Derrubada do IOF expõe crise entre Executivo e Legislativo e agita mercado financeiro
Impactos da derrubada do IOF nas finanças do governo e no comportamento do mercado
A recente derrubada do IOF pelo Congresso Nacional desencadeou uma onda de incertezas no mercado financeiro e revelou o aprofundamento da tensão entre os Poderes da República. O decreto presidencial, que visava aumentar a arrecadação por meio do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), foi rejeitado com ampla maioria nas duas Casas Legislativas, minando os planos do Executivo de atingir o déficit fiscal zero em 2025.
Esse movimento político gerou reações imediatas: o dólar iniciou o dia em alta, enquanto a bolsa de valores brasileira operou em queda, reflexo direto da insegurança dos investidores quanto à sustentabilidade fiscal do país. A derrubada do IOF, além de comprometer uma arrecadação estimada em R$ 10 bilhões, obrigará o governo a revisar o Orçamento e propor novos contingenciamentos.
Neste cenário volátil, também ganham relevância os fatores externos, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, o posicionamento do Federal Reserve (Fed) quanto aos juros e a trégua temporária entre Irã e Israel, que pode influenciar o apetite global por risco.
O que significa a derrubada do IOF para o Brasil?
A derrubada do IOF simboliza mais do que uma derrota do governo federal no Congresso. Ela representa uma mudança no equilíbrio de forças entre os Poderes. Ao revogar o decreto presidencial, o Congresso assumiu protagonismo nas decisões fiscais do país, indicando que medidas impopulares, mesmo que voltadas ao equilíbrio fiscal, não passarão sem resistência.
Além do embate político, o impacto prático dessa decisão é direto nas contas públicas. A equipe econômica havia calculado que o aumento do IOF traria R$ 10 bilhões em receitas adicionais. Sem essa verba, o governo precisará recorrer a cortes em áreas sensíveis como saúde, educação e infraestrutura, ou ainda repensar a estrutura tributária do país.
A rejeição também evidencia a fragilidade da articulação política do Executivo com o Congresso, um alerta para futuras propostas fiscais, reformas e pautas estruturantes.
Mercado reage com aversão ao risco após derrubada do IOF
A primeira resposta do mercado à derrubada do IOF foi imediata: o dólar subiu 0,63% e chegou à cotação de R$ 5,5536, enquanto o Ibovespa recuou 1,02%, alcançando 135.767 pontos. Esses movimentos são impulsionados por receios de que a perda de arrecadação leve a um maior desequilíbrio fiscal e, consequentemente, ao aumento do risco-país.
Além disso, os investidores estão atentos ao impacto indireto que essa decisão pode ter sobre a trajetória dos juros no Brasil. Caso o governo adote políticas fiscais expansionistas ou tenha dificuldade em cortar gastos, o Banco Central pode ser pressionado a manter os juros altos por mais tempo para conter pressões inflacionárias.
Mesmo os ativos de renda fixa e títulos do Tesouro tiveram variações negativas, refletindo o clima de cautela.
O contexto internacional e a tensão com o Fed
A derrubada do IOF ocorre em um ambiente global já carregado de incertezas. A trégua entre Irã e Israel trouxe algum alívio aos mercados, mas ainda é vista como frágil. Além disso, os Estados Unidos vivem um novo capítulo da guerra comercial com a reativação do tarifaço promovido por Donald Trump, que afeta diretamente os fluxos globais de mercadorias e capital.
Em paralelo, o presidente do Fed, Jerome Powell, voltou a ser criticado pelo ex-presidente Donald Trump por manter as taxas de juros inalteradas pela quarta vez consecutiva. Trump vem pressionando por cortes de juros, alegando que a política monetária atual prejudica o crescimento. Esse embate agrava a instabilidade institucional e coloca ainda mais incertezas sobre os rumos da economia global.
Para o Brasil, qualquer movimento no Fed tem repercussão direta sobre a taxa de câmbio e a atratividade dos ativos locais. Com o cenário fiscal mais fragilizado pela derrubada do IOF, o país pode perder competitividade diante de outros emergentes, principalmente se os juros nos EUA se mantiverem elevados por mais tempo.
Governo sob pressão: alternativas após a derrubada do IOF
Com a derrubada do IOF, o governo terá de buscar alternativas para recompor o orçamento. A tendência é de que bloqueios e contingenciamentos sejam anunciados em breve, afetando a execução de políticas públicas em 2025.
Uma das possibilidades é o aumento de outros tributos ou a aceleração da proposta de reforma tributária, que tramita no Congresso e visa simplificar a cobrança de impostos no país. No entanto, o ambiente político atual não parece favorável a mais medidas impopulares.
A avaliação interna no Palácio do Planalto é de que a derrota legislativa foi orquestrada por uma aliança entre os presidentes da Câmara e do Senado, que demonstraram sintonia rara em um contexto de fragmentação política. A consequência direta é o fortalecimento do Congresso como força decisória nas pautas econômicas.
Investidores atentos aos próximos passos do governo
A reação do mercado à derrubada do IOF reflete o temor de que o Brasil perca o controle das contas públicas em um momento de desaceleração global. O acúmulo de pressões internas e externas torna o ambiente de negócios mais imprevisível, aumentando a volatilidade dos ativos e afastando investimentos estrangeiros.
Nesse contexto, o governo será obrigado a sinalizar de forma clara o compromisso com a responsabilidade fiscal, sob pena de deterioração ainda maior dos indicadores econômicos. A falta de uma resposta rápida e eficaz à perda de arrecadação pode provocar rebaixamentos na nota de crédito do Brasil e dificultar o acesso ao crédito externo.
Além disso, é esperado que o Executivo retome o diálogo com o Congresso em busca de medidas consensuais que possam garantir a sustentabilidade do orçamento e acalmar os mercados.
A derrubada do IOF e os desafios da governabilidade fiscal
A derrubada do IOF escancarou a fragilidade do governo federal diante do Congresso e impôs um desafio monumental à equipe econômica. Com a necessidade urgente de ajustes, o país vive um momento crítico para sua política fiscal, justamente em um cenário global adverso.
Os próximos dias serão decisivos para entender como o Executivo reagirá, se haverá novos contingenciamentos e qual será a estratégia adotada para manter a credibilidade do Brasil diante dos investidores. Mais do que uma derrota política, essa medida representa um divisor de águas na relação entre os Poderes e na condução da política econômica brasileira.






