Agro em 2026: CNA alerta para um dos anos mais desafiadores da economia brasileira
O agronegócio brasileiro encerra 2025 como o principal amortecedor das pressões econômicas sobre o país. Mesmo diante de um cenário global instável, o setor sustentou a expansão da produção, ajudou a manter a inflação dentro da meta e evitou que a taxa básica de juros se mantivesse ainda mais elevada. Entretanto, para 2026, as projeções apontam para uma mudança brusca no ambiente produtivo. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que o período será marcado por riscos que podem testar a resiliência do setor em um grau raramente visto nas últimas décadas.
O relatório divulgado em Brasília evidencia que os desafios vão desde o enfraquecimento das contas públicas até o avanço da inadimplência rural, passando por ameaças regulatórias e comerciais externas que podem reduzir a participação do país nos principais mercados internacionais. Em seu diagnóstico, a CNA afirma que o agro em 2026 enfrentará um ambiente que exigirá mais eficiência, mais proteção contra riscos climáticos e financeiros e maior atenção às transformações geopolíticas que afetam o comércio global.
O papel do agro em 2025 e o alerta para o próximo ano
O relatório destaca que o agronegócio foi decisivo para conter a inflação brasileira, estimada em 4,4% neste ano. A expansão de 9,6% do PIB do setor, atingindo R$ 3,13 trilhões, não apenas reforçou a competitividade do campo, mas ajudou a equilibrar variáveis macroeconômicas. Ainda assim, a projeção para o agro em 2026 é de crescimento de apenas 1%, ritmo considerado significativamente menor diante da robustez apresentada em 2025.
Segundo a CNA, sem a performance do agronegócio, a inflação poderia ter ultrapassado o teto da meta, o que manteria a Selic acima dos atuais 15% ao ano. Essa contribuição, porém, não elimina os sinais de alerta. O setor deve entrar no próximo ciclo produtivo diante de uma conjuntura mais restritiva, que inclui fragilidade fiscal, custos crescentes e riscos de mercado.
A fragilidade fiscal e o impacto no agro em 2026
O ano de 2026 será marcado por maior necessidade de arrecadação federal. O governo deve intensificar ações fiscais para cumprir metas de resultado primário, o que, segundo a CNA, tende a elevar custos, aumentar exigências de conformidade e reduzir margens no campo. Para um setor intensivo em investimentos e sensível às variações tributárias, qualquer aumento de carga pode comprometer o planejamento e a competitividade.
Além disso, o endividamento rural acendeu um sinal vermelho. Em outubro, a inadimplência em operações de crédito rural a taxas de mercado chegou a 11,4%, o maior índice desde 2011. Em 2023, esse número era de apenas 0,59%. A escalada revela o peso das perdas climáticas, dos preços menores das commodities e dos juros elevados. Para a CNA, o agro em 2026 entrará no ano com produtores mais pressionados e menor margem de manobra para reagir a choques.
Seguro rural em colapso: um dos maiores problemas de 2026
A retração da oferta de seguro rural é apontada como um dos fatores que mais preocupam o setor. O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) teve seu pior desempenho desde 2007, cobrindo menos de 5% da área agricultável nacional. Sem proteção adequada, a volatilidade climática torna-se ainda mais perigosa, elevando a inadimplência e reduzindo a capacidade do produtor de financiar a próxima safra.
No diagnóstico da CNA, o agro em 2026 depende de uma reestruturação urgente do mercado de seguros, com maior previsibilidade orçamentária e instrumentos de mitigação de perdas que possam ser acionados de forma eficiente.
Projeções para o VBP: leve avanço em 2026
As estimativas para o Valor Bruto da Produção (VBP) indicam que a produção deve crescer 5,1% em 2026, alcançando R$ 1,57 trilhão. A agricultura, impulsionada pela soja, deve somar R$ 1,04 trilhão. Já a pecuária deve atingir R$ 528,09 bilhões.
Apesar da expansão, o ambiente será de maior cautela. A CNA destaca que, para que o agro em 2026 mantenha sua trajetória positiva, será necessário melhorar a oferta de financiamento, ampliar mecanismos de proteção e fortalecer políticas estruturantes.
Produção agrícola: soja cresce, milho e arroz recuam
A Conab projeta uma safra total de 354,8 milhões de toneladas em 2025/2026, alta de 0,8%. No entanto, essa variação esconde desigualdades importantes.
Para a soja, a área deve aumentar para 49,1 milhões de hectares, com produção estimada em 177,6 milhões de toneladas, avanço de 3,6%. O milho, por sua vez, deve recuar 1,6% no total, com queda mais forte na segunda safra, pressionado por preços menores e margens mais apertadas. O arroz também deve registrar redução de 11,5%, refletindo menor área plantada e consumo estagnado.
Essas diferenças mostram que o agro em 2026 deve entrar no ano com cadeias produtivas em ritmos distintos, exigindo decisões mais precisas por parte do produtor.
Pecuária terá menos oferta e preços maiores
A pecuária bovina deve enfrentar um ajuste importante. Embora os abates tenham crescido em 2025, o elevado número de fêmeas no total — quase 50% — reduz a expectativa de oferta para 2026. A CNA projeta queda de 4,5% na produção de carne bovina no próximo ano.
Isso deve pressionar a arroba e os preços de reposição. Com menor oferta, outras proteínas, como aves e suínos, podem conquistar mais espaço no mercado interno, influenciando o consumo e a composição da cesta de alimentos.
A expectativa é de que o agro em 2026 observe uma reestruturação temporária no mercado de carnes, com impactos sobre exportações e preços domésticos.
Riscos externos: o maior vetor de incertezas
No âmbito internacional, 2026 será um ano decisivo.
Os Estados Unidos devem manter postura comercial agressiva, alinhada à estratégia de reindustrialização. Tarifas adicionais de até 40% sobre produtos do agro podem custar ao Brasil cerca de US$ 2,7 bilhões por ano, o equivalente a 22% de nossas exportações para o mercado americano.
Esse cenário já se reflete no desempenho recente: entre agosto e novembro de 2025, as vendas brasileiras aos Estados Unidos recuaram 37,85%.
Para o agro em 2026, os EUA representam o maior risco imediato, não apenas pelas tarifas, mas pela reorganização das cadeias globais de suprimentos.
União Europeia e Lei Antidesmatamento
O bloco europeu deve seguir ampliando pressões regulatórias. A Lei Antidesmatamento foi adiada, mas entra em vigor em dezembro de 2026 para grandes operadores e em 2027 para pequenas empresas. Isso significa mais exigências de rastreabilidade e conformidade.
China: riscos comerciais e regulatórios
A China também exige atenção. Investigações sobre importações de carne bovina podem gerar salvaguardas contra fornecedores internacionais. O Brasil, que representa metade das importações chinesas do produto, teria forte impacto em suas vendas.
Além disso, o novo Plano Quinquenal chinês pode reduzir a dependência de farelo de soja, afetando diretamente a demanda global. Há ainda a possibilidade de acordo entre China e Estados Unidos envolvendo soja americana, diminuindo o espaço brasileiro.
Todos esses elementos compõem um quadro no qual o agro em 2026 enfrentará uma competição muito mais intensa nos mercados globais.
Desafio central: previsibilidade
Para a CNA, o elemento mais crítico para o agro em 2026 é a previsibilidade. O setor precisa de:
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regras claras de financiamento;
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um seguro rural funcional;
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estabilidade regulatória;
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ambiente de negócios com menor volatilidade tributária.
Sem esses pilares, a expansão pode ser comprometida.
O relatório também ressalta que o Brasil tem potencial para manter liderança no agro global, mas depende de medidas estruturais que reduzam a vulnerabilidade aos choques internos e externos.






