Lula sanciona lei contra o crime organizado e promete endurecer combate às facções
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta quinta-feira (30) a Lei nº 15.245/2025, que endurece as punições contra o crime organizado e reforça a proteção a agentes públicos envolvidos no enfrentamento às facções criminosas. A medida ocorre em meio ao aumento das pressões por ações mais efetivas do governo federal na área de segurança pública, especialmente após a operação policial no Rio de Janeiro que resultou em mais de 120 mortos.
Em comunicado divulgado nas redes sociais, Lula destacou que o governo “não tolera as organizações criminosas” e que a nova lei representa um avanço na estrutura de proteção do Estado contra ameaças a policiais, promotores, juízes e membros das Forças Armadas envolvidos em operações de combate ao crime.
Lei contra o crime organizado: principais mudanças e punições
A nova lei contra o crime organizado prevê penas de 4 a 12 anos de prisão para quem tentar obstruir investigações, ameaçar agentes públicos ou intimidar autoridades que atuam em processos relacionados a organizações criminosas. O texto foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) e passou a valer imediatamente após a sanção presidencial.
Além de criar um novo tipo penal de obstrução de justiça, a legislação amplia as medidas de proteção a servidores públicos, incluindo:
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Membros das forças de segurança (Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar);
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Integrantes das Forças Armadas;
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Autoridades do Poder Judiciário e do Ministério Público;
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Servidores que atuam na investigação e repressão de crimes transnacionais, especialmente nas regiões de fronteira.
O objetivo é garantir segurança e estabilidade institucional a quem enfrenta diretamente facções criminosas, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que nos últimos anos ampliaram suas operações para além das fronteiras brasileiras, especialmente em países vizinhos da América do Sul.
Contexto político e segurança pública em debate
A sanção da lei contra o crime organizado ocorre em um momento delicado para o governo. A recente Operação Contenção, realizada na terça-feira (28) no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, deixou mais de 120 mortos, incluindo quatro policiais. O episódio reacendeu o debate sobre violência policial, segurança pública nacional e o papel do governo federal no apoio às operações estaduais.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública vem sendo cobrado por resultados concretos na redução da criminalidade organizada e no combate ao tráfico de drogas e armas, especialmente nas fronteiras com Paraguai, Bolívia e Colômbia.
A nova legislação, segundo o Palácio do Planalto, é uma resposta institucional para fortalecer o arcabouço jurídico que sustenta o combate ao crime organizado no país.
Reação de especialistas e impacto esperado
Especialistas em direito penal e segurança pública avaliam que a nova lei contra o crime organizado é uma das mais relevantes desde a promulgação da Lei das Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/2013), que tipificou os crimes cometidos por facções e definiu mecanismos de investigação, como delação premiada e infiltração de agentes.
Segundo o jurista Eduardo Gusmão, professor de Direito da Universidade de Brasília, “a medida traz um reforço necessário à integridade dos agentes públicos. A criminalidade organizada avança justamente quando o Estado se mostra vulnerável. Este é um passo importante para restaurar a autoridade das instituições”.
Já o analista de segurança Rafael Leão, ex-integrante da Polícia Federal, afirma que a nova lei corrige lacunas deixadas por legislações anteriores, ao criminalizar condutas que dificultam o trabalho investigativo, como o financiamento indireto de facções e a intimidação de autoridades. Ele ressalta que, embora o texto avance juridicamente, o desafio será a aplicação efetiva das normas em estados onde a criminalidade já se infiltrou nas estruturas de poder.
Proteção ampliada para agentes e familiares
Um dos pontos mais elogiados da nova legislação é a ampliação da proteção a agentes aposentados e familiares de servidores que atuaram contra o crime organizado. A norma prevê medidas de segurança específicas, como programas de relocação, sigilo de endereço e proteção policial em casos de risco comprovado.
A inclusão dos aposentados e familiares no escopo da lei foi resultado de recomendações do Ministério Público Federal (MPF) e de associações de magistrados e delegados, que alertaram para o aumento das ameaças e retaliações sofridas por profissionais que conduzem operações de alto impacto.
O procurador da República Antônio Pacheco, especialista em combate a organizações criminosas, explicou que “é comum que agentes aposentados continuem sendo alvos de retaliação anos após o encerramento das investigações”. Para ele, a legislação “cria um escudo jurídico e institucional para proteger quem dedicou a vida a desarticular facções que atuam com poder armado e econômico”.
Convergência entre governo e Congresso
A aprovação e sanção da lei contra o crime organizado resultaram de articulação entre Executivo, Congresso e Judiciário. O texto foi relatado por parlamentares ligados à Comissão de Segurança Pública e contou com apoio suprapartidário, refletindo a preocupação nacional com o avanço da criminalidade organizada.
Nos bastidores, integrantes da base aliada afirmam que o Ministério da Justiça trabalha em um pacote de medidas complementares, que inclui:
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Integração de bancos de dados de inteligência entre estados e União;
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Criação de um fundo permanente para operações em áreas de risco;
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Aprimoramento da cooperação internacional no rastreamento de armas e drogas;
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Fortalecimento da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional em regiões estratégicas.
Criminalidade nas fronteiras e tráfico internacional
O tráfico de drogas, armas e contrabando nas fronteiras do Brasil é apontado como um dos principais focos do crime organizado. De acordo com dados do Ministério da Justiça, cerca de 70% das armas apreendidas nas capitais brasileiras têm origem em rotas ilegais que passam por fronteiras terrestres.
A nova lei contra o crime organizado deverá permitir uma ação mais coordenada nessas regiões, com operações conjuntas entre PF, Exército e Receita Federal, e penas mais severas para crimes de financiamento e apoio logístico a facções.
Segundo o Instituto Brasileiro de Segurança Pública (IBSP), os grupos criminosos atuam como verdadeiras empresas transnacionais, com estrutura hierárquica, logística e divisão de lucros. A presença dessas facções em países como Paraguai, Bolívia e Colômbia já preocupa autoridades locais, que veem o Brasil como ponto de escoamento estratégico para o tráfico internacional.
Declaração de Lula e posicionamento do governo
Ao sancionar a lei, Lula reforçou que o governo federal seguirá atuando com rigor contra qualquer tentativa de enfraquecer o Estado. O presidente também afirmou que a nova legislação será instrumento fundamental para proteger quem arrisca a vida no combate às facções.
Fontes do Planalto afirmam que o governo pretende vincular a nova lei a um plano nacional de segurança pública, em fase de elaboração pelo Ministério da Justiça, com metas de redução de homicídios e fortalecimento das políticas de prevenção social em comunidades vulneráveis.
Próximos passos e expectativas
A expectativa é que, com a lei contra o crime organizado, o governo federal reafirme seu protagonismo na coordenação das ações de segurança em todo o território nacional. Governadores e secretários de segurança já manifestaram apoio à iniciativa, especialmente em estados com altos índices de violência e influência de facções.
Além de fortalecer o combate policial, a nova legislação também abre espaço para debates sobre políticas sociais e econômicas que visam reduzir o recrutamento de jovens pelo crime organizado — um dos maiores desafios estruturais do país.






