Bolsonaro só poderá pedir progressão de regime em 2033, aponta Justiça
A Justiça brasileira confirmou, em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que a progressão de regime de Bolsonaro só poderá ser solicitada em 24 de abril de 2033, quando o ex-presidente terá 78 anos. A informação, tornada pública nesta quarta-feira (3/12/2025), reorganiza o cenário político e jurídico do país, uma vez que fixa com precisão o horizonte temporal para qualquer possibilidade de flexibilização da pena que o mantém preso.
Condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e por liderar uma articulação destinada a impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022, Bolsonaro cumpre pena em cela especial na sede da Polícia Federal, em Brasília.
O documento do Tribunal de Execuções Penais (TEP) detalha que, mesmo com os pedidos já apresentados pela defesa, não há previsão legal que permita antecipar a progressão de regime de Bolsonaro, uma vez que a legislação exige o cumprimento de, no mínimo, 1/3 da pena no regime fechado. Com a pena iniciada oficialmente em 4 de agosto de 2025, após decisão do STF que converteu o descumprimento de medidas cautelares em prisão domiciliar, o marco temporal está consolidado.
Regime semiaberto só em 2033: implicações políticas e jurídicas
Segundo os cálculos do TEP, caso cumpra os requisitos exigidos, Bolsonaro poderá passar para o semiaberto em abril de 2033. Na prática, isso significa que o ex-presidente poderia trabalhar ou estudar durante o dia, mas precisaria retornar à unidade prisional para dormir.
A Justiça também estabeleceu que a liberdade condicional só poderá ser requerida em 13 de março de 2037, poucos dias antes de Bolsonaro completar 82 anos. O encerramento da pena está previsto para 2052, transformando o caso em uma das condenações de maior impacto político da história recente.
As decisões reforçam que qualquer alteração desse cronograma depende de eventual revisão do processo pelo STF — possibilidade considerada improvável entre ministros, que avaliam que o caso já foi analisado de forma definitiva.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, a definição sobre a progressão de regime de Bolsonaro reduz a margem de incertezas e coloca o foco sobre a estabilidade institucional do país. Na avaliação de juristas próximos ao Supremo, o tribunal busca deixar claro que não haverá brechas nem flexibilizações motivadas por pressões políticas.
Conflitos internos do bolsonarismo agravam cenário
Enquanto a defesa trabalha para reverter a condenação, o ambiente político em torno do ex-presidente vive um período de desgaste. A crise envolvendo Flávio Bolsonaro, seus irmãos e a ex-primeira-dama Michelle agravou tensões no PL e lançou dúvidas sobre a coesão do grupo.
Os desentendimentos públicos entre Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro e Michelle — ocorridos entre domingo (30) e segunda (1º) — ampliaram a percepção de que o núcleo político do ex-presidente enfrenta dificuldades internas justamente no momento em que a base tenta reorganizar estratégias para 2026.
O PL já sinalizou que deve rever acordos regionais articulados anteriormente pelo próprio Bolsonaro, o que evidencia um esvaziamento gradual da capacidade de influência do ex-presidente sobre decisões internas do partido.
Analistas afirmam que a confirmação do prazo para a progressão de regime de Bolsonaro tende a intensificar disputas internas no campo da direita, especialmente porque o ex-presidente, preso, perde mobilidade política e capacidade de articulação direta, aumentando a autonomia de lideranças regionais e nacionais do PL.
Cálculo da pena: como a Justiça chegou à data de 2033
O Tribunal de Execuções Penais utilizou como base:
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o início oficial da pena em 4 de agosto de 2025;
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o total da condenação: 27 anos e três meses;
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regras de progressão estabelecidas pela Lei de Execução Penal;
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dias remidos já reconhecidos, que são poucos, segundo o documento.
Para chegar à data da progressão de regime de Bolsonaro, o TEP considerou a necessidade de cumprimento mínimo de 1/3 da pena. Como o ex-presidente foi condenado por crimes com violência institucional e grave ameaça à estabilidade democrática, não houve concessão de benefícios atípicos ou aceleração de contagem de tempo.
A partir desse parâmetro, a estimativa jurídica fixa:
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Regime semiaberto: abril de 2033
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Liberdade condicional: março de 2037
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Término da pena: 2052
Essa previsão poderá mudar apenas se o STF acatar o recurso que pede a nulidade do processo. No entanto, a Corte já sinalizou que não há irregularidades processuais capazes de justificar revisão integral da condenação.
Defesa aposta em recurso, mas ambiente jurídico é desfavorável
Mesmo publicamente confiante, a equipe jurídica de Bolsonaro reconhece reservadamente que o recurso apresentado ao STF enfrenta dificuldades consideráveis. Ministros têm indicado, nos bastidores, que não há disposição para rediscutir o mérito do caso.
A defesa insiste na tese de que houve cerceamento de direitos e que o processo incluiu interpretações abusivas do conceito de tentativa de golpe. Entretanto, juristas que acompanham o caso afirmam que o acervo probatório é robusto e que a condenação foi sustentada por ampla maioria.
Além disso, o pedido de anulação esbarra na própria jurisprudência do Supremo, que restringe a possibilidade de revisão de decisões colegiadas já transitadas na Corte.
Impacto institucional: o que representa manter Bolsonaro preso até 2033
A confirmação do prazo para a progressão de regime de Bolsonaro tem efeito direto sobre o equilíbrio político do país. Ao delimitar o horizonte de permanência no regime fechado, a Justiça estabelece um marco temporal que restringe o protagonismo político do ex-presidente ao longo da próxima década.
O caso também inaugura um novo capítulo na relação entre instituições. A condenação e seu cumprimento são vistos por analistas como um sinal de maturidade institucional, ao demonstrar que o Estado é capaz de sancionar ações contra a democracia.
Especialistas avaliam que o debate político deve migrar, nos próximos anos, para a disputa sobre quem ocupará o espaço deixado pelo líder da direita, especialmente com eleições municipais em 2026 e a construção de alianças para 2028 e 2030.
Clima no STF: ministros querem previsibilidade e estabilidade
O Supremo pretende blindar o processo de pressões políticas e garantir que as etapas sejam cumpridas dentro da normalidade institucional. A Corte entende que decisões como a fixação da data da progressão de regime de Bolsonaro evitam interpretações dúbias e reduzem margem para conflitos entre os Poderes.
Um ministro ouvido reservadamente afirmou que o STF “não pode permitir que ruídos extrajurídicos gerem instabilidade”. A expectativa na Corte é que, a partir de agora, o julgamento passe a ser tratado como encerrado.
Perspectivas: o que pode mudar até 2033
Para alterar o cronograma atual, apenas três caminhos seriam possíveis:
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Anulação do processo — improvável.
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Reconhecimento de nulidade parcial — também visto como remoto.
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Remição acelerada com trabalhos e estudos na prisão — depende do comportamento e das oportunidades ao preso.
Mesmo no cenário mais favorável, nenhuma hipótese permitiria que Bolsonaro deixe o regime fechado antes do período estabelecido.






