Câmbio em 2026: o que esperar do dólar e do euro após um ano histórico para as moedas globais
A discussão sobre o câmbio em 2026 ganhou força após um ano marcado por movimentos incomuns nos mercados internacionais. A trajetória do dólar e do euro ao longo de 2025 surpreendeu analistas, investidores e governos, ao combinar fatores geopolíticos, revisões de tarifa, avanços tecnológicos e mudanças estruturais nas principais economias do mundo. Em meio a esse cenário, o Brasil observou uma valorização do real, impulsionada tanto por condições externas quanto por particularidades internas que moldaram o comportamento dos investidores.
Entender como o dólar perdeu força frente a diversas moedas, enquanto o euro se fortaleceu antes de entrar em trajetória lateral, é essencial para projetar o câmbio em 2026. As perspectivas variam conforme o ritmo da política monetária dos Estados Unidos, o fôlego da recuperação europeia, a evolução dos conflitos geopolíticos e o posicionamento do Brasil em um ambiente de transição global. A análise desses elementos revela por que 2025 foi tão atípico — e por que 2026 tende a ser ainda mais desafiador para quem acompanha o mercado de moedas.
A virada de 2025 e o impacto sobre o câmbio global
O ponto de inflexão que marcou o mercado internacional ocorreu ainda no início de 2025, quando o dólar começou a perder força diante das principais moedas do mundo. A revisão de expectativas sobre tarifas impostas pelos Estados Unidos, somada à percepção de que os juros americanos começariam a recuar, provocou realocação de capital e impulsionou o movimento de valorização do real. Esse cenário coincidiu com a ascensão da concorrência chinesa no setor de inteligência artificial, alimentando a tese de que as Big Techs americanas poderiam estar sobrevalorizadas.
Essa mudança de percepção trouxe dúvidas sobre a sustentabilidade da valorização da Bolsa americana e ampliou a busca por mercados considerados “descontados”. Foi nesse contexto que a Europa ressurgiu como alternativa segura e atraente, impulsionando a valorização do euro. Em seu auge, em setembro, a moeda europeia chegou a comprar 1,19 dólar, resultado direto de uma combinação entre recuperação econômica, estímulos fiscais e menor aversão ao risco por parte dos investidores.
A compreensão desse movimento é fundamental para analisar o câmbio em 2026, pois fornece pistas sobre o comportamento dos fluxos de capital que continuam a influenciar a direção das moedas globais.
O peso das tarifas e a inflexão geopolítica
A política comercial dos Estados Unidos, especialmente as medidas associadas ao chamado tarifaço de Trump, trouxe volatilidade addicional ao mercado cambial. O impacto inicial foi de preocupação: investidores temiam desaceleração no comércio global, agravando tensões com Europa e China. Porém, revisões posteriores indicaram que as medidas seriam mais brandas, fato que abriu espaço para recuperação dos ativos de risco.
Esse alívio aumentou a desvalorização do dólar frente a várias moedas, incluindo o real. A percepção de que os efeitos práticos das tarifas seriam menores ajudou a restaurar o otimismo, especialmente em economias emergentes que dependem da estabilidade do comércio internacional.
No entanto, 2026 tende a ser diferente. A intensidade do tarifaço, sua aplicação ao longo do ano e eventuais revisões do sistema tarifário terão capacidade de moldar de forma decisiva o câmbio em 2026, sobretudo caso o protecionismo americano ganhe nova força.
Defesa, estímulos e o protagonismo europeu
Enquanto os Estados Unidos lidavam com oscilações de expectativas econômicas, a Europa avançava com uma agenda fiscal robusta na área de defesa. O anúncio de gastos superiores a 800 bilhões de euros para reforçar a segurança regional estimulou fortemente vários setores da economia europeia. A combinação entre estímulos fiscais, reorganização estratégica e ambiente de maior confiança contribuiu para a valorização do euro durante grande parte de 2025.
A moeda europeia atingiu 1,18 dólar no primeiro semestre e permaneceu relativamente estável, oscilando em torno de 1,16 no restante do ano. Segundo analistas, essa estabilidade está ligada à resposta moderada do Banco Central Europeu, que buscou políticas equilibradas diante das incertezas do cenário global.
Para 2026, essa dinâmica permanece relevante. A capacidade da União Europeia de transformar estímulos de defesa em crescimento sustentável e de manter coesão política será elemento-chave para definir o rumo do câmbio. Um euro fortalecido pode influenciar a competitividade global, a demanda por ativos europeus e a estratégia de diversificação dos grandes fundos internacionais.
Desdolarização e percepção de perda de hegemonia
Em paralelo, o debate sobre a desdolarização voltou à cena, impulsionado por iniciativas de países do bloco dos Brics. A discussão ganhou força após declarações de líderes globais questionando a dependência do dólar como moeda de reserva. Esse ambiente elevou o interesse pelo ouro, que valorizou cerca de 50% em um ano, reforçando o argumento de quem enxerga o dólar em perda relativa de força.
Apesar disso, analistas apontam que esse movimento não representa enfraquecimento estrutural da moeda americana. A economia dos Estados Unidos se mantém resiliente, apoiada por uma base tecnológica sólida, fluxo de capitais significativo e grande capacidade de inovação. O debate sobre hegemonia cambial sempre ressurge em períodos de volatilidade, mas não altera o fato de que o dólar segue sendo a moeda global com maior liquidez e confiança.
Essa constatação é essencial para analisar o câmbio em 2026: embora haja espaço para flutuações temporárias, a posição estrutural do dólar no sistema financeiro internacional permanece intacta.
A resiliência da economia americana e a volta do capital
A força do mercado americano se reflete na produtividade elevada, nos avanços tecnológicos e no ambiente empresarial competitivo. Mesmo com incertezas relacionadas à política comercial e imigração, a economia dos Estados Unidos segue atraindo investimentos e mantendo papel de protagonista no cenário global.
A recuperação parcial do dólar frente ao euro na reta final de 2025 mostrou que a moeda americana ainda responde bem a decisões estratégicas tomadas por empresas e investidores. A migração de capital de volta aos Estados Unidos, diante do interesse contínuo por tecnologia, reforça essa visão.
Em 2026, o câmbio dependerá fortemente das decisões do Federal Reserve. Caso os juros continuem em trajetória de queda, o dólar pode perder força. Mas qualquer sinal de inflação persistente pode reverter esse movimento e restaurar a busca pela moeda como porto seguro.
Brasil, juros e o comportamento do real
No Brasil, o fortalecimento do real em 2025 foi guiado por fatores externos, mas encontrou apoio em condições internas. A taxa de juros real elevada — próxima de 10% ao ano — tornou atrativos os ativos brasileiros. Esse diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos se manteve alto, atraindo capital estrangeiro e impulsionando a apreciação do real.
Ao mesmo tempo, pequenos avanços em discussões fiscais e sinais de resiliência econômica contribuíram para reduzir a percepção de risco. Mesmo sem soluções definitivas para questões estruturais, o mercado enxergou um ambiente levemente mais estável, o que favoreceu a entrada de fluxos financeiros estrangeiros.
Para o câmbio em 2026, esse diferencial de juros pode começar a perder força. À medida que os Estados Unidos reduzem juros e o Brasil se aproxima de um ciclo de normalização monetária, o ganho relativo do real tende a diminuir. Isso torna o cenário para o próximo ano mais incerto, especialmente diante das eleições brasileiras, que tradicionalmente elevam a volatilidade cambial.
Eleições de 2026 e o potencial de pressão sobre o real
Processos eleitorais costumam gerar incertezas e reações antecipadas dos investidores. Em 2026, o ambiente político brasileiro deverá influenciar o câmbio com mais intensidade. Dependendo do andamento das pesquisas, do cenário fiscal e das propostas apresentadas pelos candidatos, o real pode enfrentar pressão adicional.
A volatilidade é um componente comum em anos eleitorais, e 2026 não será diferente. Analistas destacam que o risco político pode reduzir o apetite estrangeiro por ativos brasileiros, afetando diretamente o comportamento do câmbio.
Riscos e oportunidades no cenário cambial de 2026
O câmbio em 2026 dependerá de uma combinação de fatores internos e externos. Entre os principais pontos de atenção estão:
— política monetária americana;
— força da recuperação europeia;
— continuidade de estímulos fiscais na UE;
— evolução do tarifaço e possíveis revisões;
— conflitos geopolíticos e impacto no comércio global;
— eleições brasileiras;
— trajetória fiscal do Brasil;
— comportamento da economia chinesa.
Essas variáveis moldarão o apetite por risco, o fluxo de capitais e a direção das moedas globais.
Perspectivas para o dólar em 2026
O dólar deve seguir sensível às decisões do Federal Reserve. Com crescimento americano sólido, ainda que mais moderado, a tendência é de relativa estabilidade. Mas o dólar poderá recuar frente a algumas moedas caso os cortes de juros avancem de forma consistente.
Qualquer surpresa inflacionária, porém, pode restabelecer o ciclo de valorização, fazendo com que investidores busquem novamente a segurança da moeda americana.
Perspectivas para o euro em 2026
O euro tende a preservar parte da valorização conquistada em 2025. A continuidade de estímulos estratégicos, principalmente na área de defesa, e a condução moderada do BCE devem sustentar a moeda em patamares relativamente estáveis.
Entretanto, riscos fiscais em alguns países do bloco e tensões políticas internas podem limitar a força da moeda europeia, impedindo avanços mais robustos.
O real em 2026: ano de transição
Para o Brasil, 2026 será ano de ajustes. A valorização de 2025 não deve se repetir na mesma intensidade. Juros menores, eleições e incertezas fiscais compõem cenário mais desafiador. O real pode enfrentar momentos de pressão, especialmente no segundo semestre.
Mesmo assim, o país permanece entre os destinos preferidos de investidores em busca de retorno acima da média global. A continuidade de reformas, o equilíbrio fiscal e a credibilidade institucional serão determinantes para atrair fluxos e mitigar volatilidade.






