Intel e inteligência artificial: por que a gigante dos chips segue relevante mesmo após perder a onda da IA
Mesmo após perder o protagonismo inicial na revolução da inteligência artificial (IA), a Intel ainda se mantém como uma das empresas mais importantes do setor de tecnologia global. A companhia, que por décadas foi sinônimo de inovação em processadores e semicondutores, vive um momento de reinvenção. Com apoio estratégico do governo dos Estados Unidos e parcerias robustas, como a firmada recentemente com a Nvidia, a Intel busca recuperar terreno e reafirmar seu papel essencial na era da IA generativa.
Nos últimos meses, o mercado financeiro voltou a olhar com otimismo para a gigante de Santa Clara, após o governo norte-americano, comandado por Donald Trump, anunciar a compra de 10% de participação na empresa. Paralelamente, a Nvidia, referência mundial em chips gráficos (GPUs), também adquiriu uma fatia relevante da companhia. O movimento reacendeu expectativas de que a Intel possa reconquistar competitividade e fortalecer sua posição frente às novas demandas tecnológicas impulsionadas pela IA.
O desafio da Intel na era da IA
A Intel foi, durante décadas, sinônimo de poder de processamento. Suas CPUs (unidades centrais de processamento) dominaram o mercado global e equiparam milhões de computadores, servidores e data centers. No entanto, a explosão da inteligência artificial trouxe consigo uma mudança profunda nas necessidades de processamento. O foco do setor migrou das CPUs tradicionais para as GPUs (unidades de processamento gráfico), peças mais adequadas ao treinamento e execução de modelos de machine learning e redes neurais profundas.
Enquanto empresas como Nvidia, AMD e TSMC surfaram essa nova onda, a Intel demorou a se reposicionar estrategicamente. A companhia manteve seu foco no mercado tradicional de processadores, perdendo espaço no segmento de chips especializados em IA. Essa demora custou caro: a Nvidia disparou em valor de mercado, multiplicando seu faturamento e se consolidando como símbolo da era da IA.
Mesmo assim, a Intel não desapareceu. Pelo contrário: continua altamente relevante no ecossistema global de tecnologia. Segundo especialistas do setor, a empresa mantém diferenciais competitivos únicos — e tem agora uma nova janela de oportunidade para transformar sua estrutura e retomar o protagonismo perdido.
O apoio do governo dos Estados Unidos
Um dos fatores que impulsionaram a recente valorização das ações da Intel foi o apoio direto do governo norte-americano. Diante da crescente rivalidade tecnológica com a China, os Estados Unidos vêm investindo pesado em autonomia produtiva no setor de semicondutores. O país reconhece que depender de fabricantes asiáticas, especialmente da TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), representa um risco geopolítico.
Por isso, o governo americano decidiu injetar capital diretamente na Intel, considerada um ativo estratégico nacional. A compra de 10% da companhia demonstra a intenção clara de fortalecer a produção doméstica de chips e manter os EUA na liderança tecnológica global. A parceria também tem objetivos de longo prazo: estimular a reindustrialização tecnológica e consolidar uma base produtiva de semicondutores no território americano.
Esse movimento beneficia não apenas a Intel, mas também empresas como Nvidia, AMD, Qualcomm e Micron, que dependem da infraestrutura local para o desenvolvimento e teste de novas tecnologias.
A parceria com a Nvidia: um novo capítulo
A Intel e a Nvidia eram vistas historicamente como rivais. A Nvidia dominou o mercado de GPUs, enquanto a Intel reinava entre as CPUs. No entanto, o novo cenário tecnológico e a crescente pressão competitiva criaram um ambiente onde a cooperação se tornou mais vantajosa que a competição.
A parceria entre as duas gigantes é estratégica e envolve investimentos de cerca de US$ 5 bilhões, segundo informações do mercado. o objetivo é combinar a expertise da Intel em design e fabricação de chips com o poder de inovação da Nvidia no campo da IA e da computação gráfica. Essa colaboração pode resultar em novos tipos de processadores híbridos, capazes de unir o melhor das CPUs e GPUs em um único sistema.
Especialistas acreditam que essa sinergia pode permitir à Intel recuperar terreno no segmento de chips para inteligência artificial. Além disso, o apoio governamental garante estabilidade financeira e incentivos fiscais, permitindo novos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e fabricação.
Mercado reage positivamente: ações sobem mais de 70% em 2025
Os reflexos dessas movimentações já começaram a aparecer no mercado financeiro. Desde o anúncio da entrada do governo dos EUA e da Nvidia no capital da empresa, as ações da Intel subiram quase 30%. Considerando todo o ano de 2025, a valorização acumulada ultrapassa 70%, um desempenho impressionante para uma companhia que vinha enfrentando anos de estagnação.
Esse otimismo é sustentado por projeções mais favoráveis. Embora a Intel ainda enfrente queda de faturamento — que passou de US$ 16 bilhões em 2019 para US$ 12,6 bilhões em 2025 —, os analistas enxergam uma retomada gradual nos próximos trimestres. Com novos contratos, modernização de fábricas e uma estratégia de diversificação, a empresa volta a atrair investidores que apostam em seu potencial de recuperação.
Por que a Intel segue relevante na inteligência artificial
Apesar de ter perdido o protagonismo inicial na corrida da IA, a Intel ainda é uma das poucas companhias com presença em toda a cadeia produtiva de semicondutores — desde o design até a fabricação e distribuição. Essa característica é rara e confere uma vantagem competitiva considerável frente a concorrentes que dependem de terceiros para parte do processo produtivo.
Além disso, a Intel segue líder global no fornecimento de CPUs para servidores e data centers, elementos fundamentais para o funcionamento da IA. Nem todas as tarefas de computação exigem GPUs; muitas operações de inferência, armazenamento e gerenciamento de dados continuam sendo desempenhadas de forma mais eficiente por processadores tradicionais.
A empresa também vem investindo em novas soluções voltadas à IA, como aceleradores neurais, chips de baixo consumo energético e arquiteturas híbridas, que combinam CPU e GPU em um mesmo componente. Esses avanços podem reposicionar a Intel em mercados estratégicos como computação de alto desempenho (HPC) e IA corporativa.
O que esperar da Intel nos próximos anos
O futuro da Intel e da inteligência artificial passa pela capacidade da empresa de se reinventar. O CEO Pat Gelsinger tem implementado uma profunda reestruturação interna, com foco em redução de custos, inovação e parcerias estratégicas. A companhia também vem expandindo sua presença global, com novas fábricas nos Estados Unidos, Irlanda e Alemanha, fortalecendo sua capacidade produtiva em regiões-chave.
Outro ponto crucial é a aposta no ecossistema de software e integração de IA. A Intel tem investido no desenvolvimento de ferramentas de código aberto e plataformas que permitem o uso de suas tecnologias em aplicações de IA. Isso inclui o Intel AI Cloud, voltado para empresas que buscam soluções seguras, escaláveis e otimizadas para aprendizado de máquina.
O desafio, contudo, é enorme. Concorrentes como Nvidia e AMD continuam avançando rapidamente, e novas empresas chinesas entram no jogo com força total. Ainda assim, a Intel mantém uma base sólida, uma marca de confiança e o suporte governamental que pode fazer toda a diferença em sua trajetória de recuperação.
Intel e inteligência artificial: uma relação de evolução, não de substituição
É importante destacar que a ascensão da inteligência artificial não torna as tecnologias tradicionais da Intel obsoletas. Pelo contrário, há uma tendência de integração entre CPUs e GPUs, permitindo que ambas coexistam e se complementem. Enquanto as GPUs são otimizadas para tarefas massivamente paralelas, as CPUs continuam sendo essenciais para o controle, coordenação e execução de processos complexos.
A Intel parece compreender isso melhor do que nunca. Sua estratégia atual busca equilíbrio entre tradição e inovação, aproveitando sua infraestrutura de produção e expertise para se adaptar às novas demandas. Essa abordagem pode garantir que a empresa não apenas sobreviva à revolução da IA, mas volte a prosperar dentro dela.
A reinvenção da Intel está em curso
A história da Intel e da inteligência artificial é um exemplo clássico de como até as gigantes podem perder o timing tecnológico, mas também de como é possível se reinventar. A empresa, que moldou o mundo digital durante décadas, agora trabalha para se reposicionar na vanguarda da nova era da computação inteligente.
Com apoio governamental, aliança com a Nvidia, novas fábricas e investimentos bilionários em inovação, a Intel demonstra que ainda tem muito a oferecer. O caminho para reconquistar a liderança será desafiador, mas o mercado já começa a enxergar sinais de que a gigante está se movendo na direção certa.






