Autofraude: a ameaça invisível que preocupa o varejo na Black Friday 2025
A autofraude é um dos temas que mais preocupam o varejo digital brasileiro na Black Friday 2025. Enquanto consumidores se preparam para aproveitar descontos e ofertas online, varejistas enfrentam um desafio silencioso — um tipo de golpe que, ao contrário das fraudes cibernéticas tradicionais, não é cometido por hackers, mas por clientes reais usando seus próprios dados.
De acordo com a Serasa Experian, o Brasil registrou quase 3,5 milhões de tentativas de fraude no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 22,9% em relação ao mesmo período de 2024. E com a previsão da ABIACOM (Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce) de que a Black Friday movimente R$ 13,34 bilhões, o alerta é claro: quanto mais cresce o consumo digital, maior o risco de autofraude.
O que é autofraude e por que ela é diferente
A autofraude ocorre quando um consumidor utiliza informações verdadeiras — como nome, CPF e dados bancários — para enganar o sistema e obter vantagens indevidas. Esse tipo de golpe é particularmente difícil de identificar porque as transações parecem legítimas, sem sinais típicos de invasão ou roubo de identidade.
Entre as práticas mais comuns estão:
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Compras sem intenção de pagamento, em que o cliente usa o produto e depois contesta a transação;
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Manipulação de renda para aprovação de crédito;
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Abuso de políticas de estorno e devoluções sem justificativa;
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Uso indevido de cashback e programas de fidelidade;
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Exploração de cupons promocionais de forma repetitiva.
Essas ações, aparentemente pequenas, geram prejuízos milionários ao varejo, impactando desde grandes marketplaces até lojas de pequeno porte.
Black Friday: o terreno fértil para a autofraude
A Black Friday é um dos períodos mais lucrativos — e também mais vulneráveis — para o comércio eletrônico. Com um volume massivo de transações em um curto espaço de tempo, o controle de riscos se torna mais complexo e a autofraude encontra brechas para prosperar.
Segundo especialistas, o comportamento de compra por impulso, típico da data, facilita o disfarce de fraudes internas. Além disso, o aumento de promoções, cupons e políticas flexíveis de devolução cria um ambiente propício para abusos.
Ricardo Wodianer, especialista em gestão de risco e Customer Success da Provenir, alerta que a autofraude é um risco invisível com efeitos concretos. Ele destaca que, diferente de fraudes digitais externas, essa modalidade exige mudanças na estratégia de segurança e investimentos em análise comportamental.
Como as empresas podem combater a autofraude
Empresas do setor varejista estão ampliando investimentos em tecnologias preditivas e inteligência artificial para identificar padrões suspeitos. Segundo Wodianer, é preciso ir além da análise de crédito tradicional, apostando em soluções que compreendam o comportamento do consumidor em tempo real.
Entre as principais estratégias recomendadas estão:
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Modelos preditivos e machine learning:
Algoritmos que detectam inconsistências de renda, histórico de compras e comportamento de navegação. -
Análise em tempo real:
Sistemas que monitoram transações instantaneamente, permitindo bloquear operações suspeitas antes que gerem prejuízo. -
Decisão automatizada com IA:
Plataformas de análise que cruzam dados internos e externos para definir, em milissegundos, se uma transação é confiável. -
Integração de dados e segmentação por perfil de risco:
Unir informações de crédito, histórico de consumo e geolocalização ajuda a diferenciar clientes legítimos de possíveis fraudadores.
Essas medidas não apenas reduzem perdas financeiras, mas também preservam a experiência de compra dos clientes honestos, evitando bloqueios injustificados.
O impacto da autofraude no setor varejista
A autofraude representa um duplo desafio: além dos prejuízos diretos com produtos e valores não recuperados, as empresas enfrentam danos à reputação e aumento do custo operacional.
A cada episódio de fraude, varejistas tendem a endurecer suas políticas de crédito, devolução e cashback, o que acaba penalizando consumidores legítimos.
Estudos de mercado indicam que para cada R$ 1 perdido com fraude, as empresas gastam até R$ 3 em custos de mitigação, que incluem tecnologia, logística reversa e disputas de pagamento.
Durante a Black Friday, esse impacto é amplificado. O aumento do tráfego digital, o volume de transações e a urgência por entregas rápidas dificultam a verificação manual, tornando o uso de ferramentas automatizadas uma necessidade.
Como o consumidor é afetado pela autofraude
Mesmo quem não comete fraude sente os efeitos da autofraude. As lojas, pressionadas pelas perdas, passam a restringir benefícios e adotar medidas mais rígidas, como:
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Redução de prazos para devolução;
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Limitação de uso de cupons e cashback;
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Regras mais severas para concessão de crédito;
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Exigência de autenticação em duas etapas para pagamentos.
Além disso, consumidores podem ser injustamente bloqueados em plataformas de e-commerce caso algoritmos identifiquem padrões semelhantes aos de autofraudadores.
Como o consumidor pode se proteger
Embora a autofraude envolva práticas ilícitas de parte dos consumidores, a segurança digital deve ser uma preocupação de todos. Para evitar golpes e proteger dados pessoais, especialistas recomendam:
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Evitar compartilhar dados pessoais e bancários fora de sites oficiais ou ambientes seguros;
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Desconfiar de promoções falsas que exigem autenticação ou pagamento fora da plataforma;
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Manter cadastros atualizados e utilizar senhas fortes;
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Não abusar de políticas de devolução e cashback, evitando bloqueios de conta por comportamento suspeito.
Essas práticas ajudam a fortalecer o ambiente digital e reduzir a exposição a fraudes de todos os tipos.
O papel da inteligência artificial na prevenção de fraudes
A inteligência artificial (IA) tem se tornado o principal aliado no combate à autofraude. Com o uso de machine learning, sistemas conseguem aprender com o comportamento dos consumidores e identificar padrões anormais de compra, como aumento repentino de gastos, múltiplas devoluções ou tentativas de crédito em sequência.
Empresas como a Provenir e outras líderes do setor de risco estão desenvolvendo soluções que analisam o comportamento em milissegundos, permitindo decisões automatizadas que equilibram segurança e agilidade.
Além disso, o uso de big data possibilita cruzar informações de diferentes fontes — financeiras, sociais e comportamentais — ampliando a precisão das análises e diminuindo o número de falsos positivos.
A importância da educação digital e da ética do consumo
Especialistas alertam que o combate à autofraude vai além da tecnologia. É necessário promover uma cultura de ética e responsabilidade entre consumidores e empresas.
Campanhas educativas podem conscientizar sobre os impactos financeiros e legais desse tipo de prática, que pode ser enquadrada em crimes como estelionato (art. 171 do Código Penal).
O varejo, por sua vez, precisa investir em transparência e comunicação, deixando claro aos clientes quais comportamentos são considerados abusivos e quais as consequências.
Autofraude e o futuro do e-commerce no Brasil
A autofraude está se tornando um dos principais desafios estruturais do e-commerce brasileiro. À medida que o comércio digital cresce, também cresce a necessidade de mecanismos de verificação inteligentes e regulamentações mais claras.
Empresas que ignorarem o problema correm o risco de perder competitividade, especialmente em datas como a Black Friday e o Natal, que concentram grande parte do faturamento anual.
Para especialistas, o futuro da segurança digital no varejo depende de três pilares:
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Tecnologia avançada, com uso intensivo de IA e análise de comportamento;
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Educação do consumidor, fortalecendo práticas éticas;
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Colaboração entre empresas e instituições financeiras, para compartilhamento de dados de risco.
Somente com essa combinação será possível criar um ambiente de consumo mais confiável e sustentável.
A autofraude como risco silencioso da Black Friday 2025
A autofraude é uma ameaça crescente que se disfarça em transações legítimas, comprometendo a rentabilidade do varejo e a confiança dos consumidores.
Com a Black Friday 2025 movimentando bilhões em vendas, o desafio será equilibrar segurança e experiência do cliente, evitando que as medidas de proteção prejudiquem a fluidez das compras.
A conscientização e o uso inteligente da tecnologia são as melhores armas contra esse tipo de golpe. O varejo que entender isso antes dos concorrentes estará mais preparado para crescer com segurança em um dos momentos mais críticos do ano para o comércio digital.






