Nunes pressiona MME por Enel e diz que situação chegou ao limite em São Paulo
A crise no fornecimento de energia elétrica em São Paulo voltou ao centro do debate político nacional após o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), afirmar que a situação envolvendo a concessionária Enel “chegou ao limite”. Diante de novos apagões de grandes proporções registrados após um vendaval que atingiu a cidade e a região metropolitana, Nunes anunciou uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para discutir o contrato de concessão da empresa responsável pelo abastecimento.
O encontro está marcado para esta terça-feira, no Palácio do Governo, e ocorre em meio a uma escalada de pressões políticas, jurídicas e sociais contra a Enel. O prefeito reforçou que a concessão do serviço de energia elétrica é de competência federal e que o município tem enfrentado dificuldades recorrentes para lidar com os impactos diretos das falhas no sistema de distribuição.
Nos últimos dias, a capital paulista voltou a registrar cenas já conhecidas da população: bairros inteiros sem luz por longos períodos, interrupção no fornecimento de água devido à falta de energia para bombeamento, prejuízos ao comércio, dificuldades de comunicação e transtornos generalizados no transporte e nos serviços essenciais.
Vendaval expõe fragilidade do sistema elétrico
O episódio mais recente ocorreu após a passagem de um vendaval associado a um ciclone extratropical formado no Sul do país. Rajadas de vento próximas a 100 km/h provocaram a queda de árvores, danos à rede elétrica, cancelamento de voos e deixaram milhões de imóveis sem energia elétrica em São Paulo e na Grande São Paulo.
Levantamentos indicaram que cerca de 2,2 milhões de imóveis chegaram a ficar sem luz no pico da crise. Mesmo dias depois do evento climático, dezenas de milhares de residências continuavam sem fornecimento regular, ampliando o desgaste da concessionária e a insatisfação da população.
Relatos de moradores apontam perdas de alimentos, interrupção de atividades comerciais, dificuldades no funcionamento de serviços de telefonia e internet e impacto direto na rotina de hospitais, escolas e unidades de saúde. Para a prefeitura, o problema deixou de ser pontual e passou a configurar uma falha estrutural do modelo atual de concessão.
Nunes pressiona MME por revisão do contrato da Enel
Ao comentar a reunião com o ministro de Minas e Energia, Ricardo Nunes afirmou que apresentará novamente ao governo federal um conjunto de dados que, segundo ele, demonstram o sofrimento recorrente da população paulistana diante das falhas no fornecimento de energia.
Para o prefeito, a sequência de apagões registrados nos últimos anos evidencia a incapacidade da Enel de responder adequadamente a eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos. Ele relembrou que a cidade enfrentou blecautes de grandes proporções em novembro de 2023, janeiro de 2024 e outubro do mesmo ano, sempre após tempestades fortes.
A avaliação da administração municipal é de que o atual contrato de concessão não impõe mecanismos eficazes de responsabilização e resposta rápida, deixando o poder público local refém de decisões tomadas em âmbito federal.
Pressão política se amplia com apoio do governo estadual
A crítica à atuação da Enel não parte apenas da prefeitura. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também defendeu publicamente uma intervenção mais dura por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), alinhando-se ao discurso de que a situação se tornou insustentável.
Nos bastidores, a convergência entre prefeitura e governo estadual fortalece a pressão sobre o Ministério de Minas e Energia, que até o momento tem evitado sinalizar uma intervenção direta ou revisão imediata do contrato de concessão.
O ministro Alexandre Silveira, por sua vez, classificou parte das críticas como resultado de disputa política, embora tenha afirmado que o governo federal trabalha para buscar soluções técnicas para a crise no setor elétrico paulista.
Justiça entra no debate após apagão prolongado
A escalada do conflito chegou ao Judiciário quando a Justiça de São Paulo determinou que a Enel restabelecesse o fornecimento de energia a todos os consumidores afetados em até 12 horas, sob pena de multa elevada por hora de descumprimento.
A decisão foi tomada em um momento em que cerca de 700 mil clientes ainda permaneciam sem luz, dias após o vendaval. Para o Judiciário, o tempo de resposta da concessionária extrapolou limites aceitáveis, sobretudo diante do impacto social e econômico causado pelo apagão.
Embora a Enel tenha informado posteriormente que a maior parte das ocorrências foi normalizada, a persistência de casos residuais reforçou a percepção de lentidão na atuação da empresa.
Enel reconhece dificuldades, mas defende investimentos
Em comunicados recentes, a Enel afirmou ter mobilizado mais de 1,5 mil equipes para atuar na recomposição da rede elétrica e destacou investimentos realizados para modernizar o sistema de distribuição.
A concessionária sustenta que eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes e severos, exigindo respostas cada vez mais complexas. Ainda assim, para autoridades locais, os investimentos anunciados não têm se traduzido em maior resiliência do sistema.
A diferença entre o discurso da empresa e a experiência vivida pela população tem ampliado a pressão por mudanças no modelo de concessão.
Debate sobre autonomia dos municípios ganha força
Além da reunião emergencial com o Ministério de Minas e Energia, Ricardo Nunes voltou a defender alterações na legislação federal para ampliar a autonomia dos municípios na fiscalização e até na escolha das concessionárias de energia elétrica.
Em encontros anteriores em Brasília, o prefeito apresentou propostas para modificar a lei de concessões, argumentando que os municípios são os primeiros a lidar com as consequências dos apagões, mas têm pouca margem de atuação institucional.
A discussão ganha relevância em um contexto de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, que colocam à prova a capacidade das concessionárias de garantir a continuidade do serviço.
Crise da Enel se torna símbolo de desgaste do modelo atual
A sucessão de falhas no fornecimento de energia elétrica transformou a Enel em símbolo de um debate mais amplo sobre a sustentabilidade do modelo de concessões no setor elétrico brasileiro.
Especialistas apontam que contratos firmados em um cenário climático distinto podem não estar preparados para lidar com a nova realidade de tempestades intensas, ondas de calor e eventos extremos. Para gestores públicos, a ausência de mecanismos mais rígidos de penalização e intervenção agrava o problema.
Nesse contexto, a pressão do prefeito de São Paulo sobre o Ministério de Minas e Energia ultrapassa o caso específico da Enel e passa a integrar um debate estrutural sobre governança, regulação e segurança energética em grandes centros urbanos.
População cobra respostas concretas
Enquanto o debate político e institucional avança, a população paulistana segue cobrando soluções imediatas. Para moradores e comerciantes afetados, o discurso técnico pouco importa diante de prejuízos acumulados e da sensação de insegurança quanto à continuidade do serviço.
A reunião entre Nunes e o ministro Alexandre Silveira é vista como um momento decisivo para definir se o governo federal adotará uma postura mais firme ou manterá a atual estratégia de acompanhamento técnico sem intervenção direta.
Para o prefeito, a mensagem é clara: a situação chegou ao limite, e a permanência do modelo atual sem ajustes profundos tende a agravar ainda mais o desgaste político e social em torno da Enel.






