Inflação em outubro desacelera e reduz preços no supermercado
A inflação em outubro apresentou a menor variação para o mês em quase três décadas, indicando um alívio consistente no custo de vida do brasileiro. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu apenas 0,09%, resultado bem abaixo das estimativas de mercado.
O movimento foi impulsionado principalmente pela redução dos preços da energia elétrica e dos alimentos consumidos em casa. Esses dois componentes tiveram papel decisivo para conter o avanço do índice e refletiram diretamente nas despesas das famílias.
Desaceleração da inflação em outubro
A variação de 0,09% representa a menor taxa de outubro desde 1998. No acumulado de 12 meses, a inflação ficou em 4,68%, menor patamar desde janeiro e abaixo do teto da meta definida pelo Banco Central. Esse cenário reforça a percepção de que a inflação caminha para encerrar o ano sob controle.
O desempenho positivo ocorre em um contexto de câmbio mais favorável e redução dos custos de energia. O dólar atingiu em outubro o menor nível em 17 meses, ajudando a conter os preços de produtos importados e insumos industriais.
O que ficou mais barato no supermercado
Os alimentos consumidos em casa registraram queda de 0,16% em outubro, o quinto mês consecutivo de retração. Essa sequência de reduções tem contribuído para aliviar o orçamento doméstico, especialmente nas classes de renda mais baixa.
Entre os produtos que mais contribuíram para o recuo, destacam-se cereais, carnes, hortaliças e alguns itens industrializados que tiveram ajustes negativos em razão de promoções e de uma oferta mais regular.
Além dos alimentos, bens duráveis como eletrodomésticos e móveis apresentaram comportamento de preços mais estável, beneficiados pelo câmbio e por ações promocionais de fim de ano.
Energia elétrica e bandeira tarifária
Outro fator determinante foi a queda de 2,39% na conta de luz residencial. A redução decorreu da mudança de bandeira tarifária, que passou da vermelha 2 para a vermelha 1, diminuindo o valor adicional cobrado na fatura. Essa alteração contribuiu para frear a inflação do grupo habitação, um dos mais representativos do IPCA.
Com a energia mais barata, há reflexos positivos também para o setor produtivo, que enfrenta custos menores de operação, especialmente em segmentos intensivos em consumo elétrico.
Setores que influenciaram a estabilidade dos preços
Os grupos de vestuário, transportes e bens duráveis mantiveram estabilidade em outubro, o que colaborou para conter o avanço do índice geral. O comportamento dos combustíveis, aliado à manutenção de preços de passagens urbanas e produtos industrializados, reforçou a tendência de moderação inflacionária.
Esses fatores demonstram uma dinâmica de preços mais previsível e contribuem para melhorar as expectativas do mercado financeiro quanto ao comportamento da inflação nos próximos meses.
Expectativas para os próximos meses
Com o resultado de outubro, analistas revisaram para baixo as projeções do IPCA no encerramento do ano. A expectativa predominante agora é de uma inflação próxima a 4,4%, dentro do limite superior da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
Para novembro, a tendência é de leve avanço nos índices, influenciada por fatores sazonais e pelas compras de fim de ano. Ainda assim, o movimento deve ser moderado, com projeções entre 0,18% e 0,19%.
Em dezembro, o aumento da demanda por alimentos e serviços pode pressionar o indicador, mas as previsões ainda apontam para um fechamento abaixo dos 5% em 12 meses.
Perspectiva sobre juros e política monetária
A desaceleração da inflação em outubro fortalece a possibilidade de redução gradual da taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Atualmente em 15% ao ano, a taxa básica de juros tem sido utilizada para conter a demanda e equilibrar as expectativas inflacionárias.
Com os resultados recentes, parte do mercado passou a considerar possível o início de um ciclo de cortes a partir de janeiro, enquanto outra parcela aposta em março como o momento mais provável para o primeiro ajuste.
A trajetória da Selic dependerá do comportamento dos preços de serviços e do cenário internacional, que ainda apresenta riscos associados a flutuações cambiais e políticas monetárias mais restritivas em economias desenvolvidas.
Inflação de serviços ainda preocupa
Apesar do alívio nos preços de bens e alimentos, a inflação de serviços segue em patamar elevado. Em outubro, o grupo registrou alta de 0,41%, acumulando avanço de 6,2% em 12 meses. Esse segmento é sensível à renda e ao nível de atividade econômica, e tende a responder com mais lentidão às políticas de juros.
A manutenção de uma inflação de serviços acima da média dos demais componentes indica que o processo de desinflação ainda não está completamente consolidado. O Banco Central deve manter uma postura cautelosa até que os efeitos de sua política sejam mais evidentes sobre esse grupo.
Efeitos sobre o poder de compra
A queda da inflação em outubro se traduz em ganho direto para o poder de compra das famílias. Com os alimentos e a energia mais baratos, sobra mais renda para outras despesas, o que pode estimular o consumo em setores de varejo, vestuário e eletroeletrônicos.
No entanto, é necessário equilíbrio: a retomada forte do consumo pode gerar pressões inflacionárias no futuro. O desafio do Banco Central e do governo é preservar o ambiente de estabilidade sem comprometer o crescimento econômico.
Alívio para o Banco Central
Se a tendência de desaceleração se mantiver até dezembro, o Banco Central encerrará o ano sem precisar justificar o descumprimento da meta inflacionária. A instituição tem adotado postura de comunicação mais cautelosa, priorizando a previsibilidade e o compromisso com a estabilidade de preços.
A nova regra de meta contínua, em vigor desde o início do ano, reforça a necessidade de observar o comportamento do IPCA em períodos móveis de 12 meses. O indicador de outubro fortalece a credibilidade da autoridade monetária e dá mais fôlego para calibrar a política de juros de forma mais flexível em 2026.
A inflação em outubro marca um ponto de virada no cenário econômico brasileiro. O índice de 0,09% representa não apenas um dado estatístico, mas o reflexo de um ambiente mais estável, em que o controle de preços começa a se consolidar.
O consumidor sente o impacto positivo no supermercado, o setor produtivo ganha previsibilidade e o Banco Central dispõe de espaço para avaliar ajustes na política monetária. O desafio agora é sustentar esse ritmo de desaceleração sem comprometer o crescimento.






