Hapvida despenca mais de 40% após queda no Ebitda e piora da sinistralidade no 3T25
A Hapvida viveu, nesta quinta-feira (13), um dos dias mais tensos de sua história recente no mercado financeiro. As ações da operadora de planos de saúde registraram queda superior a 40% ao longo da tarde, após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025 (3T25), que evidenciaram deterioração operacional, aumento da sinistralidade e um Ebitda ajustado significativamente abaixo das estimativas dos analistas.
Mesmo com um lucro líquido ajustado em alta — resultado da reversão de eventos pontuais — investidores reagiram de maneira negativa ao conjunto dos números apresentados e ao sinal de que os desafios operacionais da companhia ainda devem persistir pelos próximos meses.
A reação intensa na Bolsa refletiu, sobretudo, a percepção de que a Hapvida enfrenta um ambiente mais complexo do que o inicialmente precificado pelo mercado, especialmente diante de pressões estruturais no setor de saúde suplementar.
Resultados evidenciam pressão sobre margens da Hapvida
No relatório divulgado ao mercado, a Hapvida informou que o Ebitda ajustado do período somou R$ 746,4 milhões, representando uma queda de 17,6% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Analistas avaliaram que o patamar ficou muito aquém do esperado e reforça a tendência de pressão sobre as margens da operadora.
O lucro líquido ajustado, por outro lado, atingiu R$ 338 milhões, uma alta de 12,7% na comparação anual. O número, porém, foi insuficiente para atenuar a forte reação do mercado, já que investidores concentraram suas atenções no desempenho operacional — considerado o termômetro mais importante da eficiência da empresa.
A sinistralidade caixa, indicador que mede o custo assistencial da operadora em relação à receita, avançou para 75,2%. O percentual representa uma alta de 1,3 ponto percentual em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 1,4 ponto percentual frente ao 3T24.
Para o setor de saúde suplementar, sinistralidade mais elevada sugere aumento na utilização dos serviços de saúde pelos beneficiários ou um desequilíbrio entre reajustes de mensalidades e custos. Ambos fenômenos pressionam a rentabilidade.
Expansão da rede própria eleva custos e afeta resultados
A Hapvida atribuiu parte da piora na sinistralidade à expansão agressiva de sua rede própria de hospitais, ambulatórios e unidades de pronto atendimento. Ao longo de 2025, a companhia adicionou 917 leitos — dos quais 500 já operacionais — e 25 novas unidades ambulatoriais.
Embora esse crescimento faça parte de uma estratégia de longo prazo, voltada para ampliar o controle de custos, melhorar a experiência do paciente e aumentar a capilaridade comercial da empresa, a abertura de novas unidades cria um efeito transitório negativo nas margens. Quando novos leitos e hospitais entram em operação, o uso inicial costuma ser menor que a capacidade plena, reduzindo eficiência, aumentando custos fixos e pressionando indicadores operacionais.
Segundo a própria empresa, a aceleração da expansão foi influenciada por fatores sazonais e conjunturais, como inverno mais rigoroso, viroses regionais e aumento da frequência de utilização nos planos.
No release de resultados, a companhia destacou: “Trata-se de um efeito transitório, que tende a se diluir à medida que a ocupação amadurece e as novas estruturas substituem a rede credenciada”.
Mercado reage negativamente e papéis da Hapvida desabam
A reação do mercado foi imediata. Por volta das 17h05, as ações da Hapvida acumulavam queda de 41,27%, uma das maiores baixas do pregão e um dos movimentos mais bruscos já registrados para uma operadora de saúde listada na Bolsa brasileira.
O Ibovespa, por sua vez, recuava 0,30% no mesmo horário, evidenciando que o tombo da empresa decorreu de fatores específicos e não de uma aversão generalizada ao risco no mercado local.
Analistas do Itaú BBA classificaram o trimestre como uma “performance fraca” e afirmaram que o resultado veio “25% abaixo da estimativa” do banco. Em relatório, apontaram que as pressões atuais não parecem temporárias e que o cenário operacional pode demandar revisões adicionais nas projeções de lucro e margens para os próximos trimestres.
Por que a sinistralidade preocupa tanto o mercado?
O índice de sinistralidade é um dos indicadores mais acompanhados por investidores que analisam empresas de saúde. Ele reflete quanto a companhia gasta com atendimentos, exames, internações e demais procedimentos em relação ao que arrecada com mensalidades.
Quando a sinistralidade aumenta, duas dificuldades surgem:
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Redução imediata das margens, já que custos assistenciais crescem acima das receitas.
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Restrição na capacidade de reajustar preços, pois operadoras dependem de aprovação regulatória ou de negociação contratual para repassar aumentos aos clientes.
Para uma companhia do porte da Hapvida, que atua com preços mais competitivos e uma base ampla de beneficiários, oscilações na sinistralidade podem ter impacto significativo no resultado — exatamente o que ocorreu no 3T25.
Expansão acelerada: estratégia necessária, mas de maturação lenta
A Hapvida afirma que a ampliação da rede própria faz parte de sua estratégia de longo prazo, com foco em:
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maior previsibilidade de custos;
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maior controle sobre operações;
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redução da dependência de prestadores externos;
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melhoria no atendimento ao beneficiário;
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aumento da eficiência na utilização dos serviços.
Porém, essa estratégia exige tempo para maturação.
Unidades recém-inauguradas operam, geralmente, com baixa ocupação, enquanto os custos fixos permanecem elevados. O período para maturação pode variar de 12 a 36 meses, dependendo da região, da demanda e da velocidade de migração de pacientes da rede credenciada para a nova estrutura própria.
Esse período de transição — inevitável em processos de expansão — explica parte significativa da queda observada no Ebitda ajustado e da pressão sobre a sinistralidade caixa no trimestre.
Desempenho comercial e cenário competitivo
Apesar do recuo operacional, a companhia reforçou que permanece em posição competitiva favorável em relação a concorrentes. Em teleconferência realizada pela manhã, afirmou que o desempenho do trimestre ficou aquém do desejado, mas que, comparativamente, sua posição ainda supera a maioria das demais operadoras.
O mercado de saúde suplementar tem enfrentado desafios estruturais desde a pandemia, com pressões inflacionárias, judicialização crescente, aumento no custo de insumos e maior demanda por serviços de saúde mental e atenção primária.
Nesse ambiente, empresas com estrutura integrada — como a Hapvida, que combina operação hospitalar com planos de saúde — tendem a apresentar maior capacidade de ajuste. Ainda assim, essa vantagem estrutural não imuniza a companhia contra ciclos de utilização mais intensa e sazonalidades adversas.
Projeções e perspectivas para 2026
Para o próximo ano, analistas enxergam dois cenários possíveis:
Cenário 1: normalização gradual
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estabilização da sinistralidade após amadurecimento de novos leitos;
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melhora no Ebitda ajustado;
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avanço moderado nas margens;
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possível recuperação nas ações da Hapvida.
Cenário 2: pressão prolongada
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manutenção da utilização acima da média;
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maturação mais lenta das novas unidades;
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necessidade de novos investimentos;
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revisão negativa de projeções.
A definição de qual cenário prevalecerá dependerá, principalmente, da evolução da taxa de ocupação dos novos hospitais e do comportamento da demanda por serviços no início do próximo ano.
Hapvida enfrenta o trimestre mais desafiador desde a fusão
O 3T25 se consolida como um marco negativo para a Hapvida. A combinação entre:
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Ebitda fraco,
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sinistralidade elevada,
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expansão com maturação lenta,
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percepções negativas dos analistas, e
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reação severa do mercado
colocou a empresa sob atenção redobrada.
Mesmo assim, a operadora reforça que a expansão da rede própria é estratégica e que o impacto nas margens deve ser transitório. A capacidade de execução, tradicionalmente reconhecida, será determinante para uma eventual retomada.
Para investidores, o desafio está em distinguir ruídos conjunturais de riscos estruturais. E, nos próximos trimestres, o mercado deve acompanhar atentamente qualquer sinal de estabilização da sinistralidade — elemento central para o desempenho futuro da Hapvida.






