Ibovespa cai pelo sexto dia e sofre impacto do tarifaço de Trump
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, encerrou a sessão desta segunda-feira (14) em queda pelo sexto pregão consecutivo. Em meio à intensificação do chamado “tarifaço” promovido por Donald Trump, o índice caiu 0,65%, atingindo os 135.298,99 pontos. A aversão ao risco cresceu no mercado nacional, mesmo com as bolsas de Wall Street fechando em alta.
Enquanto o cenário internacional esboçava sinais de recuperação, o mercado doméstico sentiu o peso das incertezas geradas pelo aumento de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros. Essa tensão comercial elevou o dólar, que fechou o dia cotado a R$ 5,5842, com alta de 0,66%. O episódio evidencia o quanto o Ibovespa se torna vulnerável diante de decisões internacionais de forte impacto econômico.
Entenda o tarifaço de Trump contra o Brasil
Aumento de tarifas impacta diretamente o mercado brasileiro
A medida tomada por Donald Trump — um tarifaço de até 50% sobre produtos brasileiros — provocou reações imediatas. O governo brasileiro tenta negociar uma redução dessas tarifas para 30% e a criação de cotas específicas para produtos como café e laranja. Outra alternativa em debate é o adiamento da entrada em vigor da medida por 60 a 90 dias.
Esse contexto político e comercial intensificou o clima de incerteza entre os investidores, pressionando o desempenho do Ibovespa. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um comitê interministerial para dialogar com os setores mais afetados, enquanto discute a assinatura de um decreto de reciprocidade.
Dados econômicos pressionam ainda mais o Ibovespa
IBC-Br registra retração e amplia clima de cautela no mercado
Outro fator que contribuiu para a queda do Ibovespa foi a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB. O indicador apontou queda de 0,74% em maio, frustrando expectativas de estabilidade. Em 12 meses, o índice ainda acumula alta de 0,4%, mas o número negativo no curto prazo elevou a cautela dos investidores.
Além disso, os mercados aguardam uma audiência entre Executivo e Legislativo, marcada pelo STF, para discutir mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o que pode alterar o cenário tributário de aplicações financeiras e impactar diretamente o comportamento do Ibovespa.
Maiores quedas e destaques negativos do Ibovespa
BRF lidera perdas após saída da Previ
A maior queda do dia no Ibovespa foi protagonizada pela BRF (BRFS3), cujas ações recuaram quase 5%. O movimento foi impulsionado pela decisão da Previ — fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil — de vender toda sua posição na companhia, um volume que ultrapassou R$ 1,9 bilhão. O fundo mantinha participação desde a década de 1990.
Essa decisão ocorre no momento em que a BRF está em processo de fusão com a Marfrig (MRFG3), uma combinação que enfrenta resistência da Previ e que levou a CVM a adiar a Assembleia Geral Extraordinária das companhias por 21 dias.
Outras empresas de grande peso também impactaram negativamente o Ibovespa. A Vale (VALE3) registrou queda superior a 1%, apesar da alta do minério de ferro, enquanto a Petrobras (PETR3; PETR4) seguiu o desempenho do petróleo Brent, que caiu 1,63% no mercado internacional.
Setores em recuperação aliviam perdas do índice
Petz puxa recuperação e fusões ganham destaque
Na contramão do movimento de queda generalizada, a varejista Petz (PETZ3) liderou a ponta positiva do Ibovespa. A empresa passa por um processo de recuperação após fortes perdas recentes e há expectativa de fusão com a Cobasi, o que vem elevando o interesse dos investidores no papel.
essa movimentação positiva, no entanto, foi insuficiente para compensar o peso das quedas das gigantes do setor de commodities e de alimentos. A forte aversão ao risco internacional e a volatilidade causada por decisões políticas externas mantiveram o Ibovespa pressionado.
Cenário internacional: Wall Street em alta, mas Ibovespa na contramão
Trump aumenta tarifas sobre diversos países e eleva tensão global
Diferentemente do Ibovespa, os índices de Wall Street registraram ganhos nesta segunda-feira. O movimento foi impulsionado pela expectativa de novos acordos comerciais entre os Estados Unidos e parceiros internacionais. No entanto, o Brasil ficou fora desse radar positivo: além de ser o único país a receber uma tarifa de 50%, também enfrenta incertezas sobre eventuais sanções maiores.
O presidente dos EUA voltou a ameaçar novas tarifas, agora contra a Rússia, caso não haja avanços em relação ao conflito com a Ucrânia. As tarifas sobre Moscou podem chegar a 100%, o que adiciona mais volatilidade ao cenário internacional. Na Europa e Ásia, os mercados operaram com pouca direção, refletindo o impacto das novas medidas.
Dólar sobe com aversão ao risco e pressiona ativos brasileiros
Câmbio reage a turbulências políticas e comerciais
Com o aumento da aversão ao risco e as incertezas externas, o dólar voltou a subir frente ao real, encerrando o dia em R$ 5,5842. A alta de 0,66% amplia as pressões sobre o Ibovespa, especialmente em setores com custos dolarizados, como mineração e petróleo.
Essa valorização cambial reforça o movimento defensivo dos investidores, que buscam proteção em ativos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro americano. A tendência é que, enquanto persistirem os ruídos geopolíticos e o risco regulatório interno, o Ibovespa continue operando com volatilidade elevada.
Expectativa com temporada de balanços pode influenciar Ibovespa
Mercado aguarda resultados dos grandes bancos
Outro fator observado com atenção pelos investidores é o início da temporada de divulgação dos balanços do segundo trimestre. Os grandes bancos abrem os resultados nesta terça-feira (15), e o desempenho das instituições financeiras poderá ajudar a sustentar ou acentuar o movimento de queda do Ibovespa.
A depender dos números apresentados, o índice pode encontrar fôlego para uma recuperação parcial ou, ao contrário, intensificar a correção em curso caso os lucros venham abaixo das expectativas.
Ibovespa sob pressão em meio à tensão comercial e incertezas fiscais
A sequência de seis quedas consecutivas confirma um momento de pressão intensa sobre o Ibovespa, afetado diretamente por fatores externos — como o tarifaço de Trump — e internos — como a queda da atividade econômica e a indefinição sobre o IOF.
A postura mais conservadora dos investidores, combinada ao avanço do dólar e à instabilidade política global, mantém o índice em terreno negativo. O desempenho futuro do Ibovespa dependerá da evolução das negociações comerciais entre Brasil e EUA, da resposta do governo federal, dos resultados corporativos e da capacidade do mercado em reverter a atual aversão ao risco.






