China compra soja dos EUA: maior negócio em dois anos muda o jogo no mercado global
A China compra soja dos EUA novamente em volume expressivo e reacende um dos eixos centrais do agronegócio mundial: a relação entre o maior importador global da commodity e um de seus principais fornecedores históricos. As maiores vendas de soja americana para o mercado chinês em mais de dois anos, confirmadas nesta semana, já provocaram forte reação nas cotações, destravaram vendas que estavam represadas nas fazendas dos Estados Unidos e aumentaram a pressão competitiva sobre a soja do Brasil e de outros exportadores.
Depois de meses em que a China compra soja dos EUA em ritmo tímido, evitando os embarques americanos por causa da guerra comercial com Washington, o movimento recente é visto por analistas como o início de um programa de compras mais agressivo. Mesmo que o volume final fique abaixo dos 12 milhões de toneladas mencionados por autoridades norte-americanas como referência, o simples fato de a China compra soja dos EUA em blocos volumosos já foi suficiente para mudar o humor do mercado.
A movimentação elevou os preços futuros na Bolsa de Chicago, melhorou a receita de produtores que estavam esperançosos por uma alta e confirmou que, quando a China compra soja dos EUA de forma concentrada, o efeito dominó atinge toda a cadeia global, do produtor no Meio-Oeste norte-americano ao exportador brasileiro, passando pelos fundos de investimento e grandes tradings internacionais.
China compra soja dos EUA e rompe período de afastamento
Durante boa parte do ano, a China compra soja dos EUA em volumes discretos, preferindo priorizar a safra sul-americana para reduzir o impacto da disputa comercial com o governo Donald Trump. As tarifas extras impostas aos produtos agrícolas americanos encareceram os embarques e deslocaram o fluxo para o Brasil e outros fornecedores.
O cenário começou a mudar quando Pequim decidiu voltar às compras em grande escala. Em apenas três dias, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmou quase 1,6 milhão de toneladas negociadas com o mercado chinês, o maior volume em uma única semana desde o fim de 2023. Fontes do mercado avaliam que o total efetivo pode ser ainda maior, na faixa de 2 a 3 milhões de toneladas, somando operações realizadas antes e depois da cúpula entre Trump e Xi Jinping.
Esse movimento reforça a percepção de que, quando a China compra soja dos EUA de forma acelerada, não está apenas recompondo estoques, mas também sinalizando disposição política e estratégica de reaproximação, ainda que dentro de um cenário de tensão comercial.
Guerra comercial e o efeito sobre os preços
A guerra comercial alterou profundamente a dinâmica do mercado. Enquanto as tarifas estavam no centro do conflito, a China compra soja dos EUA menos do que o normal e ampliou as aquisições no Brasil, sobretudo nos portos do Arco Norte e do Sudeste. Agora, com o anúncio de um programa mais robusto de compras americanas, o impacto sobre preços foi imediato.
Os contratos futuros de soja em Chicago atingiram o maior patamar desde meados de 2024, acumulando alta próxima de 12% desde outubro, antes da reunião entre os presidentes de EUA e China na Coreia do Sul. O fato de a China compra soja dos EUA em ritmo acelerado reduziu a oferta disponível para outros importadores e elevou o prêmio pago pelo produto americano em relação ao brasileiro.
Ao mesmo tempo, os preços da soja brasileira recuaram com a perspectiva de uma safra cheia e com a acomodação de prêmios nos portos. O resultado foi um diferencial significativo: para embarques em janeiro, o prêmio da soja americana chegou a cerca de 50 centavos de dólar por bushel sobre o Brasil, o que, em uma carga típica de 60 mil toneladas, pode representar mais de US$ 1,1 milhão de diferença de custo. Em fevereiro, esse prêmio se aproximou de US$ 1,10 por bushel, segundo operadores.
Quando a China compra soja dos EUA em volumes elevados, o mercado global rapidamente ajusta preços, deslocando parte da demanda de outros destinos e redesenhando a competitividade entre origens.
Acordo de compras e incertezas sobre a meta de 12 milhões de toneladas
O pano de fundo político desse movimento é um entendimento entre as autoridades norte-americanas de que a China compra soja dos EUA em um volume de até 12 milhões de toneladas até o fim do ano. Membros do governo americano, como o Secretário do Tesouro e a Secretária de Agricultura, indicaram que Pequim teria se comprometido a atingir essa marca após encontro entre Trump e Xi.
Na prática, porém, o ritmo em que a China compra soja dos EUA para alcançar esse número ainda é incerto. Especialistas do mercado, como consultores agrícolas, avaliam que o volume anual pode até ser atingido, mas duvidam que isso aconteça no prazo mais curto sugerido inicialmente. A percepção é de que o fluxo será mais espaçado, condicionando novas compras à evolução dos preços, dos prêmios e da necessidade real de recomposição de estoques chineses.
Outro ponto de atenção é que, nos últimos anos, a China compra soja dos EUA em proporções que representam algo entre 50% e 60% de todas as exportações americanas da commodity. Isso significa que qualquer mudança de rota da demanda chinesa tem potencial de alterar o quadro de preços para todo o setor agrícola dos Estados Unidos.
Estoques cheios e o desafio de espaço na China
Há um componente logístico importante: antes desse movimento em que a China compra soja dos EUA de forma mais firme, o país já havia realizado grandes aquisições de soja sul-americana. Com isso, os terminais, armazéns e reservas estratégicas chinesas já operam em níveis elevados.
A nova rodada de compras cria um desafio extra para Pequim: é preciso liberar espaço nas reservas nacionais para receber os navios que estão sendo contratados. Isso pode envolver vendas internas mais agressivas ou remanejamento de estoques entre regiões. Se a China compra soja dos EUA sem escoar parte do que já possui, o risco é de congestionamento logístico e custos adicionais.
Esse equilíbrio delicado entre estoque, consumo interno e importação reforça a leitura de que a China compra soja dos EUA não apenas por necessidade presente, mas também por razões estratégicas, vinculadas à relação bilateral com Washington e à busca por maior diversificação de origens num cenário de instabilidade geopolítica.
Estratégia chinesa no mercado futuro de Chicago
Outro ponto relevante é o comportamento dos importadores chineses na Bolsa de Chicago. A alta recente dos contratos futuros de soja veio acompanhada de aumento nas posições em aberto, indicando que traders ligados ao mercado chinês estavam entre os compradores no período que antecedeu o anúncio das grandes vendas físicas.
Na prática, isso significa que, antes de a China compra soja dos EUA de forma oficial na tonelagem física, operadores ligados ao país já haviam se posicionado comprados em contratos futuros, apostando em alta das cotações. Assim, ao anunciar a compra efetiva, valorizam o ativo e, em seguida, podem realizar lucro ao liquidar parte dessas posições.
Esse tipo de operação é típico de um ambiente em que a China compra soja dos EUA combinando estratégia física e financeira, alinhando contratos de papel com contratos de carga. Com isso, os importadores se protegem de oscilações bruscas e aproveitam janelas de oportunidade para adquirir soja a preços mais baixos e vender contratos futuros mais caros.
Produtores dos EUA aceleram vendas, mas muitos não capturam o pico
Do lado dos produtores americanos, a notícia de que a China compra soja dos EUA em volumes tão altos foi recebida como alívio após meses de cotações deprimidas. Agricultores que vinham segurando parte da safra passaram a vender mais rapidamente para aproveitar a recuperação.
Estima-se que entre 30% e 40% da safra de soja de 2025 nos EUA já tenha sido comercializada, um nível semelhante ao de anos anteriores para essa época, mas que poderia ter sido menor não fosse a reação dos preços. A China compra soja dos EUA em grande volume exatamente em um momento em que o produtor precisa de fluxo de caixa para quitar dívidas, pagar insumos e preparar a próxima safra.
Ainda assim, muitos agricultores não conseguiram capturar o topo das cotações. Como parte das vendas foi realizada antes do anúncio de compras mais volumosas, uma parcela relevante da produção foi negociada a preços próximos ou até abaixo do custo de produção, especialmente em regiões de maior custo operacional.
Base ampla, fluxo de caixa e expectativa de ajuda governamental
Outro fator que condiciona o comportamento de venda é a base — a diferença entre o preço futuro em Chicago e o valor pago no mercado físico local. Em muitas praças produtoras, essa base continua relativamente ampla, o que significa que, mesmo com a alta em Chicago, o preço recebido pelo produtor não sobe na mesma proporção.
Assim, ainda que a China compra soja dos EUA em ritmo forte, alguns agricultores preferem aguardar na expectativa de bases mais estreitas, o que elevaria o valor recebido na porteira. Porém, a necessidade de fluxo de caixa, típica do fim de ano, faz com que muitos acabem vendendo parte da produção mesmo em níveis menos atrativos.
A expectativa de auxílio governamental também entra na equação. O governo Trump trabalha com a ideia de um pacote de até US$ 15 bilhões em pagamentos de apoio a agricultores afetados por preços baixos e pela disputa comercial. O atraso provocado pela paralisação parcial do governo americano, porém, aumenta a incerteza. Enquanto a China compra soja dos EUA e impulsiona as cotações, parte do produtor prefere segurar decisões de venda aguardando definições sobre essas políticas de apoio.
Soja dos EUA versus soja do Brasil: disputa de longo prazo
A dinâmica atual reforça um ponto central: quando a China compra soja dos EUA de forma intensa, os Estados Unidos recuperam temporariamente o protagonismo na oferta, mas o Brasil continua sendo um competidor estrutural. Nos últimos anos, o país sul-americano consolidou posição como principal fornecedor para a China em vários períodos, especialmente durante os meses de colheita brasileira.
Com a nova rodada de compras, o fluxo se reequilibra. A China compra soja dos EUA para complementar o volume já contratado no Brasil, aproveitando janelas de oportunidade de preço e logística. Ao mesmo tempo, traders ajustam seus modelos para considerar uma alternância mais frequente entre origens, o que influencia decisões de plantio, investimento em armazenagem e ampliação de capacidade portuária.
No longo prazo, a tendência é que a China compra soja dos EUA e do Brasil de forma combinada, otimizando o custo médio da tonelagem importada e reduzindo a dependência de qualquer país isoladamente.
O que esperar do mercado se a China continuar comprando soja dos EUA
Se a China compra soja dos EUA próxima da meta de 12 milhões de toneladas mencionada por autoridades americanas, o mercado de soja tende a continuar sustentado no curto prazo. A continuidade dos embarques, somada à necessidade de reposição de estoques e ao eventual anúncio de pacotes de ajuda a produtores nos EUA, pode manter os preços em patamar mais elevado do que o observado no início do ano.
Por outro lado, se a China compra soja dos EUA em ritmo mais lento do que o esperado, há espaço para correção e acomodação das cotações, sobretudo se a próxima safra sul-americana confirmar bom volume e clima favorável.
Para o produtor, a mensagem é clara: sempre que a China compra soja dos EUA em grandes lotes, abre-se uma janela de oportunidade. Para o Brasil, o recado é de que a disputa por espaço no porto chinês continuará acirrada — e que competitividade, logística e custo continuarão definindo quem terá prioridade nos navios que atracam nos terminais do maior comprador mundial da oleaginosa.






