Bolsonaro permanece em prisão domiciliar, determinada em outra ação, e não há execução imediata da pena.
Julgamento e próximos passos no STF
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começa a julgar, nesta sexta-feira (7), o recurso da defesa do ex-presidente. O julgamento ocorrerá no plenário virtual da Corte, e o resultado poderá ser divulgado nos próximos dias.
Ainda cabe mais um recurso antes do trânsito em julgado, ou seja, o encerramento definitivo do processo. Apenas depois disso Moraes decidirá o local onde Bolsonaro cumprirá a pena — seja no Complexo da Papuda ou em instalações da Polícia Federal (PF).
Nos bastidores do STF, há expectativa de que a execução da pena comece até o fim de 2025, dependendo da tramitação do processo e da avaliação sobre o cumprimento dos requisitos legais.
Como é o Complexo Penitenciário da Papuda
O Complexo Penitenciário da Papuda, localizado no Distrito Federal, é uma das maiores unidades prisionais do país. Formado por cinco estabelecimentos de segurança máxima e média, o local abriga milhares de presos em diferentes regimes.
Entre as instalações mais conhecidas está o Centro de Detenção Provisória (CDP), com capacidade para 1,6 mil detentos, incluindo réus que aguardam julgamento. Há também uma ala reservada para presos considerados vulneráveis, como políticos, policiais e idosos, que poderiam sofrer ameaças, extorsões ou retaliações de outros internos.
Essa ala especial, conhecida como Bloco 5, Ala B, conta com celas de aproximadamente 30 m², equipadas com beliches, chuveiro, vaso sanitário e ventilação natural.
Os internos têm direito a quatro refeições diárias — café da manhã, almoço, jantar e lanche noturno —, além de duas horas de banho de sol em área monitorada.
Caso Bolsonaro venha a cumprir pena no local, é provável que seja alocado nessa área especial, como ocorreu com outros políticos condenados em operações anteriores, a exemplo de ex-deputados e ministros.
Bolsonaro cumpre prisão domiciliar preventiva
Atualmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar preventiva em sua residência no Jardim Botânico, em Brasília. A medida foi decretada em agosto de 2025 por Alexandre de Moraes, no âmbito de outra investigação relacionada a ações de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL), nos Estados Unidos.
Essa prisão está vinculada a atos de obstrução de investigações e supostas tentativas de comunicação com investigados em casos envolvendo ataques às instituições democráticas brasileiras.
Na prática, Bolsonaro não pode deixar sua residência, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, e só recebe autorização judicial para atendimentos médicos, visitas de advogados ou familiares diretos.
Estado de saúde e histórico médico do ex-presidente
Desde o atentado a faca em 2018, durante campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro realizou diversas cirurgias abdominais e passou por internações regulares para tratar complicações intestinais.
Em setembro de 2025, o ex-presidente foi submetido a um procedimento dermatológico e deixou o hospital após breve internação. Segundo boletins médicos da época, ele apresentava condições estáveis, mas continua sob acompanhamento clínico.
A equipe médica da Seape citou esse histórico como justificativa para a necessidade de uma avaliação prévia antes de eventual transferência à Papuda, onde o regime prisional exige adaptação física e psicológica.
O papel do Governo do Distrito Federal no caso
O Governo do Distrito Federal tem papel operacional na execução de penas e na gestão das unidades prisionais, mas não pode interferir diretamente nas decisões judiciais sobre o local de cumprimento das sentenças.
A solicitação de avaliação médica foi considerada preventiva e administrativa, mas a resposta de Moraes deixou claro que a análise médica será feita somente se a execução da pena for determinada.
Na prática, isso significa que o DF precisará aguardar a decisão final do STF antes de qualquer movimento administrativo ou médico relacionado ao ex-presidente.
Expectativas e possíveis cenários
Com a condenação de 27 anos e três meses de prisão em regime fechado, Bolsonaro enfrenta uma das sentenças mais severas já aplicadas a um ex-chefe de Estado brasileiro.
Os advogados de defesa tentam reduzir a pena e recorrer da condenação, alegando inconsistências no processo e motivações políticas.
Nos bastidores, há discussão sobre qual seria o local mais adequado para o cumprimento da pena, caso a condenação se torne definitiva. Entre as opções avaliadas estão:
-
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília – por ser a unidade padrão para condenados em instâncias federais;
-
Instalações da Polícia Federal, também em Brasília – onde há espaço reservado para presos de alta periculosidade ou relevância política;
-
Estabelecimento prisional militar, hipótese remota, já que Bolsonaro foi condenado por crimes comuns, não militares.
A definição caberá exclusivamente ao ministro Alexandre de Moraes no momento da expedição da ordem de prisão definitiva.
Contexto político e jurídico
A condenação de Bolsonaro teve repercussão internacional, reacendendo o debate sobre a responsabilidade de ex-líderes por ataques à democracia.
No Brasil, o julgamento foi conduzido pelo STF em setembro de 2025 e contou com voto unânime dos ministros. A sentença incluiu multa, perda dos direitos políticos e inelegibilidade por 30 anos.
Desde então, o ambiente político brasileiro segue polarizado, com manifestações tanto de apoio quanto de repúdio à decisão.
Analistas apontam que a resposta de Moraes ao pedido do GDF demonstra a intenção do ministro de manter o rito processual rigoroso, evitando decisões precipitadas enquanto ainda há recursos pendentes de análise.
O que vem a seguir
Com o julgamento de recursos previsto para esta semana, o processo entra em sua fase final no Supremo Tribunal Federal.
Caso o STF mantenha a condenação, o próximo passo será a execução da pena, com definição do local de prisão e eventual perícia médica obrigatória para verificar as condições clínicas do ex-presidente.
Até lá, Bolsonaro permanecerá em prisão domiciliar, enquanto a Seape e o GDF aguardam novas instruções do STF sobre o procedimento adequado.






