Banco Master tem aumento de capital aprovado pelo Banco Central para evitar intervenção
O Banco Central do Brasil aprovou o aumento de capital do Banco Master e da Will Financeira (Will Bank), ambas controladas pelo grupo Master, que vem enfrentando sérias dificuldades financeiras desde o veto à operação de venda de ativos para o Banco de Brasília (BRB). A decisão, publicada nesta segunda-feira (13) no Diário Oficial da União, representa um movimento estratégico para reforçar a estrutura patrimonial das instituições e afastar, ao menos por ora, o risco de uma intervenção direta da autoridade monetária.
A medida eleva o capital social do Banco Master de R$ 1,167 bilhão para R$ 1,586 bilhão, um aumento de R$ 419 milhões, enquanto a Will Financeira, que opera sob a marca Will Bank, passa de R$ 370 milhões para R$ 788 milhões. O reforço de capital chega em um momento decisivo para o conglomerado financeiro, controlado pelo empresário Daniel Vorcaro, que tenta restabelecer a confiança do mercado e garantir liquidez suficiente para honrar compromissos com investidores e credores.
Banco Master: aumento de capital e tentativa de recuperação
A aprovação do aumento de capital do Banco Master é interpretada por analistas como um esforço emergencial para restaurar a estabilidade financeira da instituição, que sofreu abalos após a suspensão da operação de aquisição de ativos pelo BRB, em setembro de 2025. O Banco Central manteve preocupações em torno da sucessão dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos pelo Master, levantando dúvidas sobre a liquidez e a qualidade dos ativos da instituição.
Com o veto, o grupo de Daniel Vorcaro passou a enfrentar pressões regulatórias crescentes, ao mesmo tempo em que tenta evitar uma intervenção administrativa. A injeção de capital surge, portanto, como uma resposta imediata às exigências do regulador e como um sinal de que os controladores ainda possuem capacidade financeira para sustentar as operações.
De acordo com fontes próximas ao setor, o reforço patrimonial foi obtido por meio de aportes diretos dos sócios e da reestruturação de participações societárias. A operação, no entanto, não resolve por completo as preocupações de solvência do grupo, que ainda precisa enfrentar desafios relacionados à composição de seus ativos e à rentabilidade de suas carteiras de crédito.
Crescimento acelerado e riscos de liquidez
Nos últimos anos, o Banco Master adotou uma estratégia de crescimento agressiva, marcada pela captação intensa de recursos via CDBs com rendimentos acima da média do mercado — muitos deles protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Essa política atraiu milhares de investidores em busca de rentabilidade, mas também aumentou a exposição da instituição a riscos de liquidez e de inadimplência.
Segundo o balanço de 2024, o Master tinha R$ 12,4 bilhões em CDBs a vencer até o fim daquele ano, frente a R$ 18,3 bilhões em ativos totais. O estoque geral de CDBs e CDIs emitidos somava R$ 49,8 bilhões, um volume expressivo para um banco de médio porte. Parte relevante desses recursos foi aplicada em precatórios e participações em empresas com dificuldades financeiras, ativos considerados de baixa liquidez e alta volatilidade.
Esse perfil de investimento elevou o risco de descasamento entre prazos de captação e pagamento. Em caso de quebra, o FGC teria de cobrir aplicações de até R$ 250 mil por investidor, o que poderia gerar um impacto relevante no sistema de garantias.
Will Bank: prejuízo bilionário e reforço de capital
A outra empresa do grupo, o Will Bank, também recebeu autorização do Banco Central para aumentar seu capital de R$ 370 milhões para R$ 788 milhões, com o objetivo de recompor indicadores prudenciais e reduzir o déficit acumulado. No primeiro semestre de 2025, o banco digital registrou prejuízo líquido de R$ 244,7 milhões, sobre um total de R$ 14,36 bilhões em ativos, segundo dados do setor financeiro.
O balanço aponta que cerca de R$ 7,44 bilhões estão concentrados em operações de crédito, o que pressiona a margem de lucro e amplia o risco de inadimplência. O cenário adverso levou o controlador Daniel Vorcaro a buscar alternativas de capitalização, inclusive por meio da venda de participações a investidores estratégicos. Entre os interessados esteve o apresentador e empresário Luciano Huck, que teria avaliado a compra de uma fatia do banco digital, embora as negociações não tenham avançado.
Veto à operação com o BRB e impacto regulatório
O episódio que marcou a crise do grupo ocorreu em setembro, quando o Banco Central vetou a aquisição de parte dos ativos do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília). A transação, que visava injetar liquidez e aliviar o balanço do Master, foi considerada inadequada sob a ótica prudencial, uma vez que o regulador apontou inconsistências na avaliação de risco e na sucessão de obrigações financeiras.
Mesmo após ajustes na estrutura da operação, o BC manteve o veto, indicando preocupações com a sustentabilidade de longo prazo das carteiras de crédito e dos instrumentos de captação do banco. A decisão acabou por acelerar a deterioração da confiança do mercado, levando o grupo a adotar medidas emergenciais, como a venda de ativos e o aumento de capital agora aprovado.
O caso também reacendeu discussões sobre o papel da supervisão bancária no Brasil e sobre a responsabilidade das instituições financeiras que adotam estratégias agressivas de captação em um ambiente de juros elevados e competição intensa entre bancos médios.
Daniel Vorcaro tenta blindar o grupo Master
O controlador do conglomerado, Daniel Vorcaro, vem conduzindo pessoalmente as negociações com o Banco Central e potenciais investidores. Fontes próximas à diretoria afirmam que o empresário busca garantir a continuidade das operações e evitar que o grupo entre em regime de intervenção ou liquidação extrajudicial, o que representaria um duro golpe para o mercado financeiro.
A principal prioridade, segundo analistas, é restaurar a confiança dos investidores institucionais e pessoas físicas, que respondem pela maior parte da base de captação via CDBs. O aumento de capital é uma sinalização de comprometimento com o equilíbrio financeiro, mas o grupo ainda precisa apresentar um plano de reestruturação mais amplo, com redução de riscos e revisão de ativos de difícil liquidez.
O nome de Vorcaro, que já é conhecido por seu histórico de aquisições ousadas e pela tentativa de expandir o portfólio de bancos médios, volta ao centro do debate sobre a regulação e transparência do sistema bancário brasileiro.
O que significa o aumento de capital do Banco Master para o mercado
A aprovação do aumento de capital pelo Banco Central é vista como um fôlego temporário, mas importante, para o grupo. A injeção de novos recursos melhora os índices de Basileia e liquidez imediata, fatores fundamentais para garantir a solvência e a confiança junto a investidores e agências de rating.
Por outro lado, especialistas alertam que a situação ainda requer monitoramento. O mercado aguarda a divulgação dos resultados financeiros do segundo semestre para avaliar se o aporte de capital será suficiente para estancar as perdas e permitir uma recuperação sustentável.
Para os reguladores, o caso do Banco Master serve como exemplo de como estratégias de crescimento acelerado podem comprometer a saúde financeira de instituições de médio porte, especialmente em cenários de alta de juros e retração de crédito.
Desafios e perspectivas do grupo Master
Com o aumento de capital autorizado, o Banco Master e o Will Bank ganham tempo para ajustar seus balanços e revisar suas estratégias de risco. Entretanto, os desafios permanecem significativos: manter a liquidez, conter prejuízos e restaurar a credibilidade junto ao público investidor.
O mercado observa atentamente os próximos passos de Daniel Vorcaro, que deverá apresentar um plano de reestruturação mais robusto ao Banco Central nos próximos meses. A expectativa é que o grupo promova uma diversificação dos ativos, reduzindo a dependência de precatórios e ativos problemáticos, além de fortalecer a governança e a transparência das operações.
Caso o plano seja bem-sucedido, o grupo poderá recuperar parte de sua relevância no setor bancário nacional, evitando medidas mais drásticas por parte do regulador. Caso contrário, cresce o risco de uma intervenção direta do Banco Central, cenário que o controlador tenta a todo custo evitar.






