Trump afirma que líderes mundiais estão ‘bajulando’ os EUA para evitar tarifas comerciais
Declaração polêmica foi feita durante jantar com parlamentares republicanos e intensifica tensões na guerra comercial com a China
Washington, 9 de abril de 2025 — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a provocar polêmica no cenário internacional ao afirmar que líderes mundiais estariam bajulando os EUA na tentativa de evitar as tarifas comerciais impostas por sua administração. A fala ocorreu durante um jantar promovido pelo Comitê Nacional Republicano do Congresso (NRCC), onde o republicano adotou um tom irônico e informal ao se referir às tentativas de negociação de outros países.
“Estou te falando, esses países estão nos ligando, puxando o meu saco. Eles estão doidos para fazer um acordo. ‘Por favor, por favor, senhor, me deixe fazer um acordo’”, disse Trump, em tom jocoso. A expressão usada pelo presidente foi “kissing my ass”, uma gíria em inglês que pode ser traduzida como “bajulando” ou “puxando o saco”, numa clara referência à suposta submissão de líderes estrangeiros diante das políticas tarifárias norte-americanas.
Retórica agressiva e tarifas recíprocas
A fala de Trump faz parte de uma estratégia já conhecida de retórica agressiva e protecionista, que ganhou ainda mais força após a recente escalada da guerra comercial com a China. O presidente voltou a defender as tarifas “recíprocas” implementadas por seu governo, classificando-as como uma medida necessária para proteger a economia americana e pressionar seus principais concorrentes comerciais.
“Os Estados Unidos vão sair muito melhor com essas tarifas. Já estamos vendo os efeitos positivos na balança comercial”, afirmou Trump, reiterando que sua política externa tem como objetivo restabelecer o equilíbrio nas relações comerciais internacionais.
Reações nos mercados financeiros
O impacto das declarações de Trump e da imposição de tarifas adicionais foi imediato nos mercados globais. As bolsas internacionais reagiram com forte instabilidade. Em Tóquio, o índice Nikkei registrou queda superior a 3%. Já os principais índices das bolsas da Europa, incluindo Reino Unido, Alemanha, França e Holanda, abriram o dia em baixa, com perdas superiores a 2%.
A volatilidade reflete a preocupação crescente dos investidores com o acirramento da guerra comercial, especialmente diante da escalada entre EUA e China, as duas maiores economias do mundo. A possibilidade de novas rodadas de tarifas e a retórica beligerante do presidente americano intensificam o clima de incerteza no ambiente global de negócios.
A ofensiva contra a China
Entre os alvos principais da política comercial de Trump está a China, com quem os EUA travam uma disputa tarifária intensa desde o início de seu primeiro mandato. Na última terça-feira, Trump declarou que esperava uma ligação do governo chinês para negociar as novas tarifas americanas, que, segundo ele, poderiam chegar a 104% sobre produtos chineses caso não houvesse um recuo por parte de Pequim.
“A China também quer fazer um acordo, muito, mas eles não sabem como começar. Estamos esperando a ligação deles. Vai acontecer!”, escreveu o presidente norte-americano nas redes sociais, elevando a pressão pública sobre o governo chinês.
Contudo, em vez de ceder, a China reagiu. Nesta quinta-feira, o governo de Pequim anunciou a imposição de tarifas adicionais de 84% sobre produtos americanos, em resposta direta às medidas da Casa Branca. Trata-se da resposta mais dura da China desde o início do novo ciclo de sanções.
Como se compõem as tarifas americanas
De acordo com informações oficiais divulgadas pela secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, os EUA aplicaram uma nova rodada de tarifas que totalizam 104% sobre as importações chinesas. O percentual resulta da soma de tarifas anteriores — 20% implementados em março, 34% anunciados na semana passada e os 50% adicionais anunciados esta semana.
A elevação do protecionismo comercial tem como base o argumento de que os EUA estariam em desvantagem competitiva frente à China e outras nações que aplicam subsídios estatais ou impõem barreiras não tarifárias aos produtos americanos.
Israel e outros países buscam negociação
Apesar da retórica de confronto, Trump mencionou que diversos líderes mundiais têm se mostrado dispostos a negociar acordos para evitar as tarifas americanas. Um exemplo citado foi o de Israel, cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, esteve recentemente na Casa Branca para tratar de temas bilaterais, incluindo a questão tarifária.
“Israel, por exemplo, entende que o comércio justo é essencial. Eles vieram até nós para negociar com transparência”, destacou o presidente, reforçando a narrativa de que os Estados Unidos estão apenas buscando relações mais equilibradas.
Impactos políticos e eleitorais
As declarações de Trump vêm em um momento estratégico, em que o presidente busca fortalecer sua base eleitoral em meio à disputa pela reeleição. O jantar com parlamentares republicanos serviu como plataforma para reafirmar seu compromisso com políticas “America First”, ao mesmo tempo em que mobiliza o eleitorado nacionalista e protecionista.
Analistas apontam que o discurso contra a China e as “bajulações” de líderes estrangeiros funcionam como uma maneira de reafirmar a posição de força do presidente americano no cenário internacional, especialmente diante do crescimento de tensões geopolíticas e da desaceleração econômica global.
Especialistas divididos sobre eficácia das tarifas
Economistas e analistas políticos, no entanto, divergem quanto à eficácia das tarifas comerciais como instrumento de política externa. Alguns defendem que elas podem estimular a produção interna e reduzir o déficit comercial, enquanto outros alertam para os riscos de uma recessão global provocada pela retração nas cadeias de fornecimento internacionais.
Segundo o economista-chefe da consultoria Atlantic Economics, Joseph Lane, “tarifas elevadas têm um impacto direto sobre o consumo e os preços. Em vez de beneficiar a economia, podem gerar inflação e dificultar o crescimento”.
Do outro lado, há quem apoie a postura dura do governo americano. “As tarifas de Trump são uma forma de barganha. Mesmo que causem tensão no curto prazo, podem trazer acordos comerciais mais vantajosos no longo prazo”, afirma Susan Graham, analista de comércio exterior da Hudson Institute.
Caminhos incertos para um acordo
Até o momento, não há sinal de um acordo concreto entre EUA e China. As tentativas de retomar as negociações comerciais diretas parecem ter fracassado nas últimas semanas, e a nova rodada de sanções por parte da China pode representar um ponto de inflexão perigoso no conflito.
Especialistas em diplomacia internacional alertam que a retórica agressiva pode afastar as chances de um acordo sustentável. “Há um jogo de cena em curso, mas os dois países precisam reconhecer que uma guerra comercial prolongada seria prejudicial para ambos”, diz Ana Reyes, professora de relações internacionais na Universidade de Chicago.
“Bajulação” como arma política
Ao afirmar que está sendo bajulado por líderes mundiais, Trump transforma a política comercial em narrativa de poder pessoal. A retórica busca mostrar que os Estados Unidos, sob seu comando, reconquistaram o protagonismo global e impõem respeito nas negociações internacionais.
Contudo, os efeitos práticos dessa abordagem ainda estão em aberto. As bolsas caem, a tensão com a China aumenta e os riscos para a economia global se intensificam. O que é certo é que, para Trump, a bajulação virou mais uma peça no xadrez político do protecionismo comercial.