Itamaraty Informa que Não Recebeu Notificação Oficial sobre Visita de Milei
O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quarta-feira (3) que o governo brasileiro não recebeu nenhuma informação oficial da Argentina sobre a viagem do presidente Javier Milei ao Brasil no próximo fim de semana. O Itamaraty evitou comentar as consequências políticas da vinda do chefe de Estado a Santa Catarina, onde Milei participará de um evento político com opositores e se reunirá com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Milei deve ignorar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua visita, interrompendo uma tentativa das chancelarias dos dois países de obter uma reunião entre eles e criar canais para uma relação mais pragmática.
“Em relação à presença eventual do presidente Milei no Brasil, não temos nenhuma confirmação oficial. Não posso sequer comentar”, disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty, em entrevista a jornalistas.
Protocolos Diplomáticos e Segurança
O Itamaraty costuma ser avisado nesses casos. Por protocolo, quando um chefe de Estado viaja a outro país em avião próprio, os governos trocam informações diplomáticas e militares. Além do aviso, são compartilhados dados da rota e o plano de voo para coordenação da entrada no espaço aéreo, controlado no Brasil pela Aeronáutica. Em caso similar, o presidente argentino voou à Espanha em meio a uma crise diplomática com o governo do socialista Pedro Sánchez, sem ter qualquer contato com ele. Na ocasião, a embaixada argentina enviou uma nota verbal para avisar da viagem.
Viagem de Milei: Detalhes Ainda Incertos
A Embaixada da Argentina em Brasília afirmou não ter informações oficiais sobre a viagem de Milei. A Força Aérea Brasileira ainda não respondeu se recebeu detalhes de eventual plano de voo. Milei inicialmente usou voos comerciais no início de seu mandato sob o argumento de corte de gastos, mas posteriormente passou a utilizar o avião próprio da Presidência Argentina por razões de segurança. No entanto, segundo o jornal Clarín, a aeronave presidencial está em manutenção e não estará disponível por meses.
A Casa Rosada informou que Milei tem viajado preferencialmente no avião da Força Aérea argentina, mas o convite da organização do CPAC, evento organizado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), cobre os custos de uma viagem particular em voo de carreira. O governo argentino deixou em aberto os detalhes e ainda não confirmou qual será a opção de viagem do presidente para vir a Santa Catarina. Existem voos diários conectando Buenos Aires ao Estado, e ele poderá usar outra aeronave militar do país.
Relações Bilaterais e Mercosul
“Não me compete comentar declarações do presidente de outro país, nem do meu presidente”, afirmou Gisela Padovan. “Nós trabalhamos para que as relações com a Argentina continuem sendo o que sempre foram: de dois países parceiros, com interesses enormes, duas economias, duas populações, com integração em múltiplos setores estratégicos, nuclear, espacial, defesa. É isso que a gente busca preservar.”
Ausência na Cúpula do Mercosul
A chancelaria brasileira lamentou a ausência de Milei na Cúpula do Mercosul, marcada para a próxima segunda-feira (8) em Assunção, Paraguai. Milei será representado pela chanceler Diana Mondino. Esta seria a primeira cúpula de Milei no bloco desde sua chegada ao poder, mas ele preferiu se ausentar, sendo o primeiro presidente argentino a faltar a uma reunião de chefes de Estado do Mercosul, conforme registros do Itamaraty. Há exatos dois anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro também se ausentou da cúpula realizada em Assunção.
“Em relação à ausência do presidente Milei, a gente lamenta. É a primeira vez que isso acontece, e não é desejável. Mas o Mercosul tem a vantagem de ser um mecanismo muito consolidado, com 33 anos de história e mais de 3,8 mil decisões. Em termos de substância, a cúpula acontecerá, a chanceler Mondino representará a Argentina e assinaremos o que temos de assinar. Não altera em nada a substância da cúpula. As declarações serão feitas e esperamos dar as boas-vindas à Bolívia, fazer a melhor cúpula possível. Mas politicamente, claro, é lamentável que um presidente decida não ir, ainda com parceiros de um agrupamento tão importante. A decisão é soberana e cada país faz a sua política externa.”
Visão Crítica de Milei sobre o Mercosul
Durante a campanha eleitoral, Milei chegou a ameaçar retirar a Argentina do Mercosul, classificando o bloco como de “má qualidade” e alegando que cria “distorções comerciais” prejudiciais aos países membros. Embora integrantes do governo tenham até agora mantido uma participação ativa no bloco, a ausência de Milei é um claro sinal de falta de prioridade política.
Adesão da Bolívia ao Mercosul
Segundo o Itamaraty, o principal destaque da reunião de líderes, que contará com a presença de Lula, será a comunicação oficial de adesão da Bolívia ao Mercosul. O Senado boliviano vota nesta quarta-feira o protocolo de adesão, que, após aprovado, será levado a Assunção pelo presidente Luis Arce. Este gesto simbolizará a entrada formal da Bolívia no bloco, iniciando um processo de quatro anos para a adequação aos acordos internos do Mercosul.