Senado dos EUA aprova resolução contra tarifas sobre produtos brasileiros, mas texto deve ser barrado na Câmara
O Senado dos Estados Unidos aprovou, nesta terça-feira (28), uma resolução que considera ilegais as tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros importados, em uma votação apertada de 52 votos a 48. Apesar de simbolizar um avanço diplomático favorável ao Brasil, a proposta enfrenta poucas chances de aprovação na Câmara dos Deputados, dominada por republicanos, e pode ser vetada pelo próprio Trump caso avance.
A decisão reacende o debate sobre o tarifaço norte-americano, que impôs alíquotas de até 50% sobre bens brasileiros, gerando impactos significativos nas exportações nacionais e nas cadeias produtivas ligadas ao agronegócio, à mineração e à indústria metalúrgica.
O autor da proposta, senador Tim Kaine (Partido Democrata – Virgínia), afirmou que as tarifas representam um imposto indireto sobre consumidores e empresas americanas, aumentando custos internos e deteriorando a imagem dos EUA como parceiro comercial.
Ainda que a resolução tenha sido aprovada no Senado, especialistas apontam que a Câmara dos Representantes, com maioria republicana, dificilmente aprovará o texto — principalmente em um contexto eleitoral polarizado, no qual o protecionismo volta a ganhar força no discurso político norte-americano.
A origem das tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros
As tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros foram impostas por Donald Trump em agosto de 2025, como parte de um pacote de retaliações econômicas que incluía aumentos sobre bens agrícolas, siderúrgicos e industriais provenientes do Brasil.
O ex-presidente justificou a medida alegando uma suposta “perseguição judicial” contra Jair Bolsonaro no processo que apura a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Segundo Trump, o aumento das tarifas seria uma “resposta política” ao que chamou de “caça às bruxas” conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão foi amplamente criticada por economistas e diplomatas dos dois países, que classificaram a medida como injustificada e prejudicial ao comércio bilateral. Estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o tarifaço pode gerar perdas superiores a US$ 8 bilhões anuais para o Brasil, afetando diretamente setores exportadores de soja, café, minério de ferro e produtos manufaturados.
Encontro entre Trump e Lula abriu espaço para negociações
Apesar do cenário adverso, as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos voltaram a ganhar fôlego após o encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, realizado no último domingo (26), na Malásia, durante evento internacional.
Em uma reunião de 40 minutos, os dois líderes discutiram as tarifas impostas aos produtos brasileiros, além de questões relacionadas a sanções aplicadas contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes.
O tom amistoso do diálogo foi interpretado como um sinal de reaproximação política, com possibilidade de revisão parcial das tarifas ainda este ano. No dia seguinte, delegações técnicas dos dois países se reuniram novamente na Malásia para tratar dos detalhes de um possível acordo comercial.
A aprovação da resolução pelo Senado dos EUA é vista como um gesto simbólico de boa vontade, especialmente por parte dos democratas, que buscam reduzir tensões comerciais e restabelecer canais de cooperação econômica com o Brasil — considerado um parceiro estratégico nas Américas.
Impactos econômicos das tarifas sobre o Brasil
O tarifaço de Trump provocou efeitos imediatos nas exportações brasileiras, especialmente no agronegócio e na indústria de base.
Os produtos mais afetados foram:
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Soja e derivados, que enfrentaram aumento de custo logístico e perda de competitividade frente a concorrentes como Argentina e Canadá;
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Aço e alumínio, cujas tarifas adicionais reduziram em até 30% o volume exportado para os EUA;
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Minério de ferro e produtos químicos, penalizados por sobretaxas que encareceram a produção norte-americana;
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Alimentos processados e café, que perderam espaço em supermercados e cafeterias dos Estados Unidos.
A medida também afetou empresas multinacionais com sede no Brasil, que exportam componentes industriais e bens intermediários para fábricas norte-americanas. O resultado foi queda nas encomendas, adiamento de investimentos e demissões pontuais em setores exportadores.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações brasileiras para os EUA caíram 7,8% em setembro de 2025, revertendo uma tendência de crescimento contínuo que vinha desde 2023.
O que a resolução do Senado norte-americano propõe
A resolução aprovada pelo Senado dos EUA declara ilegais as tarifas impostas unilateralmente por Donald Trump, argumentando que a medida fere os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) e viola acordos bilaterais de livre comércio firmados com o Brasil.
O texto determina que qualquer imposição tarifária sobre produtos estrangeiros deverá passar por avaliação prévia do Congresso americano, impedindo que o presidente decida de forma isolada sobre temas de impacto econômico global.
Além disso, a resolução autoriza o Departamento de Comércio dos Estados Unidos a rever as alíquotas aplicadas a produtos brasileiros e a restabelecer gradualmente o acesso preferencial a itens como aço, soja e etanol.
Contudo, para entrar em vigor, o projeto precisa ser aprovado também pela Câmara dos Representantes, onde Trump possui maioria garantida entre os republicanos, e posteriormente ser sancionado pela Casa Branca.
Diante desse cenário, especialistas avaliam que a proposta dificilmente prosperará, já que o ex-presidente pode vetá-la para manter o discurso de protecionismo econômico e soberania comercial que sustenta sua base política.
Reação do governo brasileiro
Em Brasília, o governo brasileiro recebeu a notícia com cautela e otimismo moderado. O Itamaraty e o Ministério da Fazenda destacaram que a aprovação no Senado representa “um passo importante” para o restabelecimento do diálogo bilateral, mas reconheceram que ainda há um longo caminho diplomático pela frente.
Fontes do Planalto indicam que o presidente Lula pretende reforçar a interlocução direta com a Casa Branca e o Congresso americano, buscando construir uma agenda econômica mais equilibrada entre os dois países.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem trabalhando em um plano de cooperação comercial e tributária, que inclui incentivos fiscais bilaterais e facilitação de investimentos recíprocos, como forma de reduzir os efeitos das tarifas até que uma solução definitiva seja alcançada.
Implicações políticas nos EUA
Nos Estados Unidos, a votação da resolução expôs novamente a divisão entre democratas e republicanos em torno da política comercial.
Enquanto os democratas defendem uma política de comércio multilateral, voltada à integração global e à redução de barreiras, os republicanos sustentam o discurso nacionalista, segundo o qual tarifas elevadas protegem empregos e a indústria americana.
A aprovação do texto no Senado, ainda que simbólica, é vista como uma tentativa dos democratas de pressionar Trump politicamente, apresentando-o como um líder que coloca interesses eleitorais acima da economia do país.
Relações bilaterais e o futuro do comércio Brasil-EUA
Independentemente da aprovação final da resolução, o episódio reforça a importância do Brasil como parceiro comercial estratégico dos Estados Unidos.
O comércio bilateral entre os dois países movimentou US$ 107 bilhões em 2024, com destaque para os setores de energia, mineração, aviação e agronegócio. Os EUA são atualmente o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China.
Especialistas acreditam que, mesmo com entraves políticos, a tendência é de reaproximação gradual entre os dois governos, principalmente diante da pressão de empresas americanas que dependem de insumos e commodities brasileiras.
O impasse que define o futuro das tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros
A aprovação da resolução no Senado norte-americano representa uma vitória diplomática parcial para o Brasil, mas o destino da proposta permanece incerto.
Se confirmada, a revogação das tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros poderá restaurar o fluxo comercial normal, reduzir custos e fortalecer o vínculo econômico entre as duas maiores economias do hemisfério ocidental.
No entanto, a resistência republicana e a provável ameaça de veto de Donald Trump indicam que o impasse político continuará no curto prazo, mantendo as exportações brasileiras sob pressão e o tema no centro da agenda diplomática internacional.
A expectativa agora recai sobre novas rodadas de diálogo entre os governos de Washington e Brasília, com foco na construção de um acordo comercial estável, capaz de preservar o equilíbrio econômico e político entre as duas nações.






