Eduardo Tagliaferro: ex-assessor de Moraes é convocado ao Senado em meio ao julgamento de Bolsonaro no STF
O nome de Eduardo Tagliaferro volta ao centro das atenções políticas no Brasil. Ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele foi convocado para depor na Comissão de Segurança Pública do Senado nesta terça-feira (2), no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus por suposta participação na tentativa de golpe de 8 de janeiro.
A convocação foi articulada por parlamentares do Partido Liberal (PL) com base em relatórios publicados pela organização norte-americana Civilization Works, criada pelo jornalista Michael Shellenberger. O grupo é alinhado à direita americana e já esteve envolvido na divulgação dos Twitter Files no Brasil.
Para os aliados de Bolsonaro, a fala de Tagliaferro pode municiar críticas ao ministro Alexandre de Moraes e reforçar narrativas de perseguição política. Para os críticos, a convocação é mais uma estratégia para tentar deslegitimar a atuação do STF no caso.
Eduardo Tagliaferro: trajetória e polêmicas
Eduardo Tagliaferro ocupou cargo estratégico no TSE durante a presidência de Alexandre de Moraes. Porém, sua trajetória é marcada por polêmicas:
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Maio de 2023: foi preso em Caieiras (SP) após episódio de violência doméstica com disparo de arma de fogo, o que levou à sua exoneração no dia seguinte.
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2024: seu nome voltou à cena pública em reportagens de Glenn Greenwald, que revelaram conversas suas com o juiz instrutor Airton Vieira. O episódio foi apelidado de “Vaza Toga” por apoiadores de Bolsonaro.
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2025: foi indiciado pela Polícia Federal por violação de sigilo funcional e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostos vazamentos de informações sigilosas.
Nos últimos meses, Eduardo Tagliaferro intensificou suas falas críticas contra Moraes em entrevistas a veículos alinhados ao bolsonarismo, se apresentando como “exposto” às práticas que considera abusivas no STF e no TSE.
A convocação no Senado
O requerimento aprovado para ouvir Tagliaferro é de autoria do senador Magno Malta (PL-ES) e cita diretamente o relatório da Civilization Works, que acusa Moraes de criar uma suposta “justiça paralela” a partir de seu gabinete.
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), presidente da Comissão de Segurança Pública, articulou pessoalmente a vinda do ex-assessor. A estratégia ocorre em paralelo ao julgamento de Bolsonaro no STF, ampliando o embate institucional e oferecendo munição para narrativas nas redes sociais.
Relatórios da Civilization Works
A organização Civilization Works publicou em agosto de 2025 o relatório intitulado “Os arquivos de 8 de janeiro: dentro da força-tarefa judicial secreta do Brasil para prisões em massa”. O texto retoma diálogos entre Tagliaferro e Vieira para sustentar a tese de que Moraes teria usado suas funções de presidente do TSE e ministro do STF para ampliar poderes de investigação.
Outro documento da mesma organização, chamado “O papel do governo dos Estados Unidos no Complexo Industrial da Censura no Brasil”, foi apreendido pela Polícia Federal na sede do PL em julho, durante operação contra Bolsonaro. O texto sugeria que decisões do STF e do TSE eram influenciadas por organizações norte-americanas.
Shellenberger, Twitter Files e a ligação com Bolsonaro
Michael Shellenberger, fundador da Civilization Works, é conhecido por sua atuação nos Twitter Files divulgados por Elon Musk. O material foi amplamente usado por bolsonaristas para acusar Moraes de censura digital.
Em agosto de 2025, Shellenberger chegou a depor no Senado brasileiro, defendendo a nulidade dos processos relacionados ao 8 de janeiro e defendendo anistia aos acusados. O jornalista também participou de manifestações bolsonaristas no 7 de setembro de 2024 em São Paulo.
Estratégia política e disputa de narrativas
A convocação de Eduardo Tagliaferro ao Senado tem forte caráter político:
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Reforçar críticas a Moraes: a fala do ex-assessor pode ser explorada como narrativa de abuso de poder no STF.
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Criar conteúdo para redes sociais: oposicionistas de Lula e aliados de Bolsonaro buscam alimentar suas bases digitais.
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Pressão institucional: a movimentação no Senado ocorre em paralelo ao julgamento no STF, ampliando o desgaste político.
O julgamento de Bolsonaro no STF
Enquanto o Senado se prepara para ouvir Tagliaferro, o STF iniciou o julgamento de Bolsonaro e outros sete réus por suposta participação nos atos de 8 de janeiro. Para a oposição, o processo é descrito como “teatro”, com resultado já definido. Já para apoiadores do governo, trata-se da responsabilização necessária diante de uma tentativa de ruptura democrática.
O depoimento de Tagliaferro, portanto, ganha peso simbólico, ainda que não tenha relação jurídica direta com o julgamento em curso no Supremo.
Repercussão e próximos passos
A expectativa é que a fala de Eduardo Tagliaferro seja usada como combustível político no embate entre Congresso e STF. Além disso, deve alimentar manifestações previstas para o 7 de setembro, convocadas pela oposição em várias capitais brasileiras.
O caso demonstra como figuras secundárias do Judiciário podem se transformar em peças centrais na disputa política, especialmente em momentos de forte polarização.
O depoimento de Eduardo Tagliaferro no Senado amplia as tensões entre os Poderes em um dos momentos mais delicados da política nacional. Sua convocação, articulada por parlamentares do PL, reforça o embate com Alexandre de Moraes e coloca em evidência a influência de organizações estrangeiras como a Civilization Works no debate interno brasileiro.
Independentemente do teor de sua fala, Tagliaferro tornou-se peça-chave em um jogo de narrativas que mistura política, Judiciário, imprensa e redes sociais. O impacto de sua participação no Senado será medido não apenas em Brasília, mas também nas ruas e nas plataformas digitais.






