>> Envie sua dúvida de carreira, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: diva.executivo@valor.com.br
“Estou há dois anos trabalhando numa empresa. Não acho o ambiente ruim, mas o trabalho em si não é muito estimulante. Recentemente, recebi uma proposta para voltar para o meu antigo emprego, ganhando mais. Na época, eu saí de lá porque, mais uma vez, estava me sentindo desestimulada e quis buscar novas oportunidades. No entanto, não achei algo que me completasse plenamente. Devo aceitar?”
Gerente de produtos, 33 anos
Uma dica que dou para todas as pessoas independentemente do momento de carreira em que estão é: mantenha as portas abertas. Sempre que você for mudar de emprego, não saia “chutando o pau da barraca”. Por maior que seja a insatisfação, é bom manter uma relação cordial com os lugares pelos quais você passou.
Isso não significa, é claro, deixar seu senso crítico de lado e fechar os olhos para os problemas da empresa. É importante que possamos ser nós mesmos no ambiente de trabalho, sentir que temos voz e que nossos feedbacks são escutados, porém, é possível fazer tudo isso e, ainda assim, não queimar pontes.
Colunista lembra que receber um convite para retornar a um antigo emprego é um bom sinal, mas que é preciso refletir sobre os motivos que levaram a deixar o cargo pela primeira vez — Foto: Unsplash
Começo o artigo por esse ponto porque é importante entender que, quando uma organização na qual já atuamos entra em contato com uma nova proposta, isso é um reconhecimento profissional valioso. Quer dizer que não só mantivemos uma boa relação de trabalho, como também fizemos uma diferença positiva naquele lugar — do contrário, nosso nome nem apareceria na roda de conversa sobre novas contratações.
Tal reconhecimento, contudo, não deve nos constranger a aceitar uma vaga que, no fundo, não nos interessa. Até porque, concordar em retornar para a antiga empresa pelos motivos errados pode, na verdade, destruir tudo o que você construiu.
Será que o fato de você já ter passado por um lugar, saído de lá por não achar o trabalho estimulante e ainda por cima retornar para uma atividade que não exatamente faz os seus olhos brilharem não pode afetar o seu desempenho? Como será a sua atuação nessas circunstâncias? E o seu engajamento? Você terá motivação para fazer o seu melhor?
Por isso, o conselho que posso dar em uma situação como essa é: reflita bastante sobre todos os pontos que contribuíram para a sua decisão de deixar aquele emprego.
Entender as suas razões e analisar se elas continuarão a existir nesta segunda passagem pela empresa é fundamental. Se mesmo com uma função nova, um cargo mais alto e um salário mais robusto, as suas insatisfações relacionadas à companhia continuam, então, talvez, seja melhor agradecer a oportunidade e continuar buscando algo que realmente gere aquele sentimento de satisfação. Algo que preencha e dê sentido à sua vida profissional.
Para isso, contudo, é preciso, de fato, saber quais são os seus desejos, quais os seus objetivos de carreira, enfim, qual o seu propósito. Lembrando que nada disso é estático e que essa “lista” pode mudar — e provavelmente vai — ao longo da sua trajetória profissional.
Agora, se você gostava da empresa, do que fazia e acha que a nova oportunidade está alinhada com o seu propósito, não perca a chance. A vantagem, neste caso, é que você já tem familiaridade com a cultura organizacional, não levará tanto tempo para adaptar-se ao estilo e ritmo de trabalho, pode contar com colegas de trabalho para te dar um suporte na nova função e tem uma boa reputação profissional.
São conquistas valiosas que devem ser preservadas, por isso, reforço: não se guie pela insatisfação atual e pela comodidade de retornar ao conforto do antigo emprego. Pese na balança cada um dos cenários e avalie como qual caminho tem mais chances de conduzi-la por uma jornada realmente estimulante. E já que nos dois trabalhos você sente falta de algo estimulante, vale refletir sobre o que exatamente você gostaria de ter em um trabalho e ir atrás disso.