FÁCIL CVM: nova norma simplifica acesso de pequenas empresas ao mercado de capitais
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou recentemente o FÁCIL CVM, um novo regime normativo que busca facilitar o acesso de empresas de menor porte ao mercado de capitais brasileiro. Voltado para companhias com faturamento bruto inferior a R$ 500 milhões, o programa traz simplificações no registro, divulgação de informações e na realização de ofertas públicas, com o objetivo de ampliar a base de emissores e promover o desenvolvimento econômico.
Com a implementação das Resoluções CVM 231 e 232, em vigor desde o dia 2 de julho de 2025, o FÁCIL CVM representa uma iniciativa histórica para democratizar o mercado de capitais, tornar o ambiente regulatório mais acessível e atrativo para pequenos e médios empreendedores e fortalecer a conexão entre o setor produtivo e investidores.
O que é o FÁCIL CVM?
O FÁCIL CVM (Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivos a Listagens) é um novo regime normativo criado pela Comissão de Valores Mobiliários com foco nas chamadas Companhias de Menor Porte (CMP). Estas são empresas com receita bruta anual inferior a R$ 500 milhões e que possuem potencial de crescimento, mas enfrentam desafios significativos para acessar o mercado de capitais nas regras tradicionais.
A proposta do FÁCIL é simplificar exigências burocráticas, reduzir custos de compliance e permitir que essas empresas consigam captar recursos no mercado com mais agilidade e eficiência.
Principais vantagens do regime FÁCIL CVM
Entre os principais diferenciais oferecidos pelo FÁCIL CVM, destacam-se:
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Substituição de documentos complexos: Formulários como o prospecto e a lâmina são substituídos pelo Formulário FÁCIL, mais direto e acessível.
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Periodicidade das informações: Empresas podem apresentar informações semestrais em vez de trimestrais, reduzindo a carga de relatórios.
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Flexibilidade em assembleias: Possibilidade de realizar assembleias com dispensa das regras tradicionais de votação à distância.
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Isenção de relatórios ESG: O regime isenta as empresas da obrigatoriedade de entregar relatórios de sustentabilidade (Resolução CVM 193).
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Quórum reduzido para OPA: Em caso de cancelamento de registro, o quórum de sucesso para Oferta Pública de Aquisição (OPA) será de apenas 50% das ações em circulação — antes, exigia dois terços.
Essas mudanças visam não apenas a desburocratização, mas também a redução de custos operacionais e contábeis, criando um ambiente mais dinâmico e inovador para os emissores.
Modalidades de ofertas públicas no FÁCIL CVM
O novo regime prevê quatro maneiras pelas quais as companhias de menor porte podem realizar ofertas públicas, com ou sem necessidade de coordenadores intermediários:
1. Oferta completa com regras tradicionais
Empresas que optarem por seguir totalmente a Resolução CVM 160, com todos os documentos obrigatórios (inclusive o formulário de referência e demonstrações contábeis trimestrais), podem realizar ofertas sem limite de valor.
2. Oferta simplificada com Formulário FÁCIL
Caso a empresa substitua o prospecto e a lâmina pelo Formulário FÁCIL, o valor máximo da captação é limitado a R$ 300 milhões a cada 12 meses. Esta é uma alternativa mais econômica e ágil.
3. Oferta de dívida para investidores profissionais
Essa modalidade permite captação sem necessidade de coordenadores financeiros. Também possui limite de R$ 300 milhões ao ano, exclusivamente para investidores profissionais.
4. Oferta direta em mercado organizado
A grande inovação é a chamada “oferta direta”, em que as empresas podem captar recursos em mercado organizado, sem necessidade de registro prévio na CVM nem contratação de coordenadores. É um processo altamente simplificado, também limitado a R$ 300 milhões.
Regime também vale para empresas não registradas
Uma das grandes inovações do FÁCIL CVM é permitir que empresas não registradas também possam realizar ofertas públicas de dívida voltadas a investidores profissionais. Isso abre uma nova porta para negócios em crescimento que ainda não passaram pelo processo de listagem na CVM.
Esses investidores, considerados qualificados, têm autonomia para exigir auditoria das demonstrações financeiras e todas as informações necessárias para tomar suas decisões, como ocorre no regime da Resolução CVM 160.
Como aderir ao FÁCIL CVM?
Para emissores já registrados na CVM, a adesão ao FÁCIL exige anuência dos investidores e cumprimento dos critérios estabelecidos nas resoluções. Já para novos emissores, basta realizar a listagem em uma entidade administradora de mercado organizado — após isso, o registro é automático, desde que respeitado o teto de faturamento da empresa.
Essa automatização do processo elimina etapas burocráticas e acelera o ingresso de novas empresas no mercado.
Impacto do FÁCIL CVM no ecossistema de capitais
O impacto esperado do FÁCIL CVM é profundo. A CVM busca:
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Aumentar o número de empresas listadas;
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Atrair mais investidores para operações menores, com maior risco e retorno;
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Estimular o empreendedorismo e a inovação;
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Fortalecer o mercado de crédito privado no Brasil;
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Tornar o mercado de capitais uma via acessível de financiamento para empresas que hoje dependem exclusivamente de bancos.
O presidente da CVM destacou que o FÁCIL tem um papel central na canalização de recursos para a economia real, promovendo geração de renda e empregos em todo o país.
Benefícios para o investidor
Para os investidores, o FÁCIL CVM representa uma nova frente de oportunidades:
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Maior diversidade de emissores;
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Potencial de acesso antecipado a empresas inovadoras;
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Rentabilidades mais atrativas, compensando o risco maior;
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Ampliação da participação de pequenos investidores no mercado de capitais, especialmente em plataformas digitais.
O mercado de crowdfunding, por exemplo, pode se beneficiar diretamente desse novo modelo, ao incorporar regras mais modernas e facilitar o acesso de startups e scale-ups ao capital.
Desafios e cuidados com o novo regime
Apesar das vantagens, o FÁCIL CVM exige cautela. A simplificação de obrigações pode aumentar os riscos de assimetria de informação e fraudes. Por isso:
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O papel dos investidores profissionais será fundamental para fiscalizar e cobrar boas práticas;
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A CVM precisa manter fiscalização ativa e responsiva, com mecanismos ágeis de punição;
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A transparência e governança das empresas não pode ser sacrificada em nome da agilidade.
Empresas interessadas devem investir em estrutura contábil e jurídica robusta, mesmo com as exigências reduzidas.
O FÁCIL CVM surge como um divisor de águas para o mercado de capitais brasileiro. Ao abrir caminho para que pequenas e médias empresas acessem financiamento via mercado, sem os custos e entraves do regime tradicional, a CVM sinaliza uma nova era de dinamismo, inovação e democratização financeira no país.
Com impacto positivo em toda a cadeia econômica — de empreendedores a investidores —, o regime tende a estimular a formalização, fortalecer o crédito privado e ampliar o número de empresas nacionais com acesso direto ao capital. Para o Brasil crescer, o FÁCIL CVM pode ser uma das engrenagens essenciais.






