Mercados reagem a novos dados econômicos dos Estados Unidos; investidores monitoram dólar, juros e cenário fiscal no Brasil
O Ibovespa iniciou a quarta-feira (8) sob forte influência do ambiente internacional. O principal índice da Bolsa de Valores brasileira encerrou o pregão anterior em queda de 1,57%, a 141.356,43 pontos, refletindo o aumento da aversão ao risco global após a divulgação de um relatório do Federal Reserve (Fed) de Nova York que acendeu alertas sobre a inflação e o mercado de trabalho norte-americano.
De acordo com a Pesquisa de Expectativas do Consumidor do Fed, os entrevistados elevaram suas projeções para o desemprego e para a inflação nos próximos 12 meses, indicando um cenário mais desafiador para a economia dos EUA. O levantamento foi concluído antes da paralisação do governo americano, o que ampliou seu peso nas análises dos investidores.
A leitura negativa do relatório aumentou o temor de que o Fed mantenha as taxas de juros elevadas por mais tempo, o que pressionou os mercados acionários ao redor do mundo, incluindo o Brasil.
Mercados internacionais operam em baixa após relatório do Fed de Nova York
Os principais índices de Wall Street encerraram o pregão de ontem no vermelho. O Dow Jones caiu 0,20%, aos 46.602,98 pontos, enquanto o S&P 500 recuou 0,38%, a 6.714,59 pontos. O Nasdaq, mais sensível às empresas de tecnologia, registrou a maior perda do dia, com queda de 0,67%, para 22.788,36 pontos.
A piora no humor dos investidores foi impulsionada pelo temor de que o ciclo de cortes de juros nos EUA possa ser adiado. Com a ausência de novos indicadores oficiais devido à paralisação do governo, o relatório do Fed passou a ser visto como um importante termômetro para a política monetária norte-americana.
Ibovespa fecha em queda e amplia perdas na semana
No Brasil, o Ibovespa seguiu o movimento internacional e encerrou o dia em queda expressiva. A desvalorização de 1,57% levou o índice aos 141.356,43 pontos, com um volume financeiro de R$ 24,6 bilhões. No acumulado da semana, o índice já recua 1,97%, enquanto no mês de outubro a perda é de 3,34%. No acumulado do ano, porém, o Ibovespa ainda sustenta alta de 17,52%, reflexo do desempenho positivo do primeiro semestre.
O índice chegou a atingir máxima de 143.606,01 pontos e mínima de 141.035,66, mostrando a forte volatilidade dos negócios.
Ações em destaque: construtoras e varejo lideram as perdas
Entre os destaques negativos do pregão, as construtoras e o varejo lideraram as quedas. MRV (MRVE3) despencou 12,12%, cotada a R$ 6,31, após projeções mais conservadoras para o setor e aumento nas taxas de financiamento imobiliário.
Ações da Raízen (RAIZ4) recuaram 7,22%, a R$ 0,90, enquanto Vamo (VAMO3) caiu 6,54%, negociada a R$ 3,00. No varejo, Lojas Renner (LREN3) perdeu 5,70%, cotada a R$ 13,57, refletindo preocupações com o consumo das famílias. Azza (AZZA3) também figurou entre as maiores quedas, com baixa de 5,69%, a R$ 25,03.
Na ponta oposta, Minerva (BEEF3) liderou as altas do dia, com valorização de 1,21%, a R$ 6,69, favorecida pela alta dos preços da carne bovina no mercado internacional. Outras altas vieram de Petrobras (PETR4), que subiu 0,36%, e BB Seguridade (BBSE3), com avanço de 0,79%, cotada a R$ 33,06.
Dólar sobe 0,75% e volta a superar R$ 5,35
O dólar comercial encerrou a terça-feira com alta de 0,75%, cotado a R$ 5,351 na venda e R$ 5,350 na compra. O movimento foi alinhado à valorização global da moeda americana, que se fortaleceu diante das principais divisas internacionais.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas, subiu 0,54%, para 98,64 pontos. No Brasil, a moeda oscilou entre R$ 5,320 na mínima e R$ 5,353 na máxima do dia.
A alta reflete tanto a busca global por segurança quanto a incerteza interna em torno do ritmo de cortes da taxa Selic e da condução da política fiscal brasileira.
Juros futuros (DIs) avançam com cautela fiscal e cenário global
Os juros futuros voltaram a subir na sessão de ontem, acompanhando a tendência internacional e o movimento do câmbio. Apenas o vencimento mais curto (DI1F26) registrou leve queda de 0,002 ponto percentual, encerrando a 14,896%.
Nos demais vencimentos, as altas foram generalizadas: o DI1F27 fechou a 14,130% (+0,025pp), o DI1F28 a 13,535% (+0,055pp), o DI1F31 a 13,680% (+0,115pp) e o DI1F33 a 13,790% (+0,120pp).
A curva longa reflete o aumento da percepção de risco, tanto externa quanto doméstica. Investidores seguem atentos à ata do Copom e aos próximos indicadores de inflação, que podem redefinir as apostas sobre o ritmo de cortes da Selic.
Ações mais negociadas do pregão
Entre os papéis mais negociados na véspera, Banco do Brasil (BBAS3) liderou o ranking com 49.741 operações, seguido por Itaú Unibanco (ITUB4), com 37.598 negócios. Também figuraram entre as mais negociadas Lojas Renner (LREN3), Assaí (ASAI3) e B3 (B3SA3) — todas em queda, refletindo o ambiente de cautela generalizada.
O comportamento dos grandes bancos e das varejistas teve peso significativo sobre o desempenho do Ibovespa, ampliando a correção observada desde o início de outubro.
Perspectivas para o Ibovespa nesta quarta-feira
A quarta-feira deve seguir marcada pela volatilidade. O Ibovespa tende a acompanhar o tom dos mercados internacionais, ainda reagindo à incerteza sobre o futuro dos juros nos Estados Unidos.
No cenário doméstico, os investidores seguem atentos aos próximos passos do governo em relação ao arcabouço fiscal, à inflação e às sinalizações do Banco Central. O comportamento do câmbio e da curva de juros será determinante para definir o humor do pregão.
Analistas destacam que, apesar da correção recente, o Ibovespa ainda mantém fundamentos sólidos e pode se beneficiar de um eventual alívio na política monetária global.
Resumo do Ibovespa
- Fechamento: 141.356,43 pontos (-1,57%)
- Máxima: 143.606,01 pontos
- Mínima: 141.035,66 pontos
- Volume financeiro: R$ 24,60 bilhões
- Semana: -1,97%
- Outubro: -3,34%
- Ano: +17,52%
Cenário global segue ditando o ritmo dos mercados
O comportamento do Ibovespa continua atrelado às expectativas sobre o rumo da política monetária global. Enquanto os investidores aguardam novos sinais do Federal Reserve, o mercado brasileiro tenta equilibrar o fluxo estrangeiro, a valorização do dólar e o desempenho das commodities.
Com a aproximação do fim do ano, a volatilidade tende a permanecer elevada, especialmente se os dados de inflação nos EUA reforçarem a necessidade de juros altos por mais tempo. Por outro lado, qualquer sinal de flexibilização por parte do Fed pode reacender o apetite por risco e favorecer a recuperação do índice brasileiro.






