Brasil e Japão avançam em parceria estratégica para ampliar recuperação de pastagens degradadas
O acordo de cooperação Brasil Japão, firmado nesta terça-feira (18) na Agrizone da COP30, em Belém, marca um dos movimentos mais expressivos da agenda ambiental e agrícola brasileira na última década. O memorando assinado entre o Ministério da Agricultura, a Embrapa e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) se insere no Programa Caminho Verde Brasil, que prevê a recuperação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em dez anos, consolidando uma política pública de longo alcance no combate à degradação de solos e na ampliação da produtividade rural.
O entendimento entre os países inaugura a chamada Parceria Verde pela Agricultura, um eixo estrutural do governo brasileiro para transformar áreas improdutivas em regiões de alto potencial agrícola, especialmente no Cerrado. O acordo de cooperação Brasil Japão inclui diagnóstico ambiental profundo, monitoramento científico e desenvolvimento de novas tecnologias para intensificação sustentável — uma frente que coloca o Brasil entre os protagonistas globais em agricultura de baixa emissão.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou durante a assinatura o desafio de mobilizar, em escala nacional, áreas que já pertencem ao setor produtivo, mas permanecem degradadas. “Queremos tirar o máximo de proveito daquilo que já foi ocupado e que está com algum nível de degradação. Temos 40 milhões de hectares e o desafio é fazer isso entrar em operação”, afirmou. Segundo ele, 3 milhões de hectares já foram recuperados com o apoio do Renovagro nos últimos três Planos Safra.
A iniciativa reforça o papel da COP30 como plataforma para acordos multilaterais de impacto, especialmente aqueles que integram agricultura, sustentabilidade e inovação tecnológica — setores centrais para que o país avance na transição para uma economia verde e regenerativa.
Cooperação técnica entre Brasil e Japão ganha novo fôlego na COP30
O acordo de cooperação Brasil Japão estabelece diretrizes específicas para a expansão da recuperação de pastagens, combinando investimentos públicos, apoio científico da Embrapa e aporte técnico e financeiro da JICA. O projeto se concentra inicialmente no Cerrado, região que reúne alguns dos mais graves casos de degradação do solo, mas também os maiores potenciais de produtividade.
Fávaro detalhou que a capacidade de investimento japonês ainda está sendo definida: “As tratativas para um novo EcoInvest estão avançadas. Tenho certeza que Jica vai se somar e fará investimento em um futuro próximo colocando recursos em investimentos além de pesquisa”. Ele explicou que tanto a JICA quanto a Embrapa já trabalham no dimensionamento dos aportes necessários para equalizar os valores da parceria.
A agência japonesa negocia, paralelamente, com o Ministério da Fazenda, o Ministério da Agricultura e o BNDES para estruturar o financiamento que será destinado ao novo ciclo do programa. O ministro ressaltou que o valor “robusto” será anunciado em momento oportuno, conforme alinhamento técnico concluído entre as partes.
O embaixador do Japão no Brasil, Hayashi Teiji, enfatizou o compromisso japonês com a agenda agrícola brasileira. Segundo ele, o Japão avalia ampliar o apoio financeiro para agricultores e vê a parceria como estratégica para os dois países. “Precisamos levar ao público a importância da recuperação das pastagens degradadas”, afirmou.
Meta de 40 milhões de hectares e impacto na segurança alimentar global
A meta do Programa Caminho Verde Brasil — recuperar 40 milhões de hectares — é considerada uma das mais ambiciosas do planeta. A transformação de áreas degradadas em terras férteis e produtivas tem potencial para:
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aumentar a oferta de alimentos;
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reduzir emissões por mudança de uso da terra;
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diminuir pressão sobre novas áreas de vegetação nativa;
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ampliar capacidade de sequestro de carbono;
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fortalecer a segurança alimentar global;
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elevar a competitividade do agronegócio brasileiro.
Com o acordo de cooperação Brasil Japão, o governo brasileiro sinaliza ao mercado internacional que pretende vincular crescimento econômico à agenda ambiental, alinhando-se às exigências de sustentabilidade impostas por grandes compradores.
O projeto deve durar entre cinco e dez anos, com início estimado para abril de 2026.
Tecnologia, manejo sustentável e monitoramento contínuo
O acordo articula uma rede de iniciativas orientadas para ciência aplicada, com destaque para:
• mapeamento por satélite de pastagens degradadas;
• desenvolvimento de metodologias inovadoras para recuperação de solos;
• expansão da agricultura regenerativa;
• monitoramento contínuo por IA e dados georreferenciados;
• ampliação das técnicas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF);
• capacitação de produtores rurais;
• intensificação sustentável e manejo de baixo impacto.
O uso dessas tecnologias reforça o papel da Embrapa como líder em pesquisa agropecuária e amplia a internacionalização de sua expertise.
Acordo reforça aproximação estratégica entre Brasil e Japão
A assinatura do memorando na COP30 simboliza mais do que um acordo ambiental. Representa um aprofundamento diplomático entre Brasil e Japão, países que mantêm relações econômicas e tecnológicas de longa data. Com forte presença empresarial japonesa em território brasileiro, o novo ciclo de cooperação tende a expandir investimentos, especialmente em cadeias agrícolas estratégicas.
O acordo de cooperação Brasil Japão também abre portas para iniciativas conjuntas de inovação climática e captura de carbono, temas prioritários para a transição energética global.
COP30 se consolida como palco de pactos internacionais estruturantes
Com presença de líderes globais, governadores, representantes do agro e cientistas, a COP30 se transforma em um ponto de inflexão para o Brasil. Ao assumir protagonismo em projetos de mitigação e adaptação climática, o país reforça seu papel no debate internacional e demonstra capacidade de propor políticas de longa duração.
A Parceria Verde pela Agricultura se soma a outras iniciativas apresentadas na conferência, como a expansão de créditos verdes, o desenvolvimento de novos mecanismos de financiamento sustentável e o fortalecimento da agricultura de baixo carbono.
Desafios logísticos e financeiros ainda serão enfrentados
Apesar da relevância do acordo, especialistas apontam desafios que precisarão ser administrados ao longo do programa, entre eles:
• financiamento suficiente para atingir escala nacional;
• capacitação e articulação com produtores rurais;
• integração entre União, estados e municípios;
• monitoramento rigoroso para evitar retrocessos;
• governança contínua em um programa que transcende mandatos presidenciais.
O governo sustenta que o acordo de cooperação Brasil Japão fortalecerá, justamente, essa governança, ao estabelecer compromissos formais, compartilhamento de tecnologia e metas claras.
Impacto no agronegócio e nas exportações brasileiras
Com a recuperação de 40 milhões de hectares, o Brasil poderá ampliar de forma significativa:
• produtividade no Cerrado;
• exportações agrícolas;
• competitividade internacional;
• qualidade do solo;
• sustentabilidade das cadeias de carne, grãos e fibras.
O programa também dialoga com demandas de mercados como União Europeia e Ásia, que exigem compromissos ambientais mais rígidos na importação de produtos agropecuários.






