3Tentos anuncia expansão bilionária e aposta no processamento de milho no Pará
A 3Tentos, uma das principais empresas do agronegócio brasileiro, anunciou a compra da Grão Pará Bioenergia, consolidando seu novo projeto de processamento de milho em Redenção, no Pará. A operação, estimada em R$ 1,5 bilhão, marca um dos movimentos mais ambiciosos da companhia na consolidação de um ecossistema agroindustrial integrado na região Norte. Com essa aquisição, a empresa reforça sua estratégia de expansão geográfica e amplia sua presença na bioenergia, em linha com a crescente demanda por etanol de milho, DDG e coprodutos energéticos derivados de grãos.
A nova unidade é considerada um marco estratégico. Com conclusão prevista para 2028, o complexo terá capacidade para processar 2,1 mil toneladas de milho por dia, produzir 935 metros cúbicos de etanol diariamente, além de gerar 587 toneladas de DDGS e 37 toneladas de óleo por dia. A dimensão do projeto revela o peso que o processamento de milho ganhou nos últimos anos como alternativa energética, industrial e logística na indústria brasileira.
A compra, no entanto, ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), além do cumprimento de outras condições contratuais. Caso o processo seja concluído conforme o previsto, o Pará passará a sediar uma das maiores operações de processamento de milho da região Norte, posicionando-se como futuro polo de agroindústria.
Pará desponta como nova fronteira para o processamento de milho
A decisão da 3Tentos reflete uma estratégia maior: transformar o Pará em uma nova região de destaque para o agronegócio brasileiro. Segundo a direção da companhia, o Estado reúne condições climáticas, logísticas e geográficas que podem torná-lo um novo Mato Grosso — referência nacional no cultivo intensivo de grãos e no desenvolvimento de cadeias industriais associadas.
De acordo com avaliações internas da companhia, o avanço da agricultura no Pará é acompanhado de melhorias no acesso a insumos, ampliação da infraestrutura rodoviária e crescimento da oferta de áreas aptas ao cultivo de grãos. A expansão da fronteira agroindustrial cria um ambiente favorável à instalação de novas plantas de processamento de milho, que dependem de grandes volumes de matéria-prima e proximidade com mercados consumidores.
A dinâmica observada no Pará reproduz fenômenos que marcaram outras regiões agrícolas emergentes: o crescimento simultâneo da agricultura e da indústria, com encadeamentos produtivos capazes de transformar a economia regional.
Processamento de milho ganha protagonismo na bioenergia brasileira
Nos últimos anos, o processamento de milho se transformou em um dos pilares do mercado de bioenergia no Brasil. Tradicionalmente concentrada na produção de etanol de cana, a matriz energética incorporou o milho como alternativa competitiva, especialmente em regiões com grande oferta de grãos e menor presença de usinas sucroenergéticas.
O movimento segue tendência observada em países como Estados Unidos e Argentina, onde o etanol de milho é amplamente utilizado como combustível e fonte de energia industrial. A produção de DDG (grão seco por destilação) — coproduto altamente valorizado na alimentação animal — adiciona ainda mais relevância econômica ao modelo, ao lado do óleo de milho, que abastece indústrias alimentícias, farmacêuticas e de biodiesel.
A nova unidade da 3Tentos reforça esse processo. Com tecnologia avançada e capacidade produtiva robusta, o projeto deve consolidar o Pará como novo polo regional de processamento de milho, ampliando a presença da bioenergia no Norte do país.
Capacidade produtiva e impacto industrial do novo projeto
O escopo técnico da nova planta revela seu potencial de transformar a economia local. Com capacidade diária de processamento de milho de 2,1 mil toneladas, a unidade terá estrutura comparável às maiores plantas em operação no Centro-Oeste.
A produção estimada inclui:
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935 m³ de etanol por dia: combustível estratégico para a transição energética e para a diversificação da matriz de biocombustíveis;
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587 toneladas de DDGS por dia: insumo fundamental para rações de gado bovino, suíno e aves, ampliando o potencial da cadeia pecuária;
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37 toneladas de óleo por dia: produto versátil, capaz de abastecer indústrias químicas, alimentícias e energéticas.
O modelo verticalizado da 3Tentos garante sinergia entre originação, industrialização e comercialização de grãos, ampliando a competitividade da nova operação. A empresa pretende replicar no Pará o ecossistema que desenvolveu no Rio Grande do Sul e no Centro-Oeste, fortalecendo a cadeia produtiva ligada ao processamento de milho.
Estratégia de expansão alcança Tocantins, Goiás e Minas Gerais
Paralelamente ao investimento industrial, a 3Tentos confirmou que continuará abrindo lojas de insumos no Pará, ampliando a capacidade de originação e dando suporte direto aos produtores rurais da região. Essa estratégia se somará à expansão planejada para Tocantins, Goiás e Minas Gerais — estados que integram o Vale do Araguaia e que apresentam condições favoráveis à agricultura intensiva.
A empresa destaca que a replicação de seu ecossistema completo dentro desses territórios permite ganhos logísticos, maior proximidade com produtores e aumento da eficiência na cadeia de fornecimento para operações de processamento de milho. O objetivo é consolidar uma rede capaz de sustentar o crescimento industrial previsto nos próximos anos.
No plano estratégico enviado ao mercado, a 3Tentos projeta alcançar receita líquida de R$ 50 bilhões até 2032. Isso significaria um crescimento médio anual de 18,6% — ritmo considerado agressivo, porém sustentável dentro do modelo de expansão geográfica e industrial adotado.
Visão do CEO: Pará como novo polo agrícola e industrial
Para o CEO João Marcelo Dumoncel, o Pará reúne características semelhantes às observadas no Mato Grosso há três décadas — período em que a região passou por transformação significativa, convertendo áreas pouco exploradas em zonas de produção agrícola intensiva.
Segundo o executivo, a evolução recente da agricultura paraense é acompanhada de perto por um processo gradual de industrialização. O processamento de milho, afirma, tende a potencializar ainda mais essa dinâmica, criando cadeias integradas de valor e impulsionando o desenvolvimento local.
Dumoncel ressalta que a chegada da indústria gera estímulos simultâneos à agricultura, fortalecendo a lógica de que ambos os setores crescem de forma interdependente. “Quando a indústria chega, a agricultura cresce. É um movimento natural”, afirmou ao comentar a aquisição e as projeções futuras.
Com a instalação da nova unidade, a companhia acredita que o Pará está no caminho para consolidar um dos mais promissores polos agroindustriais do país, especialmente no segmento de processamento de milho.
Impactos econômicos esperados para a região
A introdução de um grande complexo de processamento de milho tende a gerar efeitos positivos amplos para a economia local. Entre os principais impactos esperados estão:
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Geração de empregos diretos e indiretos: desde a construção até a operação da planta;
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Aumento da demanda por milho: ampliando cultivo regional e estimulando tecnologia de produção;
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Desenvolvimento logístico: melhorias em infraestrutura de transporte e armazenagem;
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Expansão da agroindústria: atraindo novos investimentos para a região;
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Diversificação econômica: reduzindo dependência de setores tradicionais.
Especialistas apontam que a instalação de unidades industriais desse porte pode provocar salto econômico em círculos concêntricos, estimulando desde pequenas propriedades rurais até empresas de transporte, engenharia, comércio de máquinas e serviços especializados.
Brasil amplia rota do milho na bioenergia
O avanço da 3Tentos ocorre em um momento de consolidação do Brasil como potência no etanol de milho. A expansão do processamento de milho contribuiu para alterar o mapa da bioenergia no país, tradicionalmente concentrado na cana-de-açúcar. Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e agora o Pará se posicionam estrategicamente na rota de produção.
A diversificação da matriz oferece vantagens competitivas importantes:
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Menor sazonalidade: o milho permite produção contínua durante o ano;
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Sinergia agrícola-industrial: integração com pecuária por meio do DDG;
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Aproveitamento de excedentes: uso de grãos que antes tinham destinação limitada;
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Redução de custos logísticos: produção mais próxima das áreas de cultivo.
O movimento também está alinhado à transição energética global, que demanda biocombustíveis menos poluentes e menos sensíveis às flutuações climáticas.






