Lula defende combate ao negacionismo climático e alerta para tragédias ambientais na COP30
Durante o discurso de abertura da COP30, realizada em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que chegou o momento de “impor uma nova derrota aos negacionistas” do clima. Em uma fala marcada por críticas a líderes globais que resistem à agenda ambiental, Lula destacou os impactos já visíveis das mudanças climáticas e defendeu o papel do Brasil como protagonista na transição ecológica global.
O evento, que reúne delegações de mais de 190 países, segue até o dia 21 de novembro, e tem como foco central o cumprimento das metas do Acordo de Paris e a ampliação dos compromissos de descarbonização. A fala de Lula na COP30 reafirmou o tom diplomático do governo brasileiro diante do cenário internacional, mas também trouxe uma mensagem política clara: o combate à desinformação e à negação científica será parte da política climática nacional.
“É hora de impor nova derrota aos negacionistas”, afirma Lula na COP30
O presidente usou o palco da COP30 para alertar sobre o avanço do negacionismo climático e o crescimento de discursos que minam os esforços científicos e institucionais na luta contra o aquecimento global. Sem citar nomes, Lula criticou “os obscurantistas que controlam algoritmos e espalham ódio e medo”, numa referência indireta a líderes de extrema-direita que questionam a ação humana nas mudanças climáticas.
Segundo o presidente, a resistência à agenda verde vem se intensificando em diversas partes do mundo, e o papel do Brasil é liderar o diálogo internacional pelo clima com base na ciência e na justiça social.
A fala de Lula na COP30 ocorre em um momento de tensão geopolítica: países como Estados Unidos e Argentina decidiram não enviar delegações oficiais para o evento, o que reforça a polarização em torno da pauta ambiental. O presidente Donald Trump, por exemplo, ironizou a realização da conferência em Belém e criticou obras de infraestrutura associadas ao evento.
Mudanças climáticas: o alerta sobre uma “tragédia do presente”
Lula ressaltou que a crise climática já é uma tragédia em curso, e não apenas uma ameaça futura. Em seu discurso, citou o tornado que atingiu o Paraná, deixando seis mortos, e o furacão Melissa, que devastou o Caribe no fim de outubro, com cerca de 60 vítimas fatais.
Para o presidente, essas tragédias exemplificam a urgência de acelerar as políticas ambientais e reduzir o consumo de combustíveis fósseis. “O aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, afirmou, destacando o impacto desproporcional da crise climática sobre os países mais pobres.
Os efeitos extremos do clima vêm se tornando mais frequentes: secas prolongadas, enchentes históricas, queimadas recordes e deslizamentos em regiões urbanas têm causado perdas humanas e econômicas bilionárias.
O papel do Brasil como liderança ambiental global
Desde o início do terceiro mandato, Lula tem buscado recolocar o Brasil como protagonista nas discussões climáticas internacionais. O país sediar a COP30 em Belém, no coração da Amazônia, reforça o simbolismo dessa estratégia — e projeta uma imagem de liderança na defesa da biodiversidade.
O governo brasileiro tem apostado em políticas de redução do desmatamento, ampliação de energias renováveis e fortalecimento da bioeconomia amazônica. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia caiu 22% em 2024, consolidando o menor índice desde 2018.
Durante o evento, Lula destacou que a preservação das florestas é também uma questão de soberania e desenvolvimento sustentável. A proposta é associar a conservação ambiental à geração de emprego, renda e tecnologia verde.
O discurso reforça a imagem do Brasil como mediador entre as potências desenvolvidas e as nações em desenvolvimento — papel que o país desempenhou historicamente nas COPs anteriores.
COP30: um desafio logístico e político em Belém
Realizar a COP30 na Amazônia representou um desafio duplo: estrutural e diplomático. Lula reconheceu as dificuldades de organização em Belém, cidade que precisou de investimentos significativos em infraestrutura, transporte e segurança para receber chefes de Estado, ministros e delegações de centenas de países.
Mas o governo tratou o evento como um marco político e simbólico. Pela primeira vez, uma conferência da ONU sobre o clima é realizada em plena região amazônica, área central do debate sobre o aquecimento global.
O evento é presidido pelo embaixador André Corrêa do Lago, diplomata brasileiro e especialista em negociações ambientais. A expectativa é que a COP30 resulte em compromissos concretos de financiamento climático, especialmente em relação ao Fundo Amazônia e à compensação para países que preservam florestas tropicais.
A crítica à lentidão na execução do Acordo de Paris
Em um dos momentos centrais do discurso, Lula na COP30 alertou que, embora o mundo esteja “andando na direção certa”, a velocidade é insuficiente. O presidente lembrou que, sem o Acordo de Paris, o planeta estaria a caminho de um aquecimento de quase 5°C até o fim do século, mas que, no ritmo atual, ainda há risco de ultrapassar o limite de 1,5°C — considerado o ponto crítico pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
A fala reforça a cobrança por ações concretas e metas mais ambiciosas de redução de emissões, especialmente por parte das nações ricas, responsáveis historicamente pela maior parte da poluição atmosférica.
Lula reiterou que o Brasil continuará defendendo o financiamento internacional para a transição energética e a criação de mecanismos de compensação justa, que garantam recursos para países que protegem ecossistemas estratégicos.
Negacionismo climático: o novo front da disputa política global
O discurso de Lula na COP30 também reflete o embate entre ciência e negacionismo, que ganhou força com a ascensão de lideranças populistas. O termo “negacionistas climáticos” foi usado pelo presidente para se referir aos que rejeitam a influência humana sobre o aquecimento global, disseminando desinformação e atrasando políticas ambientais.
Segundo analistas, a fala de Lula busca repolitizar a questão climática, colocando-a no centro do debate democrático. O presidente defende que enfrentar o negacionismo é essencial para proteger não apenas o meio ambiente, mas também a própria democracia, ameaçada por campanhas coordenadas de desinformação.
O tema também tem relevância interna: o governo pretende reforçar políticas educacionais e de comunicação científica, estimulando a alfabetização ambiental e a participação social em decisões públicas.
A COP30 e a oportunidade para o Brasil liderar uma agenda verde
O Brasil chega à COP30 com credenciais fortes. O país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo — com quase 90% da eletricidade proveniente de fontes renováveis — e um dos maiores potenciais de expansão em energia solar, eólica e biocombustíveis.
A meta brasileira é atingir a neutralidade de carbono até 2050, com etapas intermediárias já em 2030. Além disso, o governo quer impulsionar a chamada “diplomacia da floresta”, reunindo países tropicais da América do Sul, África e Ásia para fortalecer o bloco ambiental no cenário global.
Para os analistas internacionais, a COP30 é também um teste político para Lula, que precisa equilibrar o discurso ambiental com as pressões internas de setores produtivos — especialmente agronegócio e mineração —, que temem restrições excessivas.
O Brasil no centro da nova geopolítica climática
A fala de Lula na COP30 marca um momento estratégico para o Brasil. Ao denunciar o negacionismo climático e pedir uma nova vitória da ciência e da cooperação internacional, o presidente reforça a posição do país como mediador entre o Norte e o Sul Global.
A conferência em Belém simboliza o retorno do Brasil à cena diplomática multilateral, após anos de afastamento da agenda climática. Com o evento sediado na Amazônia, o governo busca transformar o bioma em um motor de desenvolvimento sustentável e em símbolo global da resistência ao colapso climático.
O desafio agora é transformar discurso em prática — com políticas públicas consistentes, investimentos em transição energética e uma mobilização permanente contra o negacionismo e a desinformação.






