Fim da taxação do café nos EUA reacende competitividade brasileira, mas setor de solúvel continua fora do acordo
O fim da sobretaxa de 40% aplicada pelos Estados Unidos sobre o café brasileiro marca um dos capítulos mais relevantes da diplomacia comercial do ano. A medida reacende a competitividade do Brasil, reposiciona o país como protagonista no fornecimento global e abre espaço para a retomada imediata dos embarques para o maior mercado consumidor do mundo. Apesar disso, a indústria de café solúvel — considerada estratégica por sua capacidade de gerar empregos e valor agregado — permanece fora da decisão norte-americana, criando um cenário de avanços e frustrações simultâneas dentro da cadeia.
O setor, que já era pressionado por oferta limitada e volatilidade elevada, vinha enfrentando perda abrupta de espaço comercial. Agora, no entanto, com o fim da taxação do café, o cenário muda radicalmente. Exportadores, cooperativas e produtores voltam a enxergar perspectivas concretas de recomposição de receita, ao mesmo tempo em que aguardam os desdobramentos para o segmento de solúvel, ainda tratado de forma distinta pelos EUA.
Retomada imediata das exportações com o fim da taxação do café
O cancelamento da tarifa reabre de imediato as janelas comerciais que estavam completamente paralisadas desde a imposição das sobretaxas. Durante os primeiros meses de vigência da medida, o Brasil perdeu metade da participação no mercado americano, o que representou aproximadamente US$ 500 milhões em exportações que deixaram de ser efetivadas. Caso o cenário fosse mantido, a estimativa do setor era de perdas de até US$ 2 bilhões apenas nos Estados Unidos, além de outros US$ 1 bilhão em mercados alternativos impactados pelo efeito dominó da elevação de preços.
Com o fim da taxação do café, contratos já firmados, mas congelados, poderão ser executados imediatamente. A reversão do fluxo comercial é vista como um respiro necessário para cooperativas e exportadores que vinham operando no limite, diante do salto dos preços internacionais e dos gargalos logísticos. Esse retorno tende a elevar o volume embarcado nos próximos meses, reduzindo o prejuízo acumulado no ano.
A reabertura do mercado americano também contribui para esfriar a pressão especulativa na Bolsa de Nova York. O café, que havia disparado de R$ 286 para R$ 433 por saca, movimento superior a 50%, deve passar por ajustes. A expectativa é que os preços retornem parcialmente a patamares mais próximos do equilíbrio entre oferta e demanda.
Efeito econômico direto do fim da taxação do café
A retirada da sobretaxa corrige uma distorção que estava impactando todo o ecossistema produtivo. Mesmo que os preços elevados chegassem a beneficiar produtores no curto prazo, a continuidade daquela valorização seria insustentável para exportadores e indústrias, que dependem da previsibilidade comercial e de margens viáveis para operar.
O fim da taxação do café devolve competitividade ao Brasil e reduz o risco de perda permanente de espaço para concorrentes internacionais. Nos últimos meses, países como Colômbia, Vietnã e Indonésia vinham avançando agressivamente sobre mercados tradicionalmente dominados pelos brasileiros, criando uma ameaça concreta de substituição estrutural.
Além disso, a retirada do imposto melhora as condições de negociação com importadores, uma vez que reduz o prêmio que vinha sendo repassado ao longo de toda a cadeia. Isso tende a favorecer contratos de longo prazo e restabelecer a confiança dos parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Indústria do solúvel segue de fora: ponto de tensão apesar do fim da taxação do café
Embora o fim da taxação do café represente um avanço expressivo, a indústria brasileira de café solúvel permanece fora da decisão norte-americana. Esse ponto é considerado um retrocesso dentro da estratégia nacional, porque o Brasil abriga o maior parque industrial do mundo no segmento.
Os Estados Unidos importam do Brasil aproximadamente 80% de café arábica em grão, 10% de conilon e 10% de solúvel. Este último, porém, possui valor agregado mais elevado e capacidade de geração de empregos muito superior à do grão in natura. A ausência do solúvel na ordem executiva norte-americana frustrou expectativas iniciais e manteve o produto fora do ambiente de recuperação comercial.
A indústria nacional enfrenta ainda a concorrência crescente do Vietnã, que intensifica a produção de robusta — matéria-prima do café solúvel. Sem acesso facilitado ao mercado americano, o setor brasileiro corre o risco de perder participação justamente em um segmento no qual tradicionalmente é líder global.
Apesar do impasse, representantes do setor afirmam que a exclusão do café solúvel não é definitiva. O produto não foi proibido, apenas não foi incluído no pacote inicial. A expectativa é que, com o mesmo esforço diplomático que garantiu o fim da taxação do café, a situação seja revista nos próximos meses.
Mobilização institucional foi decisiva para o fim da taxação do café
A reversão da tarifa nos Estados Unidos ocorreu após forte coordenação técnica e política entre diferentes órgãos. A agenda envolveu a atuação do Conselho dos Exportadores de Café, representantes do governo federal, vice-ministros de Estado, produtores, cooperativas e grandes importadores.
A articulação conjunta fez diferença na construção do argumento econômico e diplomático que demonstrou aos Estados Unidos que a manutenção das tarifas penalizaria diretamente cadeias produtivas que também são relevantes para o consumidor americano.
Foi essa atuação integrada que permitiu acelerar as conversas com autoridades norte-americanas e conduzir o processo até a decisão final. Agora, o desafio é repetir a mesma mobilização para garantir que o café solúvel seja contemplado em um próximo anúncio.
Impactos para o mercado interno após o fim da taxação do café
Com a retirada da sobretaxa, o mercado brasileiro também deve sentir efeitos positivos. Entre eles:
1. Reequilíbrio de preços internos
A forte volatilidade que marcou os últimos meses deve diminuir, permitindo ao produtor maior previsibilidade para planejar vendas.
2. Aumento da demanda por contratos de exportação
Produtores e cooperativas tendem a priorizar compromissos internacionais, uma vez que o mercado americano volta a operar em condições normais.
3. Reforço na confiança do setor produtivo
A reversão da tarifa demonstra que o Brasil mantém capacidade de articulação em temas sensíveis da diplomacia comercial.
Desafios continuam, mesmo com o fim da taxação do café
Apesar do avanço, ainda há fatores de atenção que precisam ser monitorados:
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volatilidade dos preços internacionais;
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concorrência crescente de outros exportadores globais;
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necessidade de ampliar a presença do solúvel no acordo;
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incertezas na política comercial dos Estados Unidos;
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efeitos climáticos que podem comprometer safra futura.
O fim da taxação do café abre uma janela de oportunidade, mas ainda não resolve todos os desafios estruturais da cadeia.
Perspectivas para 2026 após o fim da taxação do café
A tendência é que o setor inicie 2026 com um ambiente mais favorável. Com o retorno dos embarques, a normalização das rotas logísticas e a possível inclusão do café solúvel em negociações futuras, a competitividade brasileira tende a se fortalecer.
O segmento acredita que a próxima etapa da diplomacia será dedicada justamente ao solúvel, considerado estratégico por sua capacidade de gerar emprego, agregar tecnologia e ampliar a presença do Brasil nas prateleiras americanas. Se essa inclusão avançar, o impacto econômico poderá ser ainda mais relevante.






