Boletim Focus: mercado financeiro reduz previsões de inflação e mantém juros altos para 2025 e 2026
O Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC), voltou a apontar redução nas projeções de inflação para os próximos anos. A pesquisa, que reflete as expectativas de mais de 100 instituições financeiras, mostra um cenário de moderação inflacionária, mas ainda de cautela diante das incertezas fiscais e da política monetária brasileira.
De acordo com o relatório divulgado nesta segunda-feira (29), o mercado reduziu novamente suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 e 2026. A expectativa para 2025 caiu de 4,72% para 4,70%, enquanto a estimativa para 2026 passou de 4,28% para 4,27%. A tendência de leve desaceleração também se estende aos anos seguintes: 3,83% para 2027 e 3,60% para 2028.
Essa revisão reflete o impacto das recentes medidas do Banco Central para controlar a inflação dentro da meta contínua de 3%, com tolerância entre 1,5% e 4,5%. Ainda que as projeções indiquem estabilidade, o Boletim Focus revela que a confiança do mercado depende da manutenção da política fiscal e da credibilidade da autoridade monetária.
Metas contínuas e o novo olhar sobre a inflação
Desde o início de 2025, o Brasil adotou o sistema de meta contínua de inflação, modelo que substituiu o antigo formato anual. O objetivo do Banco Central é tornar a condução da política monetária mais transparente e previsível, ajustando os juros de forma a manter a inflação próxima da meta de 3%.
Diferente do modelo anterior, o novo sistema não “zera” a meta a cada ano. Em vez disso, o BC observa o comportamento da inflação acumulada em 12 meses e sua tendência no médio prazo. Isso significa que a autoridade monetária já considera o impacto das decisões de juros sobre o comportamento dos preços até o primeiro trimestre de 2027.
Essa mudança de metodologia torna o Boletim Focus ainda mais relevante. O documento se consolida como o principal termômetro das expectativas do mercado e influencia diretamente as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa Selic.
Inflação acima da meta e carta pública do BC
Apesar da redução nas projeções futuras, o Brasil ainda enfrenta desafios no curto prazo. A inflação acumulada em 12 meses ultrapassou o teto da meta de 4,5% por seis meses consecutivos até junho, o que obrigou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
No documento, o BC atribuiu o descumprimento da meta a fatores como o aquecimento da atividade econômica, a variação cambial, os custos da energia elétrica e os impactos climáticos adversos. O episódio reforçou o alerta de que, embora o processo de desinflação esteja em curso, ainda há pressões persistentes sobre os preços, especialmente em setores como alimentos e serviços.
Impacto da inflação no poder de compra
A inflação elevada afeta diretamente o poder de compra da população, especialmente entre as famílias de baixa renda. Quando os preços sobem mais rápido do que os salários, o consumo diminui, o endividamento aumenta e o crescimento econômico perde fôlego.
Com o Boletim Focus indicando um IPCA ainda acima do centro da meta, a política de juros altos deve continuar por mais tempo. A manutenção da Selic em 15% ao ano, segundo o mercado, reflete a estratégia do BC de ancorar as expectativas e evitar que o aumento dos gastos públicos pressione ainda mais os preços.
PIB e crescimento moderado em 2025 e 2026
Além das projeções para a inflação, o Boletim Focus também traz estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB), principal indicador do desempenho econômico do país.
O mercado espera que o PIB cresça 2,17% em 2025, ligeiramente acima da estimativa anterior de 2,16%. Para 2026, a expectativa permanece em 1,80%. Esses números indicam um crescimento moderado, sustentado principalmente pelo setor de serviços e por investimentos públicos em infraestrutura.
Ainda assim, a alta taxa de juros deve continuar limitando o consumo e o crédito, o que impede uma expansão mais acelerada da economia. Especialistas avaliam que, caso a inflação siga em trajetória de queda consistente, o BC poderá iniciar um ciclo de cortes graduais na Selic a partir de 2026.
Juros seguem em níveis elevados
As projeções para a taxa básica de juros (Selic) permaneceram inalteradas no Boletim Focus desta semana. Para o fechamento de 2025, o mercado mantém a estimativa de 15% ao ano — nível atual da taxa. Para o fim de 2026, a expectativa é de 12,25% ao ano, enquanto para 2027 o número projetado é de 10,50% ao ano.
Esses dados mostram que o mercado não espera uma reversão rápida da política monetária. O BC deve continuar agindo com prudência, priorizando o controle inflacionário e a estabilidade fiscal.
De acordo com analistas, a combinação de juros altos, câmbio volátil e cenário internacional incerto exige atenção redobrada para evitar desequilíbrios na dívida pública e nos preços internos.
Câmbio e balança comercial: estabilidade e cautela
O Boletim Focus também manteve as projeções para o dólar praticamente estáveis. A taxa de câmbio deve encerrar 2025 em R$ 5,45 e 2026 em R$ 5,50, indicando pouca variação.
A estabilidade cambial é vista como essencial para conter a inflação importada e garantir previsibilidade às empresas que dependem de insumos externos.
Em relação à balança comercial, o relatório aponta leve redução nas estimativas de superávit: de US$ 62 bilhões para US$ 61,15 bilhões em 2025, e de US$ 65,72 bilhões para US$ 65,22 bilhões em 2026.
Mesmo com a queda, os números ainda são considerados positivos e refletem a força do agronegócio e da exportação de commodities.
Investimento estrangeiro direto se mantém firme
O Boletim Focus mostra que o Brasil segue atraindo investimentos estrangeiros diretos (IED), fator que ajuda a equilibrar as contas externas e sustentar o câmbio. A previsão do mercado é de US$ 70 bilhões em entradas líquidas tanto em 2025 quanto em 2026.
A manutenção desses volumes reforça a confiança dos investidores internacionais no país, apesar das incertezas políticas e fiscais. Segundo economistas, o ambiente global de juros mais altos e o apetite por ativos de mercados emergentes devem continuar sustentando o fluxo de capital para o Brasil.
Desafios fiscais e riscos para o cenário econômico
O principal risco apontado por analistas é o desequilíbrio fiscal. O aumento dos gastos públicos, programas sociais e renúncias tributárias podem comprometer o objetivo do governo de equilibrar as contas.
Embora o Boletim Focus mostre expectativas controladas para inflação e câmbio, o mercado ainda observa com cautela o impacto das decisões do governo sobre o arcabouço fiscal e a credibilidade do ajuste das contas públicas.
Uma deterioração fiscal mais intensa poderia provocar nova pressão sobre o dólar e, consequentemente, sobre os preços domésticos.
O que esperar para os próximos meses
Os economistas preveem que o próximo semestre será decisivo para definir o ritmo da economia brasileira. O comportamento do IPCA, os indicadores de atividade e as decisões do BC devem orientar o mercado até o fim de 2025.
Se o controle da inflação se confirmar, o Brasil pode iniciar um ciclo de recuperação mais consistente em 2026. No entanto, o sucesso dessa trajetória dependerá do equilíbrio entre política fiscal responsável e manutenção da confiança dos investidores.
Com base no atual cenário, o Boletim Focus reforça uma mensagem de cautela: o processo de desinflação é gradual, o controle fiscal é essencial e a estabilidade econômica depende de uma política monetária firme e previsível.






