Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos? Mercado financeiro avalia cenário político, fiscal e eleitoral
A pergunta que domina conversas na Faria Lima, em mesas de operação e entre investidores pessoa física é direta e ambiciosa: Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos? A projeção, que até poucos anos atrás soaria exagerada, passou a ser tratada com mais seriedade diante de mudanças no cenário macroeconômico, do comportamento do capital estrangeiro e, sobretudo, das expectativas em torno das eleições presidenciais de 2026.
Na avaliação do CEO e estrategista-chefe da Empiricus Research, Felipe Miranda, a bolsa brasileira já começa a refletir um conjunto complexo de forças que vão muito além de discursos ideológicos ou promessas de campanha. Segundo ele, tanto a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 quanto a de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 não foram vitórias ancoradas, de fato, em agendas políticas estruturadas, mas sim no sentimento de rejeição ao adversário.
Esse diagnóstico ajuda a compreender por que o debate sobre se o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos está cada vez mais associado a expectativas fiscais, credibilidade institucional e posicionamento do Brasil no cenário global, e não apenas ao nome que ocupará o Palácio do Planalto.
Eleições passadas e o peso da rejeição no voto
Felipe Miranda avalia que existe um erro recorrente na leitura política feita pelo mercado e pela opinião pública. Para ele, a análise das últimas eleições presidenciais no Brasil costuma superestimar o papel das agendas econômicas formais dos candidatos.
Em 2018, havia dois projetos claramente apresentados. De um lado, a proposta associada ao Partido dos Trabalhadores, com maior presença do Estado, ampliação de políticas sociais e aumento da carga tributária. Do outro, uma agenda liberal, capitaneada por Paulo Guedes, com privatizações, reformas estruturais e redução do papel estatal na economia.
Ainda assim, na visão do estrategista, o fator decisivo não foi a adesão a uma dessas plataformas. O que prevaleceu foi o sentimento antipetista, que acabou conduzindo Jair Bolsonaro à vitória. O mesmo fenômeno, segundo ele, se repetiu em 2022, em sentido inverso, quando o antibolsonarismo foi determinante para o retorno de Lula ao poder.
Essa leitura é central para entender por que o mercado financeiro tende a reagir mais à percepção de risco e rejeição do que às promessas eleitorais. E é justamente essa lógica que influencia as apostas sobre se o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos nos próximos anos.
A reação inicial do mercado à eleição de Lula
Quando Lula venceu a eleição de 2022, a reação inicial da bolsa brasileira foi surpreendentemente positiva. O mercado internacional enxergou naquele momento a possibilidade de um governo de frente ampla, com compromisso institucional e diálogo com diferentes setores.
Miranda recorda que Lula, em seus dois primeiros mandatos, foi responsável por um período em que investidores estrangeiros obtiveram retornos expressivos no Brasil, especialmente entre 2003 e 2007. Essa memória histórica pesou na leitura inicial do mercado, que precificou um cenário de previsibilidade e estabilidade.
No entanto, com o avanço do terceiro mandato, o cenário se alterou. Segundo o estrategista, a condução fiscal considerada frouxa e o aumento do intervencionismo estatal deterioraram a imagem do governo junto ao mercado financeiro ao longo de 2024 e 2025. O resultado foi uma frustração crescente entre investidores que esperavam maior responsabilidade fiscal.
Esse saldo negativo, na avaliação de Miranda, ajuda a explicar por que a discussão sobre se o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos passou a depender cada vez mais de uma eventual mudança de direção política a partir de 2027.
A bolsa já está precificando as eleições de 2026?
Uma das questões centrais levantadas pelo estrategista é se o mercado financeiro brasileiro já estaria antecipando o cenário eleitoral de 2026. A resposta, segundo ele, é mais cautelosa do que muitos imaginam.
Embora as eleições presidenciais sejam, sem dúvida, uma força relevante, elas ainda atuam em conjunto com outros fatores que influenciam o desempenho da bolsa. Entre eles estão o fluxo de capital para mercados emergentes, as expectativas de queda nas taxas de juros, discussões sobre tributação de dividendos e o ambiente global de liquidez.
Nesse contexto, Miranda afirma que o peso do cenário eleitoral tende a se intensificar a partir do segundo trimestre do próximo ano. A partir de abril, o processo político ganha contornos mais definidos e pode funcionar como um divisor de águas para o mercado, especialmente se houver sinalização clara sobre o compromisso fiscal do próximo governo.
É nesse ponto que a hipótese de que o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos passa a ser tratada com maior convicção por parte de analistas e gestores.
O favoritismo de Tarcísio de Freitas na Faria Lima
Não é segredo que parte significativa do mercado financeiro demonstra simpatia por uma candidatura associada a uma agenda mais liberal nas eleições de 2026. Nesse cenário, o nome mais citado é o do atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Para Felipe Miranda, uma eventual vitória de um candidato identificado com a direita econômica representaria uma inflexão importante na condução da política fiscal e regulatória do país. A expectativa seria de maior austeridade nas contas públicas, avanço em privatizações, revisão de marcos regulatórios e um esforço para integrar o Brasil de forma mais competitiva às cadeias globais de suprimentos.
Caso esse movimento se confirme, o estrategista não hesita em projetar um cenário bastante otimista para a bolsa brasileira. Segundo ele, uma guinada clara à direita no comando do Executivo poderia levar o mercado acionário a patamares inéditos, reforçando a tese de que o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos ou até ultrapassar esse nível.
O olhar do investidor estrangeiro
Apesar do entusiasmo de parte do mercado local com a possibilidade de uma mudança de governo, Miranda faz uma ressalva importante. Para o investidor estrangeiro, as diferenças entre os principais candidatos à Presidência do Brasil tendem a ser percebidas de forma menos dramática.
Na avaliação externa, o Brasil continua sendo um país com instituições relativamente sólidas, independentemente de quem esteja no poder. O estrategista resume essa visão ao afirmar que nenhum dos principais nomes do cenário político levará o país a extremos comparáveis aos de economias altamente intervencionistas ou excessivamente desenvolvidas.
Essa percepção ajuda a explicar por que o fluxo estrangeiro pode continuar relevante mesmo em cenários de maior incerteza política. Ainda assim, uma sinalização clara de compromisso fiscal e previsibilidade tende a acelerar esse movimento, fortalecendo a tese de valorização do mercado acionário e alimentando a discussão sobre se o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos.
A dificuldade crescente de reeleição no mundo
Outro ponto destacado por Felipe Miranda é a tendência global de enfraquecimento dos incumbentes. Segundo ele, ocupar o poder deixou de ser uma vantagem automática em disputas eleitorais. Em muitos países, a máquina pública passou a ser vista como um peso, especialmente em contextos de desaceleração econômica e pressão fiscal.
Esse fenômeno se reflete em derrotas de governos em exercício em diversas regiões do mundo e reforça a percepção de que mudanças políticas são cada vez mais prováveis. No Brasil, esse ambiente aumenta a incerteza, mas também abre espaço para expectativas de renovação, o que pode ser interpretado de forma positiva pelo mercado.
A virada à direita na América Latina
O estrategista também chama atenção para um movimento mais amplo observado na América Latina. Nos últimos anos, países da região têm registrado uma guinada à direita em seus governos, impulsionada por insatisfação com modelos econômicos intervencionistas e pela busca por maior disciplina fiscal.
Casos recentes incluem a eleição de Javier Milei na Argentina, a ascensão de lideranças conservadoras em outros países andinos e mudanças relevantes no cenário político chileno. Esse contexto regional influencia a percepção de risco e oportunidade para investidores globais, que passam a olhar a América Latina com uma lente diferente.
Para o Brasil, esse ambiente pode representar uma janela de oportunidade. Se o país conseguir alinhar estabilidade política, responsabilidade fiscal e integração internacional, o cenário para a bolsa se torna ainda mais favorável, reforçando a narrativa de que o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos em um horizonte não tão distante.
O que sustenta um Ibovespa em 200 mil pontos
A projeção de um Ibovespa acima de 200 mil pontos não depende de um único fator. Trata-se da convergência de diversos vetores: queda estrutural de juros, retomada do crescimento econômico, controle da dívida pública, fortalecimento institucional e um ambiente político que reduza incertezas.
Além disso, o mercado brasileiro ainda negocia a múltiplos considerados atrativos em comparação com outras bolsas globais. Isso amplia o potencial de valorização caso o fluxo estrangeiro se intensifique e a confiança no país aumente.
Nesse sentido, a pergunta Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos deixa de ser apenas uma provocação e passa a representar um cenário plausível, desde que determinadas condições sejam atendidas.
Um cenário de oportunidades e riscos
O debate sobre o futuro do Ibovespa sintetiza as contradições do momento econômico brasileiro. De um lado, há desafios fiscais, disputas políticas e incertezas globais. De outro, existe um mercado profundo, empresas competitivas e uma economia com potencial de crescimento.
Para investidores, o recado de Felipe Miranda é claro: mais importante do que apostar em nomes ou slogans é compreender os fundamentos que sustentam o mercado. Se houver uma sinalização consistente de responsabilidade fiscal e compromisso com reformas, o caminho para patamares históricos se abre.
Assim, a discussão sobre se o Ibovespa pode chegar a 200 mil pontos permanece em aberto, mas cada vez mais fundamentada em análises estruturais e menos em expectativas puramente ideológicas.






