O Ibovespa iniciou a sessão desta terça-feira, 12 de novembro, praticamente estável, com uma leve alta de 0,03%, posicionando-se em 127.910 pontos. Esse movimento cauteloso reflete a incerteza do mercado brasileiro frente à espera por novas atualizações do pacote fiscal do governo e à divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). A influência das commodities também se faz presente, com tendências mistas que impactam os ativos na B3.
O índice de referência da bolsa brasileira segue de perto os desenvolvimentos de política monetária, que nesta semana reforçaram o tom “hawkish” – uma política austera com possíveis altas na taxa de juros, a Selic. Essa postura restritiva vem do Banco Central (BC), que busca conter a inflação em meio a incertezas fiscais e uma perspectiva de alta nas expectativas inflacionárias, ressaltando que a Selic deve continuar elevada por algum tempo.
Principais fatores influenciando o Ibovespa hoje
Ata do Copom
A ata do Copom divulgada pelo Banco Central nesta manhã trouxe mais detalhes sobre o aumento da Selic para 11,25% ao ano, uma elevação de 0,5 ponto percentual. A decisão foi motivada pelas condições econômicas atuais e incertezas futuras, ressaltando o compromisso do BC com a meta de inflação. O documento sugere que outra alta de mesma magnitude pode ocorrer na próxima reunião, em dezembro, com algumas instituições financeiras até especulando uma elevação de 0,75 ponto percentual.
Esse ajuste fiscal mantém os investidores cautelosos, pois aponta que o BC continuará monitorando fatores como o câmbio, as expectativas inflacionárias e as incertezas fiscais, que são agravadas pela indefinição do pacote de cortes de gastos do governo federal.
Mercados internacionais e política dos EUA
A cautela também predomina nos mercados internacionais. A composição do futuro gabinete do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, preocupa investidores, impactando as bolsas mundiais e fortalecendo a posição do dólar. O nome do senador Marco Rubio como possível secretário de Estado de Trump trouxe apreensão, especialmente devido às suas posições rigorosas em relação a países como China, Irã e Cuba, o que pode aumentar as tensões comerciais e políticas globais.
Além disso, os mercados europeus tiveram quedas expressivas após a divulgação do índice de expectativas econômicas ZEW na Alemanha, que apresentou uma retração inesperada. Esse dado reforçou o cenário de incerteza e contribuiu para o arrefecimento do apetite ao risco entre investidores globais.
Commodities: contraponto positivo para ativos brasileiros
No entanto, as commodities têm ajudado a balancear o cenário com desempenhos positivos, o que favorece o Brasil como exportador desses produtos. O petróleo registrou alta de aproximadamente 0,70%, enquanto o minério de ferro subiu 0,26% em Dalian, na China. Essas movimentações, combinadas com a proposta chinesa de reduzir impostos sobre a compra de imóveis, indicam esforços para impulsionar a economia e podem beneficiar o real e o Ibovespa.
Desempenho das principais empresas: balanços em destaque
A divulgação de balanços trimestrais de algumas grandes empresas também movimenta o Ibovespa. Destaque para a Itaúsa (ITSA4) e a Sabesp (SBSP3), que divulgaram resultados positivos no terceiro trimestre. A Itaúsa registrou um lucro líquido recorrente de R$ 3,9 bilhões, representando um crescimento de 13% em comparação ao ano anterior, impulsionado pelo Itaú Unibanco. A Sabesp, por sua vez, teve um aumento de 38,6% em seu lucro líquido, atingindo R$ 1,173 bilhão.
A Porto (PSSA3), antiga Porto Seguro, também reportou crescimento no lucro líquido do terceiro trimestre, totalizando R$ 739,1 milhões, uma alta de 32,3% em relação ao mesmo período de 2023. Esse resultado veio após a recuperação dos prejuízos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Espera-se ainda para hoje os balanços de empresas como CSN, CSN Mineração, Hapvida e Raízen, que podem trazer novas movimentações ao índice.
Impacto do pacote fiscal na confiança dos investidores
A indefinição do pacote fiscal do governo de Lula tem sido um ponto de pressão contínuo sobre o mercado brasileiro. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, informou que o presidente solicitou a inclusão de mais uma pasta no plano fiscal, mas ainda não revelou qual. Há rumores de que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, deve discutir a contenção de gastos em uma reunião com o governo. Essa situação gera incerteza, pois a proposta só deve ser enviada ao Congresso após o encontro do G20, programado para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
A confiança dos investidores no mercado brasileiro depende de maior clareza sobre as diretrizes fiscais, sendo esse um fator essencial para manter a atratividade do país para investimentos. Caso o pacote traga medidas robustas e efetivas de controle de gastos, pode contribuir para uma retomada positiva no Ibovespa e para a estabilidade da Selic em médio prazo.
Commodities e ADRs da Petrobras e Vale
Enquanto as commodities operam em alta, os American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras e da Vale abriram a sessão em baixa no mercado norte-americano. As ações da Petrobras caíram 0,66% no pré-mercado de Nova York, enquanto as da Vale recuaram 0,88%. Essa situação evidencia a volatilidade do mercado, já que o aumento dos preços das commodities não foi suficiente para elevar o valor dos ADRs das maiores empresas exportadoras do Brasil.
A oscilação dos ADRs brasileiros no exterior reflete uma combinação de fatores, incluindo a cautela com o cenário internacional e as incertezas internas com a política fiscal do governo brasileiro, que têm desanimado alguns investidores estrangeiros.
Perspectivas para o mercado financeiro
A expectativa para o Ibovespa nos próximos dias deve se manter em cautela, com tendência de leve alta ou estabilidade, enquanto o mercado aguarda definições do pacote fiscal e dos próximos passos do Banco Central em relação à Selic. O comportamento das bolsas internacionais, o desempenho das commodities e o impacto da composição do governo de Trump devem continuar afetando o mercado de capitais no Brasil, que segue atento a qualquer novo sinal econômico.
Caso o cenário fiscal brasileiro mostre-se mais promissor, com medidas efetivas de contenção de gastos, é provável que haja um impacto positivo para o Ibovespa, e a confiança do investidor estrangeiro pode se restabelecer gradualmente.