Produção de laranja avança 28% e deve impulsionar o PIB do agronegócio 2026
A produção brasileira de laranja caminha para encerrar a safra 2025/2026 com um salto de 28% em relação ao ciclo anterior, alcançando 295 milhões de caixas de 40,8 quilos. O avanço sinaliza uma retomada consistente do setor citrícola e promete impacto direto no PIB do agronegócio em 2026, segundo relatório divulgado pelo Rabobank. O banco holandês, referência mundial em financiamento e inteligência de mercado agroindustrial, projeta que o desempenho da cadeia de citros, somado à força da soja e à recuperação gradual do café, sustentará o ritmo de expansão do campo brasileiro no próximo ano.
A estimativa considera não apenas a melhora na produtividade, mas também a reconfiguração da indústria de sucos, a ampliação do esmagamento de soja e a adaptação das exportações de café diante de tarifas e novas regulações ambientais. Para 2026, o agronegócio brasileiro deve movimentar R$ 3,79 trilhões, representando 29,4% do PIB nacional — o maior percentual em 22 anos, segundo cálculos do Cepea/Esalq-USP em parceria com a CNA.
Cenário econômico e tendências para o agronegócio em 2026
O estudo do Rabobank aponta que o agronegócio 2026 enfrentará um ambiente macroeconômico de margens apertadas, porém positivas. A expectativa é de juros básicos em torno de 13% ao ano e inflação ligeiramente acima de 5%, fatores que impõem cautela nas decisões de investimento e aumentam o peso da eficiência operacional.
Ainda assim, o banco destaca que a combinação entre câmbio favorável, demanda internacional aquecida e diversificação regional das lavouras deve assegurar o crescimento do setor. As exportações agrícolas, principalmente de soja, milho, carne bovina e suco de laranja, continuarão entre as mais competitivas do mundo.
“O Brasil entra em 2026 com fundamentos sólidos, mas precisa equilibrar custo financeiro e produtividade. A eficiência será o principal fator de diferenciação entre produtores lucrativos e os que apenas sobrevivem”, observa o relatório.
Laranja: recomposição de estoques e impulso para o PIB agro
A laranja é o destaque absoluto do estudo do Rabobank. Após uma safra irregular em 2024/2025, marcada por estiagem e queda de produtividade, o setor volta a respirar com colheita recorde, o que permitirá a recomposição dos estoques de suco de laranja e maior equilíbrio entre oferta e demanda global.
A produção deve atingir 993 mil toneladas equivalentes de FCOJ (suco de laranja concentrado e congelado) em 2025/2026, crescimento de 29% sobre o ciclo anterior e ligeiramente acima da média da última década (973 mil toneladas). O aumento do volume tende a estabilizar preços e reduzir a pressão inflacionária sobre produtos derivados.
No campo, o preço da caixa de 40,8 quilos, que chegou a R$ 92 em outubro de 2024, recuou para R$ 50 no quarto trimestre de 2025. Ainda assim, o ganho de produtividade compensa a queda e mantém a rentabilidade do produtor.
Para 2026, o Rabobank espera um cenário de equilíbrio: preços moderados, oferta mais regular e custos de produção sob controle — um alívio para a indústria e para o consumidor.
Fatores que sustentam o avanço da laranja em 2026
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Condições climáticas mais favoráveis na região Sudeste, com boa distribuição de chuvas e controle da temperatura durante a florada.
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Gestão fitossanitária aprimorada no combate ao greening, doença que continua sendo o maior risco à citricultura.
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Adoção crescente de tecnologias de precisão, como sensores de umidade e drones para pulverização localizada.
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Expansão de áreas produtivas em Minas Gerais e no Paraná, aliviando a concentração paulista.
Com a recuperação da safra, o Brasil reforça sua posição de maior exportador global de suco de laranja e deve registrar saldo comercial positivo acima de US$ 2,5 bilhões apenas nesse segmento.
Soja: motor de estabilidade e segurança no mercado global
A soja segue como pilar central do agronegócio 2026. O Rabobank projeta que a produção brasileira atinja 177 milhões de toneladas, novo recorde histórico, impulsionado por ganhos de produtividade e pela expansão de áreas no Mato Grosso, Goiás e Maranhão.
O esmagamento doméstico também avança. Em 2025, deve alcançar 58 milhões de toneladas, e a previsão para 2026 é de 60 milhões, reflexo direto da ampliação da mistura obrigatória de biodiesel B15, implementada em agosto de 2025. A medida aumenta a demanda por óleo de soja e estimula a verticalização das cadeias de valor.
Além disso, o Brasil permanece em posição estratégica nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China. A manutenção das tarifas americanas e o esforço chinês para diversificar fornecedores reforçam a competitividade brasileira. Mesmo que um acordo entre Washington e Pequim reduza a demanda pontual, o custo logístico mais baixo e o volume recorde de exportação garantem sustentação aos preços internos.
Para o produtor, 2026 será o ano de gestão de risco: combinar contratos futuros, opções e hedge cambial para garantir margens diante da volatilidade dos prêmios nos portos.
Efeitos da geopolítica sobre a soja brasileira em 2026
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EUA x China: eventuais negociações tarifárias podem alterar o destino das exportações e os prêmios sobre a soja brasileira.
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Europa: o endurecimento do Regulamento de Desmatamento (EUDR) exigirá comprovação de rastreabilidade de origem, impactando tradings e cooperativas.
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Energia: o aumento da mistura de biodiesel impulsionará a demanda interna por óleo vegetal, reduzindo a dependência do mercado externo.
Com esses vetores, o Rabobank vê a soja como o ativo mais resiliente do agronegócio brasileiro em 2026, com papel decisivo para o saldo comercial do país.
Café: desafios de competitividade e adaptação regulatória
O café deve atravessar 2026 sob volatilidade e necessidade de reposicionamento estratégico. O Rabobank projeta produção total de 62,8 milhões de sacas, com queda de 14% no arábica (38,1 milhões de sacas) e alta de 10% no robusta (24,7 milhões de sacas).
Os preços internacionais oscilaram fortemente em 2025 — o arábica variou de US$ 4,38/lp em fevereiro a US$ 2,80/lp em julho, voltando a subir no final do ano. Essa instabilidade deve continuar em 2026, agravada por tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre o café brasileiro e pela entrada em vigor das novas exigências de rastreabilidade da União Europeia.
O Brasil, que responde por cerca de 40% da produção mundial, enfrenta o desafio de diversificar mercados, buscar certificações de origem e investir em compliance ambiental para preservar competitividade.
A boa notícia é que o robusta mantém trajetória positiva, sustentado pela demanda de cafés solúveis e blends industriais.
Cenário macroeconômico: juros, crédito e eficiência
Com a taxa Selic ainda elevada, o financiamento do agronegócio em 2026 dependerá mais do mercado privado e de instrumentos financeiros como CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), CPR e FIDC.
Empresas com boa governança e histórico de entrega deverão acessar crédito com spreads menores, enquanto pequenos produtores precisarão de consórcios cooperativos e garantias compartilhadas.
A pressão de custos — especialmente em fertilizantes e defensivos — deve diminuir, mas o desafio será administrar capital de giro e investir em tecnologia. Segundo o Rabobank, ganhos de eficiência substituirão o aumento de área plantada como principal motor de rentabilidade.
Infraestrutura e logística: o gargalo que persiste
Mesmo com safras recordes, o agronegócio ainda esbarra na logística. Corredores de exportação saturados e fretes elevados reduzem competitividade. Para 2026, a aposta recai sobre o Arco Norte, que deve responder por até 35% das exportações agrícolas brasileiras, contra 28% em 2023.
O investimento em armazenagem na fazenda e contratos antecipados de frete deve ser prioridade para reduzir perdas e custos.
Perspectivas regionais e diversificação
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Sudeste: consolidação da liderança na citricultura, com maior integração entre São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.
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Centro-Oeste: avanço contínuo da soja e do milho, com consolidação de polos agroindustriais voltados à produção de biodiesel e etanol de milho.
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Nordeste: fortalecimento da fruticultura e da irrigação sustentável no Vale do São Francisco.
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Sul: resiliência em carnes e grãos, com foco na redução de custos energéticos e no uso de biogás em cooperativas.
Essas frentes deverão garantir a diversificação estrutural do agronegócio 2026, reduzindo a vulnerabilidade a eventos climáticos e oscilações de preço.
Estratégias vencedoras para 2026
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Planejamento financeiro de safra a safra, com foco em liquidez e hedge cambial.
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Investimento em agricultura de precisão e biotecnologia para ganhos de produtividade.
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Certificações ambientais e rastreabilidade, essenciais para manter acesso aos mercados europeu e norte-americano.
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Integração vertical entre produção, beneficiamento e comercialização.
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Digitalização de operações, desde gestão de estoque até análise de risco climático.
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Diversificação de culturas e mercados, reduzindo dependência de commodities únicas.
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Adoção de seguros agrícolas ampliados, incluindo cobertura paramétrica.
Essas ações definirão quem crescerá de forma sustentável no próximo ciclo.
Eficiência e inovação como eixos do agronegócio 2026
O agronegócio 2026 será marcado por crescimento seletivo, eficiência operacional e inovação tecnológica. A laranja, com sua recuperação expressiva, consolida o papel da citricultura no PIB agro; a soja reafirma sua força global e o café se adapta a um novo ambiente regulatório.
O setor entra em um ciclo em que o diferencial competitivo não é apenas produzir mais, mas produzir melhor, com rastreabilidade, sustentabilidade e estratégia de mercado. Em um cenário de juros altos e custos estáveis, quem dominar dados, tecnologia e gestão financeira será o verdadeiro vencedor do agronegócio brasileiro em 2026.






