Axia 3T25: reestruturação, impactos contábeis e perspectivas da antiga Eletrobras
A Axia, nova denominação da antiga Eletrobras (AXIA3), apresentou os resultados referentes ao terceiro trimestre de 2025 em meio a um processo contínuo de reestruturação societária e reposicionamento estratégico. Embora os números do balanço indiquem retração da receita regulatória, Ebitda negativo e prejuízo líquido expressivo, analistas destacam que o desempenho deve ser interpretado à luz de eventos não recorrentes e ajustes contábeis de grande magnitude.
Desde a privatização, em 2022, a companhia promoveu desinvestimentos relevantes, consolidou operações, reduziu estruturas herdadas da fase estatal e buscou ajustar seu portfólio com foco em ativos de maior retorno. Esse movimento, segundo especialistas, confere maior coerência à estratégia da empresa, mas afeta a comparação direta com trimestres anteriores.
Receita menor e prejuízo contábil: o que influenciou o balanço
A receita operacional líquida regulatória da Axia no 3T25 somou R$ 9,9 bilhões, queda de 4,8% em relação ao mesmo período de 2024. O Ebitda regulatório ficou negativo em R$ 601 milhões, enquanto o resultado líquido registrou prejuízo de R$ 5,4 bilhões.
A deterioração aparente dos indicadores decorre, em grande medida, de duas frentes. A primeira envolve a redução do número de ativos após vendas realizadas ao longo de 2025, entre elas as termelétricas do Amazonas. A segunda refere-se à ausência de fatores extraordinários que impulsionaram o resultado do 3T24, como a venda adicional de energia da hidrelétrica de Tucuruí.
A comparação entre trimestres também foi afetada pelas revisões tarifárias e pela remensuração da base de ativos regulatórios. Em 2024, essas remensurações adicionaram R$ 6,1 bilhões ao resultado operacional, enquanto no 3T25 o impacto foi de R$ 303 milhões.
Venda da Eletronuclear explica prejuízo bilionário
O principal fator que comprometeu o lucro líquido no trimestre foi a venda da Eletronuclear para o grupo J&F. O ajuste contábil relacionado à operação gerou um impacto negativo de aproximadamente R$ 7,3 bilhões.
Apesar disso, o efeito é considerado positivo na perspectiva de longo prazo. A Eletronuclear era classificada como um ativo deficitário, com desempenho operacional complexo, rentabilidade baixa e necessidade recorrente de garantias da Axia. A alienação elimina riscos e libera capital para investimentos mais rentáveis.
Segundo analistas, o prejuízo contábil não implica saída de caixa, mas representa uma reorganização patrimonial coerente com o plano estratégico da companhia.
Fluxo de caixa avança e sustenta dividendos elevados
A despeito dos resultados contábeis, a geração de caixa apresentou melhora. O fluxo de caixa livre alcançou R$ 4,9 bilhões, alta de quase 6% ante o 3T24. A elevação, mesmo diante da redução do número de ativos operacionais, indica maior eficiência na gestão da empresa.
Esse desempenho foi determinante para que a Axia distribuísse dividendos robustos: R$ 4,3 bilhões no trimestre e R$ 8,3 bilhões acumulados no ano. Para o mercado, o resultado reforça a capacidade da companhia de devolver valor ao acionista, mesmo em ambiente de transição estrutural.
Reorganização após a privatização altera dinâmica da empresa
Após a privatização, a Axia promoveu uma série de ajustes internos. Entre eles:
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Incorporação de Furnas;
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Reestruturação societária;
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Programas de desligamento para redução de passivos trabalhistas;
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Venda de participações não essenciais (Eletronuclear, termelétricas do Amazonas e participação minoritária na Emae);
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Acordo com o governo federal que limitou a 10% o poder de voto da União.
Esse último ponto foi particularmente relevante para mitigar riscos de interferência política, fator que atuava como redutor de valor das ações.
Operações: onde a Axia concentra sua receita
A atividade da companhia permanece concentrada em duas frentes principais:
Geração de energia (60% da receita)
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44 GW de capacidade instalada;
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18% da capacidade total do país;
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42,3 GW provenientes de hidrelétricas.
Transmissão (40% da receita)
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74 mil km de linhas de transmissão;
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37% da extensão total brasileira.
Esses indicadores reforçam a posição da Axia como a maior empresa de energia da América Latina.
Estrutura de endividamento confortável
A relação entre dívida líquida e Ebitda — cerca de 2 vezes — permanece em linha com patamares conservadores do setor. Empresas de utilidade pública, especialmente no segmento elétrico, costumam operar com níveis mais elevados de alavancagem, o que sugere espaço para:
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nova rodada de investimentos,
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políticas de dividendos mais agressivas,
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maior flexibilidade em decisões estratégicas.
Performance das ações: impacto da redução de risco político
O comportamento das ações reflete duas fases distintas.
Desde a privatização (junho de 2022):
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ON: +57%
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PN: +83%
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Ibovespa: +51%
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Índice de Utilidade Pública: +84%
A performance em linha com o setor demonstra que o destravamento de valor não ocorreu imediatamente após a privatização.
Em 2025:
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ON: +82%
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PN: +71%
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Utilidade Pública: +55%
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Ibovespa: +28%
A partir do acordo que reduziu a influência do governo, a ação passou a apresentar desempenho superior ao Ibovespa e aos pares setoriais.
Dividend yield deve continuar elevado
No 3T25, o dividend yield da Axia ficou em torno de 3,4%. No acumulado do ano, entre 6% e 7%. Para 2026, as projeções já apontam para patamares próximos a dois dígitos, dependendo do volume de investimentos e da evolução do fluxo de caixa.
Perspectivas: valorização e governança no centro das projeções
As perspectivas para a Axia seguem positivas. Entre os fatores considerados determinantes pelo mercado estão:
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participação em leilões de transmissão em 2026;
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entrada no segmento de baterias e armazenamento;
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oportunidades em leilões de reserva de capacidade;
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avanço em questões de governança, com possível adesão ao Novo Mercado;
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estrutura simplificada, com maior transparência e previsibilidade.
Para analistas, o processo de valorização pode se prolongar, uma vez que a companhia ainda não capturou todo o potencial decorrente da reorganização pós-privatização.






