Relatório Focus aponta corte nas projeções de inflação e Selic e redesenha cenário econômico até 2028
O Relatório Focus divulgado nesta segunda-feira trouxe novos ajustes nas expectativas do mercado para os principais indicadores da economia brasileira. Economistas consultados pelo Banco Central voltaram a reduzir as projeções para a inflação e para a taxa básica de juros, sinalizando uma leitura mais moderada sobre o comportamento dos preços e da política monetária nos próximos anos. O movimento ocorre em meio à manutenção da Selic em patamar elevado pelo Comitê de Política Monetária e reforça a atenção do mercado para a condução da política econômica a partir de 2026.
A nova rodada do Relatório Focus mostra que a convergência da inflação continua sendo percebida como lenta, porém consistente, ao mesmo tempo em que o mercado começa a revisar, ainda que de forma gradual, o nível esperado de juros no médio prazo. O boletim também reforça a visão de crescimento econômico moderado e estabilidade cambial até o final da década.
Inflação projetada recua e reforça leitura de desaceleração gradual
O principal destaque do Relatório Focus foi a nova redução da projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo em 2025. A estimativa passou de 4,40% para 4,36%, marcando mais um ajuste para baixo consecutivo. Embora o patamar ainda permaneça acima do centro da meta de inflação, o movimento é interpretado como um sinal de arrefecimento das pressões inflacionárias.
Para 2026, o Relatório Focus também apontou revisão para baixo, com a inflação esperada recuando de 4,16% para 4,10%. Já para 2027 e 2028, as projeções permaneceram estáveis, em 3,80% e 3,50%, respectivamente, níveis mais próximos do objetivo perseguido pela política monetária.
A leitura do mercado é de que a inflação caminha para um processo de convergência mais claro a partir de 2026, ainda que fatores como preços administrados, serviços e expectativas continuem exigindo cautela do Banco Central.
Selic começa a ser revista, mas segue elevada no horizonte
Outro ponto central do Relatório Focus foi a revisão da taxa Selic projetada para 2026. A expectativa caiu de 12,25% para 12,13%, indicando que o mercado começa a incorporar a possibilidade de um ciclo de flexibilização monetária mais consistente no médio prazo.
Apesar disso, as projeções para 2027 e 2028 permaneceram inalteradas, em 10,50% e 9,50%, respectivamente. Esses números reforçam a percepção de que o processo de redução dos juros deverá ser gradual e condicionado à consolidação do controle inflacionário.
O Relatório Focus reflete também o impacto da postura recente do Comitê de Política Monetária, que manteve a Selic em 15% ao ano pela quarta reunião consecutiva e preservou um tom firme em sua comunicação. O mercado segue atento à ata da última decisão, aguardando sinais mais claros sobre o momento e a intensidade de eventuais cortes.
Crescimento econômico mantém trajetória moderada
No campo da atividade econômica, o Relatório Focus não trouxe grandes alterações para o curto prazo. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto em 2025 permaneceram em 2,25%, enquanto a estimativa para 2026 seguiu em 1,80%.
Para 2027, houve um leve ajuste para baixo, de 1,84% para 1,83%, indicando uma visão de crescimento mais contido no médio prazo. Já para 2028, a expectativa de expansão da economia brasileira permaneceu em 2%.
A leitura predominante entre os analistas é de que o Brasil enfrenta limites estruturais para acelerar o crescimento de forma sustentada, especialmente diante de restrições fiscais, baixa produtividade e necessidade de reformas econômicas mais profundas.
Estabilidade cambial reforça previsibilidade do cenário
O Relatório Focus também apontou estabilidade nas projeções para o câmbio. A expectativa para o dólar ao final de 2025 permaneceu em R$ 5,40, enquanto para os anos de 2026 a 2028 a estimativa segue em R$ 5,50.
A manutenção dessas projeções reflete uma avaliação de equilíbrio entre fatores externos e domésticos. Por um lado, o diferencial de juros ainda favorece o Brasil; por outro, o cenário internacional segue marcado por incertezas relacionadas à política monetária global, tensões geopolíticas e ritmo de crescimento das principais economias.
A estabilidade cambial projetada pelo Relatório Focus contribui para reduzir riscos adicionais sobre a inflação e oferece maior previsibilidade para empresas e investidores.
Política monetária permanece no centro das atenções
O conjunto de dados do Relatório Focus reforça que a política monetária continuará sendo o principal instrumento de estabilização econômica nos próximos anos. Mesmo com a inflação projetada em trajetória descendente, o Banco Central segue adotando postura cautelosa, dada a necessidade de ancorar expectativas.
A manutenção da Selic em nível elevado por período prolongado reflete o esforço para evitar a reaceleração dos preços, especialmente em um contexto de incertezas fiscais e externas. O mercado entende que qualquer flexibilização prematura poderia comprometer o processo de desinflação.
Nesse sentido, o Relatório Focus funciona como termômetro das expectativas e influencia diretamente as decisões de política econômica.
Impactos para empresas, consumidores e investidores
As projeções atualizadas no Relatório Focus têm implicações diretas para diferentes agentes econômicos. Para as empresas, juros ainda elevados significam custo de capital alto, o que tende a limitar investimentos e expansão. Ao mesmo tempo, a perspectiva de inflação em queda melhora o planejamento financeiro e reduz incertezas.
Para os consumidores, a desaceleração inflacionária pode aliviar o orçamento ao longo do tempo, embora o crédito continue restrito enquanto a Selic permanecer em patamar elevado. Já para os investidores, o cenário desenhado pelo Relatório Focus sugere oportunidades seletivas, especialmente em renda fixa, que segue oferecendo retornos atrativos.
Desafios fiscais seguem como pano de fundo
Embora o Relatório Focus não traga projeções fiscais diretas, o tema permanece no radar do mercado. A sustentabilidade das contas públicas é vista como fator crucial para a trajetória de inflação e juros no médio e longo prazo.
Qualquer deterioração do quadro fiscal pode impactar negativamente as expectativas captadas pelo Relatório Focus, pressionando o câmbio, os juros e a inflação. Por isso, investidores e analistas acompanham de perto as sinalizações do governo sobre controle de gastos e reformas.
Perspectivas até 2028 indicam ajuste lento e contínuo
O horizonte de projeções do Relatório Focus até 2028 desenha um cenário de ajuste gradual da economia brasileira. A inflação tende a se aproximar da meta, os juros devem recuar lentamente e o crescimento permanecerá moderado.
Esse quadro reflete tanto avanços quanto limitações estruturais do país. A estabilidade macroeconômica segue sendo um ativo importante, mas a aceleração do crescimento dependerá de reformas que aumentem a produtividade e reduzam incertezas.
Relatório Focus consolida expectativas do mercado
Ao reunir semanalmente as projeções de dezenas de instituições financeiras, o Relatório Focus se consolida como uma das principais referências para entender a percepção do mercado sobre o futuro da economia brasileira. As revisões recentes indicam uma leitura mais otimista em relação à inflação, ainda que marcada por cautela quanto aos juros.
O boletim desta segunda-feira reforça que o processo de ajuste econômico está em curso, mas longe de concluído. A trajetória até 2028 exigirá disciplina fiscal, política monetária consistente e ambiente institucional estável.






