Selic em 15% coloca Brasil como o 2º maior juro real do mundo e amplia impacto na economia
Copom mantém Selic em 15% e surpreende parte do mercado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic em 15%, frustrando a expectativa de parte dos investidores que apostavam em um corte de 0,25 ponto percentual. A decisão, embora amplamente antecipada, reforça o Brasil como o segundo país com maior juro real do planeta, atrás apenas da Turquia.
Segundo levantamento da MoneYou e da Levante Intelligence, a taxa real de juros no Brasil alcança 9,51% ao ano, enquanto a média global de 40 países analisados é de apenas 1,45%. Esse patamar elevado gera efeitos diretos sobre a inflação, a atração de capitais externos e, sobretudo, o custo de crédito para famílias e empresas.
Brasil no ranking global dos maiores juros reais
Com a Selic em 15%, o Brasil se mantém no topo do ranking internacional de juros reais. A liderança segue com a Turquia, com taxa de 12,34%, enquanto Rússia (4,79%), Colômbia (4,38%) e México (3,77%) aparecem bem abaixo do Brasil.
Esse cenário reforça a posição do país como destino de capital estrangeiro de curto prazo, já que investidores buscam rendimento em ambientes de juros elevados. Porém, o efeito colateral é o enfraquecimento da atividade econômica interna, uma vez que o custo do crédito limita o consumo e os investimentos produtivos.
Fatores que levaram à manutenção da Selic em 15%
A decisão do Copom reflete principalmente o risco fiscal brasileiro. O aumento de gastos do governo e a dificuldade em cumprir metas de resultado primário aumentam a percepção de incerteza sobre as contas públicas. Essa fragilidade se soma ao cenário internacional de guerra tarifária e à volatilidade cambial, que pressionam a autoridade monetária a manter uma postura conservadora.
Mesmo com sinais de desaceleração da inflação, a ausência de responsabilidade fiscal impede cortes imediatos nos juros. Para analistas, a estratégia do Banco Central é clara: enviar uma mensagem de firmeza ao governo federal, cobrando disciplina fiscal antes de iniciar um ciclo de redução da taxa básica.
Impactos da Selic em 15% sobre a economia brasileira
A Selic em 15% gera efeitos amplos em diversos setores da economia. Entre os principais impactos estão:
1. Crédito mais caro e restrito
Bancos e instituições financeiras elevam os custos de financiamento, dificultando o acesso ao crédito para empresas e consumidores. Isso afeta desde a compra de bens duráveis até os investimentos de longo prazo.
2. PIB em desaceleração
Com menor capacidade de consumo e investimentos reduzidos, o crescimento econômico fica comprometido. Projeções já indicam que o Produto Interno Bruto pode crescer abaixo do potencial em 2025 e 2026.
3. Pressão sobre a dívida pública
A manutenção da Selic em 15% aumenta consideravelmente o custo do endividamento brasileiro. O Tesouro Nacional precisa destinar mais recursos para pagamento de juros, o que dificulta o equilíbrio fiscal.
4. Impacto no setor produtivo
Indústrias e comércio argumentam que a política monetária em vigor sufoca a recuperação econômica, já que o consumo interno segue retraído e o ambiente de negócios permanece desafiador.
Comparação internacional: Brasil e outros mercados
Enquanto o Brasil mantém a Selic em 15%, outros países seguem tendência de corte de juros. O Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, já sinalizou a possibilidade de reduzir a taxa em 0,25 ponto percentual, observando os dados de emprego e inflação.
Na Europa e na Ásia, a política monetária também caminha para ajustes mais brandos. Isso torna o Brasil uma exceção, com política monetária restritiva em um ambiente de flexibilização global. O resultado é ambíguo: o país se torna atrativo para capital externo, mas paga o preço do baixo dinamismo econômico doméstico.
Inflação e projeções do mercado
Apesar da recente queda da inflação, que foi influenciada pela retração do consumo, pela valorização do real e pela redução nos preços de commodities, o IPCA segue acima da meta estipulada pelo Banco Central. Isso mantém as expectativas ancoradas na necessidade de juros elevados.
Analistas projetam que a inflação pode continuar cedendo ao longo de 2025, mas a ausência de reformas estruturais e o descontrole fiscal ainda pesam contra um movimento de cortes mais agressivo.
Quando a Selic pode cair?
O mercado aposta que eventuais cortes só devem ocorrer a partir do segundo trimestre de 2026, caso o governo consiga reverter a trajetória das contas públicas e o IPCA mantenha sua tendência de queda. A chave estará na condução fiscal e na confiança dos investidores em relação ao equilíbrio das finanças públicas.
Enquanto isso, a expectativa é de que a Selic permaneça em 15%, mantendo o Brasil entre os países com maior juro real do mundo.
Perspectivas futuras e cenário fiscal
Para que a política monetária comece a flexibilizar, será necessária uma combinação de fatores:
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Cumprimento de metas fiscais;
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Aprovação de reformas estruturais;
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Redução consistente da inflação;
Sem esses elementos, o Banco Central deve resistir às pressões políticas e de setores produtivos, mantendo a Selic em 15% como instrumento de contenção de riscos.
A decisão do Copom de manter a Selic em 15% consolida o Brasil como um dos países com maior juro real do mundo. Essa posição tem benefícios, como a atração de capital externo, mas traz sérios desafios internos, especialmente no consumo, nos investimentos e no custo da dívida pública.
Enquanto o cenário fiscal não for corrigido, a perspectiva é de manutenção dos juros em patamar elevado, prolongando os efeitos de desaquecimento econômico e restringindo a retomada do crescimento.






