BC alerta: 48,7 milhões ainda têm dinheiro esquecido nos bancos; valor parado chega a R$ 9,9 bilhões
O Banco Central voltou a acionar um sinal de alerta para milhões de brasileiros. Segundo levantamento atualizado até outubro, R$ 9,92 bilhões permanecem esquecidos em instituições financeiras, aguardando resgate por pessoas físicas e empresas. O montante revela um problema persistente: a grande parte da população ainda desconhece que possui valores a receber ou não concluiu o processo de devolução.
De acordo com o BC, 48,7 milhões de pessoas físicas ainda têm dinheiro parado, somando R$ 7,73 bilhões. Entre empresas, são 4,9 milhões de CNPJs, que juntos acumulam R$ 2,19 bilhões em recursos não resgatados. Os valores fazem parte da base de dados do Sistema de Valores a Receber (SVR), mecanismo criado para devolver ao cidadão valores mantidos em contas antigas, tarifas cobradas indevidamente, saldos de consórcios, entre outros.
Embora tenha havido campanhas para incentivar o resgate, o estoque continua elevado. Até agora, o órgão já devolveu R$ 12,6 bilhões que estavam parados no sistema financeiro. O dado evidencia, ao mesmo tempo, o alcance da ferramenta e a dificuldade de conscientização do público.
Por que ainda há tanto dinheiro esquecido?
A persistência de valores esquecidos reflete uma realidade comum: milhões de brasileiros possuem contas antigas encerradas sem movimentação, tarifas creditadas ou devoluções de consórcios que nunca foram comunicadas. Em muitos casos, a pessoa sequer sabe que tem direito à restituição.
Outro fator decisivo é a mudança nas regras ao longo dos últimos anos. Inicialmente, o Banco Central havia previsto o término do resgate em outubro de 2024. Contudo, para evitar prejuízos ao consumidor, o Ministério da Fazenda esclareceu que não há prazo final — os valores permanecem disponíveis enquanto o titular solicitar à instituição financeira.
A orientação, portanto, é inequívoca: quem possui CPF ou CNPJ deve verificar se há recursos a receber.
Como funciona o sistema de consulta
A consulta continua concentrada no sistema do Banco Central, que permite verificar valores de pessoas físicas — incluindo titulares falecidos — e de empresas. Para recuperar o dinheiro, é obrigatório informar uma chave PIX, que será utilizada exclusivamente para o depósito.
Caso o usuário não tenha chave cadastrada, precisa abrir contato com a instituição financeira responsável ou registrar uma chave e retornar ao sistema para solicitar a devolução. Em valores vinculados a pessoas falecidas, apenas herdeiros, inventariantes ou representantes legais podem solicitar o resgate, mediante termo de responsabilidade.
Após a verificação, o cidadão deve contatar as instituições para seguir o procedimento de devolução quando a transferência automática não estiver habilitada.
PIX automático: nova etapa do sistema
Desde maio, o Banco Central implementou uma inovação que promete agilizar o processo: a solicitação automática de valores, disponível para pessoas físicas que possuam chave PIX do tipo CPF.
Com a função ativada, o usuário não precisa mais entrar periodicamente no sistema. Sempre que um valor for identificado em seu nome, a transferência será feita diretamente pela instituição financeira.
O BC reforça que:
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a adesão é opcional;
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não há aviso individual de pagamento — o depósito surge na conta vinculada à chave;
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bancos que não aderiram à devolução automática continuarão exigindo solicitação manual;
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contas conjuntas também seguem em regime manual.
A novidade amplia a segurança e reduz a burocracia, desde que o cidadão mantenha uma chave ativa e vinculada ao CPF.
Segurança reforçada e alertas contra golpes
Com o aumento de golpes envolvendo supostos “resgates” de valores esquecidos, o Banco Central fortaleceu a camada de segurança do SVR. Agora, o acesso exige conta gov.br nível prata ou ouro e verificação em duas etapas, com validação facial pelo aplicativo oficial.
Essa medida foi criada para reduzir fraudes e proteger dados sensíveis. O órgão também alerta que não envia mensagens, e-mails ou ligações solicitando informações pessoais, códigos de segurança ou senhas. Toda consulta deve ser feita diretamente pelo ambiente oficial, sem intermediários.
O reforço de segurança atende a um cenário de crescente digitalização dos serviços públicos, onde a proteção de dados se tornou essencial para manter a confiança dos usuários e evitar prejuízos financeiros.
Por que os valores permanecem esquecidos?
Segundo técnicos do setor financeiro, a razão central é comportamental: muitos cidadãos deixam de acompanhar contas antigas ou simplesmente não verificam periodicamente se há restituições a receber. Em empresas, a situação se agrava com rotatividade societária, migração de contas e falta de atualização cadastral.
Além disso, valores pequenos — muitas vezes inferiores a R$ 20 — acabam ignorados pelo usuário, ainda que somem bilhões quando analisados de forma agregada.
O Banco Central destaca que, independentemente do valor, todos os recursos pertencem ao cidadão e devem ser recuperados.
Impactos econômicos da devolução
O resgate desses valores redistribui recursos represados no sistema financeiro, gerando impacto especialmente entre famílias de baixa renda. Para especialistas, a liberação desses montantes tem papel de estímulo ao consumo e à liquidez no curto prazo.
A recuperação também beneficia pequenas empresas, que frequentemente possuem valores de tarifas, cobranças indevidas ou saldos remanescentes de contratos antigos.
Ao estimular o resgate, o BC reduz passivos bancários esquecidos e fortalece a transparência no relacionamento entre bancos e consumidores.
Como garantir que o dinheiro será recuperado
Para evitar que valores futuros permaneçam esquecidos, especialistas recomendam:
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manter dados atualizados nas instituições financeiras;
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registrar uma chave PIX definitiva;
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manter controle de contas e consórcios antigos;
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fortalecer a autenticação em dois fatores no gov.br.
A orientação principal, contudo, permanece: verifique regularmente se há dinheiro esquecido. Milhões de brasileiros ainda têm valores parados sem saber.






