Itaúsa eleva participação na Alpargatas em meio à polêmica envolvendo a marca Havaianas
A decisão da Itaúsa de ampliar sua participação acionária na Alpargatas reposiciona o debate sobre governança corporativa, estratégia de investimentos e impacto reputacional no mercado brasileiro. Em um momento marcado por volatilidade na Bolsa e por uma polêmica envolvendo a principal marca da companhia, a Havaianas, o movimento reforça a confiança dos controladores no valor de longo prazo da empresa e reacende discussões sobre risco político, comunicação corporativa e reação do mercado financeiro.
A Itaúsa eleva participação na Alpargatas em um contexto sensível, no qual decisões empresariais se entrelaçam com debates culturais e ideológicos. As negociações realizadas na segunda-feira, dia 22, consolidaram uma fatia relevante do capital preferencial da companhia, ao mesmo tempo em que os acionistas controladores fizeram questão de sinalizar estabilidade na estrutura de poder e na gestão.
Movimento acionário e reforço do controle
Com a operação, Itaúsa e Grupo MS passaram a deter conjuntamente 137.512.422 ações preferenciais da Alpargatas, o equivalente a 40,03% do total dessa classe de papéis. O percentual chama atenção não apenas pelo volume financeiro envolvido, mas pela mensagem transmitida ao mercado: trata-se de um reforço estratégico em um ativo considerado central no portfólio dos controladores.
Ao comunicar oficialmente o movimento, a Itaúsa deixou claro que a decisão não implica mudanças no controle acionário nem na estrutura administrativa da Alpargatas. Todas as ações adquiridas seguem vinculadas ao acordo de acionistas firmado em setembro de 2017, o que reforça previsibilidade e reduz ruídos sobre possíveis reconfigurações internas.
Nesse cenário, a Itaúsa eleva participação na Alpargatas como um gesto de continuidade, e não de ruptura. A sinalização é relevante em um ambiente no qual investidores buscam clareza sobre governança e estratégia, especialmente em empresas expostas a oscilações de imagem pública.
A polêmica com a Havaianas e o impacto reputacional
O movimento acionário ocorreu poucos dias após a Alpargatas se envolver em uma controvérsia relacionada a uma campanha publicitária da Havaianas. O comercial, estrelado por Fernanda Torres, utilizou uma abordagem irreverente ao brincar com a expressão “pé direito” e desejar que o público começasse 2026 com “os dois pés”, em diferentes contextos metafóricos.
A peça gerou reação negativa entre políticos e influenciadores de direita, que interpretaram a mensagem como provocativa. Embora campanhas publicitárias frequentemente utilizem humor e metáforas, o episódio evidenciou como marcas consolidadas podem se tornar alvo de disputas simbólicas em um ambiente político polarizado.
Mesmo diante da controvérsia, a Itaúsa eleva participação na Alpargatas, sinalizando que o episódio é visto como circunstancial e não como um fator estrutural capaz de comprometer o valor da empresa. Para analistas de mercado, esse tipo de decisão costuma indicar confiança na capacidade da companhia de atravessar ruídos reputacionais sem impactos duradouros sobre resultados e estratégia.
Reação do mercado financeiro
O comportamento das ações da Alpargatas após a polêmica ilustra a sensibilidade do mercado a eventos não financeiros. Na própria segunda-feira em que as negociações acionárias foram concluídas, os papéis recuaram 2,39%, o que representou uma perda de aproximadamente R$ 152 milhões em valor de mercado.
No entanto, a reação foi parcialmente revertida já no pregão seguinte. Na terça-feira, as ações subiram 4,02%, recuperando cerca de R$ 455 milhões em valor de mercado. O saldo líquido, considerando o período anterior ao início da controvérsia, foi positivo: a avaliação da companhia passou a representar R$ 303 milhões a mais do que na sexta-feira anterior, quando a Alpargatas era avaliada em R$ 7,444 bilhões.
Esse comportamento reforça a leitura de que o mercado, embora reaja no curto prazo a ruídos políticos e midiáticos, tende a reavaliar fundamentos rapidamente. A decisão pela qual a Itaúsa eleva participação na Alpargatas contribuiu para essa percepção de solidez, funcionando como um sinal de confiança aos investidores.
Estratégia da Itaúsa e visão de longo prazo
A Itaúsa é reconhecida por uma estratégia de investimentos focada em empresas consolidadas, com marcas fortes e potencial de geração de valor no longo prazo. Ao ampliar sua exposição à Alpargatas, o grupo reforça a tese de que a companhia segue sendo um ativo estratégico, apesar de desafios conjunturais.
A Alpargatas, controladora da Havaianas, opera em um segmento altamente dependente de branding e posicionamento global. A presença internacional da marca, aliada à sua força no mercado doméstico, sustenta a visão de que episódios pontuais de controvérsia não alteram a essência do negócio.
Nesse sentido, quando a Itaúsa eleva participação na Alpargatas, o mercado interpreta o movimento como um endosso à capacidade da empresa de manter crescimento, preservar margens e administrar crises de imagem de forma eficaz.
Governança corporativa e estabilidade administrativa
Outro ponto relevante do comunicado foi a ênfase na manutenção da estrutura administrativa. Em momentos de polêmica, investidores costumam temer mudanças abruptas na gestão ou disputas internas entre acionistas. Ao afastar essa possibilidade, Itaúsa e Grupo MS reforçam a previsibilidade, um ativo valioso em mercados voláteis.
O acordo de acionistas de 2017 continua sendo o pilar da governança da companhia, garantindo alinhamento estratégico entre os controladores. A decisão pela qual a Itaúsa eleva participação na Alpargatas sem alterar esse arranjo demonstra compromisso com estabilidade institucional e foco na execução do plano de negócios.
Publicidade, política e mercado: um novo equilíbrio
O episódio envolvendo a Havaianas evidencia um desafio crescente para empresas de consumo: navegar em um ambiente no qual campanhas publicitárias são rapidamente politizadas. Marcas globais, ao buscar conexão emocional com o público, precisam lidar com interpretações diversas e reações amplificadas pelas redes sociais.
Do ponto de vista do mercado financeiro, contudo, a avaliação tende a ser mais pragmática. O foco permanece em fundamentos, geração de caixa e posicionamento competitivo. A reação relativamente rápida de recuperação das ações indica que investidores separaram o ruído político do valor econômico da companhia.
A decisão de que a Itaúsa eleva participação na Alpargatas funciona, nesse contexto, como um contraponto à volatilidade emocional do debate público, reafirmando uma lógica de investimento baseada em análise de longo prazo.
Perspectivas para a Alpargatas após o episódio
O desafio para a Alpargatas será equilibrar inovação em comunicação com gestão de risco reputacional. A empresa deverá avaliar com cuidado o impacto de suas campanhas, sem abrir mão de criatividade e identidade de marca.
Do lado dos acionistas, a ampliação da participação indica disposição para atravessar períodos de instabilidade e capturar valor futuro. O mercado, por sua vez, tende a acompanhar de perto os próximos resultados financeiros, buscando sinais de que o episódio não compromete vendas nem margens.
Ao final, o movimento pelo qual a Itaúsa eleva participação na Alpargatas se consolida como um dos principais acontecimentos corporativos do fim de 2025, combinando elementos de finanças, marketing, política e governança em um único episódio emblemático do mercado brasileiro.






