Itamaraty adota cautela máxima na reunião entre Lula e Trump e busca resultados concretos para o Brasil
A reunião entre Lula e Trump, prevista para ocorrer na Malásia, promete ser um dos eventos mais delicados e estratégicos da diplomacia brasileira em 2025. O Itamaraty tem conduzido a organização do encontro com extremo cuidado, diante do histórico imprevisível do ex-presidente norte-americano.
Segundo fontes diplomáticas, a prioridade do governo é transformar o diálogo em resultados econômicos concretos, como revisão de tarifas, ampliação de investimentos e acordos de cooperação tecnológica — e não em gestos simbólicos ou cortesia política.
Lula e Trump: um encontro cercado de precauções
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou para uma viagem oficial pela Ásia, com passagem pela Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), onde o encontro com Donald Trump deve acontecer.
Para o Itamaraty, a escolha de um território neutro é essencial para reduzir tensões e evitar que a reunião se transforme em um espetáculo político. “Um campo neutro é a melhor estratégia para minimizar riscos e preservar a imagem do Brasil”, explicam diplomatas envolvidos na preparação.
O objetivo do governo brasileiro é manter o foco em comércio exterior, tarifas, investimentos e cooperação tecnológica. Temas políticos ou ideológicos — frequentemente explorados por Trump — foram deliberadamente excluídos da pauta oficial.
O desafio de lidar com Donald Trump
Fontes do Ministério das Relações Exteriores admitem que “organizar um encontro com Trump é como tentar controlar uma panela de pressão destampada”. O ex-presidente norte-americano é conhecido por decisões impulsivas e declarações fora de protocolo, o que exige da diplomacia brasileira planejamento minucioso e controle de danos.
A preparação do encontro envolveu semanas de reuniões entre o Itamaraty, o Palácio do Planalto e a Embaixada do Brasil em Washington. O objetivo é evitar constrangimentos públicos e garantir que Lula saia do encontro com algum resultado diplomático tangível — o que até agora não ocorreu.
O histórico da relação Lula–Trump
Apesar das diferenças ideológicas, Lula e Trump têm mantido uma relação surpreendentemente cordial. Desde o breve encontro em Nova York, durante a Assembleia da ONU, os dois trocaram telefonemas e mensagens diplomáticas.
A narrativa da “boa química pessoal” entre os presidentes vem sendo explorada pelo governo brasileiro como um símbolo de pragmatismo diplomático. No entanto, até o momento, essa aproximação não produziu resultados concretos:
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As tarifas norte-americanas sobre o aço e o alumínio brasileiros continuam em vigor;
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Os vistos para turistas brasileiros seguem suspensos;
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E as sanções econômicas impostas por Washington a empresas nacionais permanecem inalteradas.
Analistas afirmam que, embora o tom diplomático tenha melhorado, a relação ainda é marcada por superficialidade.
O que Lula busca com a reunião
A reunião entre Lula e Trump tem como meta converter cordialidade em ganhos comerciais e estratégicos. O presidente brasileiro pretende aproveitar o diálogo para tratar de três eixos principais:
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Revisão das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros — especialmente aço, alumínio e carne;
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Negociações sobre as “terras raras”, minerais críticos para a indústria tecnológica dos EUA, dos quais o Brasil possui grandes reservas;
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Acordos de cooperação tecnológica e industrial, com foco em inovação, energia limpa e semicondutores.
De acordo com diplomatas, o “golaço de Lula” seria voltar da Ásia com um compromisso concreto — como uma readequação tarifária ou um aceno de parceria tecnológica. Contudo, Trump é conhecido por negociar com base em instinto e não em protocolos, o que torna o resultado imprevisível.
O papel do Itamaraty: diplomacia sem improvisos
O Itamaraty adotou uma estratégia de contenção e disciplina diplomática. O plano é simples: evitar polêmicas e conduzir o diálogo dentro de parâmetros técnicos e comerciais.
Desde o início do planejamento, a chancelaria brasileira determinou que não haverá declarações paralelas, improvisos em coletivas ou temas políticos. A ideia é proteger a imagem de Lula e evitar que o encontro seja usado como palanque eleitoral por Trump, que tenta se reposicionar na cena internacional.
Diplomatas brasileiros também reforçaram o treinamento de assessores e intérpretes para gerenciar situações de crise e comunicação, caso o ex-presidente norte-americano faça declarações provocativas.
A expectativa do setor empresarial brasileiro
Empresários brasileiros acompanham com atenção a reunião entre Lula e Trump. O setor produtivo pressiona o governo por resultados práticos, sobretudo no comércio exterior.
As indústrias afetadas pelo “tarifaço americano” esperam medidas que reduzam os custos de exportação e ampliem o acesso ao mercado norte-americano. Além disso, há expectativa de novos acordos de cooperação tecnológica capazes de atrair investimentos estrangeiros diretos ao país.
Como destaca o empresariado, “a diplomacia precisa ir além da retórica. O Brasil precisa de acordos, não apenas de sorrisos”.
A reaproximação diplomática entre Brasil e EUA
Desde o início do terceiro mandato de Lula, a relação entre Brasil e Estados Unidos vem passando por uma reconfiguração. Após os anos de distanciamento e tensão na era Bolsonaro, o governo busca reconstruir pontes e restabelecer a confiança com Washington.
A aposta do Itamaraty é que o diálogo com Trump — mesmo fora do poder — pode abrir caminhos políticos e econômicos para o Brasil, sobretudo no contexto de uma disputa geopolítica crescente entre China e Estados Unidos.
O Brasil tenta se posicionar como mediador pragmático, mantendo boas relações com ambos os gigantes, sem se alinhar completamente a nenhum dos lados.
O fator Ásia: estratégia de neutralidade diplomática
Escolher a Malásia como local do encontro não foi coincidência. A região, considerada neutra no tabuleiro geopolítico, oferece o ambiente ideal para reduzir tensões e focar em negócios.
O cenário asiático também permite ao Brasil reforçar sua presença econômica no continente, especialmente junto aos países da ASEAN, que têm grande interesse em comércio agrícola e tecnologia verde.
Além disso, a presença de Lula na cúpula asiática reforça o discurso do governo de que o Brasil é um ator global relevante, com capacidade de diálogo em múltiplos eixos.
O teste de fogo da diplomacia brasileira
O encontro entre Lula e Trump será, na prática, um teste decisivo para a diplomacia brasileira. O governo precisa demonstrar que é capaz de converter gestos políticos em ganhos econômicos concretos.
O sucesso dependerá da habilidade do presidente e do Itamaraty em controlar o roteiro, evitar armadilhas e extrair concessões reais do ex-presidente americano.
Caso contrário, o evento corre o risco de se tornar mais um episódio de cordialidade simbólica, sem impacto prático nas relações bilaterais.
Riscos e possíveis cenários
Três cenários são avaliados por diplomatas brasileiros:
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Encontro produtivo: Trump sinaliza abertura para revisar tarifas e discutir cooperação tecnológica, fortalecendo a imagem de Lula como articulador global.
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Encontro neutro: cordialidade mútua, sem anúncios concretos — o mais provável, segundo analistas.
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Encontro desastroso: declarações polêmicas ou provocações públicas de Trump, gerando repercussão negativa e constrangimento diplomático.
O Itamaraty trabalha para que apenas o primeiro cenário prevaleça.
O simbolismo da reunião entre Lula e Trump
Para o governo brasileiro, o encontro simboliza uma tentativa de reposicionar o país no cenário internacional. Lula busca consolidar a imagem de líder conciliador, capaz de dialogar tanto com democratas quanto com republicanos, com Xi Jinping e com Joe Biden.
O desafio é transformar essa versatilidade em vantagens diplomáticas e econômicas concretas, reafirmando o papel do Brasil como ponte entre diferentes blocos políticos e comerciais.






