COP30 Belém reúne líderes globais e consolida papel estratégico do Brasil na diplomacia climática
Por Gazeta Mercantil
Belém (PA) — O Brasil assume nesta quinta-feira (6) o centro das atenções mundiais ao sediar a Cúpula de Líderes da COP30, encontro que marca o início das discussões políticas e econômicas da conferência do clima das Nações Unidas. Com a presença de mais de 40 chefes de Estado e delegações de mais de 170 países, a cidade de Belém se transforma no epicentro da diplomacia ambiental global.
A reunião, que antecipa a COP30 — prevista oficialmente para 2026 —, reforça a estratégia do governo brasileiro de reposicionar o país como protagonista nas negociações internacionais sobre transição energética, comércio verde e preservação da Amazônia.
Brasil busca liderança econômica no debate climático
Mais do que um evento ambiental, a COP30 Belém é vista como um marco geopolítico e econômico. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende usar o encontro como vitrine da política externa brasileira, aproximando aliados estratégicos e atraindo novos investimentos em energia limpa e infraestrutura sustentável.
Nos bastidores, diplomatas confirmam que o foco principal será a financiamento climático — um tema que envolve diretamente bancos multilaterais e grandes fundos soberanos. O Brasil tenta liderar a pauta de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais, buscando transformar a conservação da floresta amazônica em ativo econômico.
A presença confirmada de líderes europeus e africanos reforça essa estratégia. França, Alemanha e Noruega — grandes financiadores de iniciativas ambientais — sinalizaram apoio a uma governança internacional que recompense países que preservam biomas estratégicos.
Lula recebe mais de 40 chefes de Estado e governo
A Cúpula de Líderes da COP30 conta com a presença de Emmanuel Macron (França), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia) e Cyril Ramaphosa (África do Sul), além de representantes do Reino Unido, Alemanha, Portugal, Noruega e outras nações-chave para o debate climático.
A ausência de nomes como Donald Trump (EUA), Xi Jinping (China) e Javier Milei (Argentina) foi interpretada por analistas como um gesto político calculado — especialmente no contexto da crescente rivalidade entre Washington e Pequim. Ainda assim, o alto número de participantes confirma a força diplomática do evento e a capacidade de mobilização brasileira.
Presença britânica e europeia reforça confiança em Lula
Entre os destaques, a presença do Príncipe William, representando o rei Charles III, simboliza o engajamento do Reino Unido com a pauta ambiental. O novo primeiro-ministro britânico Keir Starmer também marca presença, demonstrando alinhamento com a proposta de um mercado global de carbono supervisionado pela ONU.
Da Europa, também participam o chanceler alemão Friedrich Merz, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez e o francês Emmanuel Macron, que devem se reunir com Lula para discutir a retomada do acordo comercial Mercosul-União Europeia, travado por cláusulas ambientais.
Geopolítica e economia verde se cruzam em Belém
O evento em Belém não é apenas uma cúpula climática: é um tabuleiro de geopolítica econômica. Com a guerra comercial entre EUA e China afetando cadeias de suprimentos globais, o Brasil tenta ocupar um espaço intermediário — oferecendo-se como parceiro estratégico para a reindustrialização verde.
O Itamaraty aposta na COP30 como vitrine para atrair empresas de tecnologia limpa, energia solar, hidrogênio verde e biocombustíveis. Segundo fontes do governo, há negociações com companhias da Alemanha, Japão e Emirados Árabes para instalação de hubs de energia sustentável na Amazônia.
Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve anunciar novos mecanismos de financiamento voltados à transição energética, conectando projetos regionais ao mercado internacional de carbono.
Ausências e tensões diplomáticas
A ausência dos presidentes Donald Trump, Xi Jinping e Javier Milei reflete divisões políticas globais e diferenças de estratégia em relação à transição energética.
Os Estados Unidos optaram por não enviar representantes de alto escalão, mantendo apenas uma delegação técnica. A China, por sua vez, enviou o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang, em sinal de moderação e interesse em acompanhar de perto as negociações multilaterais.
Analistas apontam que o Brasil tenta capitalizar essas ausências reforçando sua imagem de mediador entre o Norte e o Sul global. A mensagem de Lula, segundo diplomatas, é clara: o Brasil quer ser ponte entre economias desenvolvidas e emergentes em torno de um novo pacto verde global.
Líderes e autoridades confirmadas na COP30 Belém
Chefes de Estado
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França – Emmanuel Macron
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Chile – Gabriel Boric Font
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Colômbia – Gustavo Petro
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África do Sul – Cyril Ramaphosa
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Finlândia – Alexander Stubb
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Guiana – Irfaan Ali
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Honduras – Xiomara Castro
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Moçambique – Daniel Francisco Chapo
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Namíbia – Netumbo Nandi-Ndaitwah
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República Democrática do Congo – Félix Tshisekedi Tshilombo
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Suécia – Rei Carl XVI Gustaf e Rainha Silvia
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Suriname – Jennifer Simons
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Mônaco – Príncipe Alberto II
Chefes de Governo
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Alemanha – Friedrich Merz
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Espanha – Pedro Sánchez
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Reino Unido – Keir Starmer
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Portugal – Luís Montenegro
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Noruega – Jonas Gahr Støre
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Países Baixos – Dick Schoof
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Irlanda – Micheál Martin
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Papua-Nova Guiné – James Marape
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Barbados – Mia Amor Mottley
Vice-presidentes
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Nigéria – Kashim Shettima
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Quênia – Kithure Kindiki
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Turquia – Cevdet Yilmaz
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Benin – Chabi Talata
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Iêmen – Tarik Saleh
Vice-primeiros-ministros
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China – Ding Xuexiang
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Itália – Antonio Tajani
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Cuba – Eduardo Martínez Díaz
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Eslovênia – Tanja Fajon
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Lesoto – Nthomeng Majara
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Somália – Salah Ahmed Jama
Chefes de Organizações Internacionais
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Banco Mundial – Ajay Banga (Presidente)
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Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – Ilan Goldfajn
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Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) – Sérgio Díaz-Granados
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NDB – Dilma Rousseff (Presidenta)
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FAO – Qu Dongyu (Diretor-Geral)
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OMS – Tedros Adhanom Ghebreyesus (Diretor-Geral)
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OMC – Ngozi Okonjo-Iweala (Diretora-Geral)
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UNICEF – Catherine Russell (Diretora-Executiva)
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UN-Habitat – Anacláudia Rossbach (Subsecretária-Geral da ONU)
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PNUD – Haoliang Xu (Administrador interino)
Amazônia no centro da agenda
Durante os painéis temáticos, Lula deve apresentar uma nova proposta de cooperação internacional para financiar projetos sustentáveis na Amazônia Legal, em parceria com países da Bacia do Congo e do Sudeste Asiático. A ideia é criar um “Fundo do Sul Global”, voltado para a conservação florestal e geração de emprego verde.
Além disso, o Brasil pretende liderar um acordo para precificar o carbono florestal, criando um mercado regulado que valorize áreas preservadas. Esse mecanismo é visto como essencial para atrair capital privado e tornar a economia de baixo carbono financeiramente viável.
Belém, vitrine da transição verde
A escolha de Belém como sede da COP30 foi estratégica. A cidade representa o símbolo da integração entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
Infraestrutura, segurança e logística foram reforçadas para o evento, com apoio das Forças Armadas e de agências internacionais. Segundo o Itamaraty, a presença de mais de 10 mil participantes oficiais e cerca de 30 mil visitantes deve movimentar a economia local e projetar o Pará como polo de inovação ambiental.
Brasil no centro das negociações globais
O encontro em Belém marca a consolidação da imagem do Brasil como liderança emergente na diplomacia climática. A estratégia é usar o peso político regional e a credibilidade ambiental do país para negociar acordos que conciliem sustentabilidade e crescimento econômico.
Para diplomatas, o país assume um papel semelhante ao da França durante o Acordo de Paris: o de articulador global. O sucesso do evento pode fortalecer o discurso brasileiro em fóruns econômicos e ampliar o poder de barganha em acordos comerciais.






