PIS/Pasep 2026: nova regra ameaça corte de milhões de trabalhadores do Abono Salarial
O Abono Salarial sempre ocupou papel central na política de renda do trabalhador brasileiro de baixa renda. Construído como um complemento anual que fortalece o orçamento familiar, o PIS/Pasep tem sido, por décadas, uma das engrenagens de maior impacto socioeconômico para quem recebe até dois salários mínimos. No entanto, uma mudança estrutural estabelecida pela Emenda Constitucional nº 135/2024 redesenha completamente o cenário. A partir de 2026, o país inicia uma nova fase, marcada por uma política de reajuste que promete reduzir, ano após ano, o número de trabalhadores aptos ao benefício. Essa alteração coloca o PIS/Pasep 2026 no centro de um debate nacional sobre renda, proteção social e ajustes fiscais.
A mudança é profunda porque rompe uma lógica histórica: a de que o limite de renda para recebimento do Abono deveria acompanhar automaticamente o aumento real do salário mínimo. Com a nova fórmula, a correção passa a ocorrer apenas pela inflação medida pelo INPC. Isso significa que, à medida que o salário mínimo continua evoluindo com ganho real — impulsionado pelo crescimento econômico — a régua que define quem terá direito ao PIS/Pasep ficará cada vez mais restrita.
O novo regime do PIS/Pasep 2026 e o impacto imediato
Até 2025, nada muda. Mas, a partir do PIS/Pasep 2026, o trabalhador começa a sentir as consequências do novo cálculo. Quem recebe na faixa entre 1,5 e 2 salários mínimos será o primeiro grupo a perder o benefício. Isso ocorre porque o salário mínimo continuará subindo em ritmo superior ao índice de inflação, criando um descompasso crescente entre as duas variáveis.
A mudança, apresentada pelo governo como medida de responsabilidade fiscal, pretende conter o avanço das despesas obrigatórias. Apesar disso, especialistas veem o efeito concentrado justamente sobre trabalhadores formais de baixa renda, o grupo que depende do Abono para reforçar despesas anuais, pagar contas acumuladas ou enfrentar períodos de aperto no orçamento.
No médio prazo, projeções indicam que o limite equivalente a dois salários mínimos se transformará, na prática, em cerca de 1,5 salário mínimo até 2035. Essa defasagem progressiva cria um vácuo de proteção social, que coloca milhões de trabalhadores à margem do benefício.
A lógica de desvinculação e o seu efeito cumulativo
Por décadas, o cálculo do Abono mantinha conexão direta com a política de reajuste do salário mínimo. Isso oferecia previsibilidade ao trabalhador e garantia que, mesmo com pequenos aumentos salariais, o direito ao benefício não fosse perdido. A Emenda Constitucional nº 135/2024 interrompe essa tradição.
Ao restringir o reajuste do teto de renda ao INPC, o governo argumenta que cria um mecanismo de sustentabilidade fiscal para o futuro. O problema é que, nas últimas décadas, o salário mínimo acumulou ganhos reais consistentes, enquanto a inflação cresceu mais lentamente. Com isso, o teto do PIS/Pasep ficará, ano após ano, estagnado diante da evolução natural da economia.
O PIS/Pasep 2026 será, portanto, o primeiro ano de um processo de dez anos de desalinhamento entre o mínimo e o limite de renda. Esse tipo de mudança afeta justamente o trabalhador intermediário: aquele que não é pobre o suficiente para se enquadrar em programas sociais, mas tampouco possui estabilidade econômica confortável.
Quem perderá o PIS/Pasep 2026 primeiro
Com a aplicação da nova regra, três grupos aparecem como principais candidatos a perder o benefício já nas primeiras rodadas:
1. Trabalhadores que ganham entre 1,6 e 2 salários mínimos.
Esse grupo será o primeiro empurrado para fora do benefício, mesmo que seus salários sejam reajustados apenas pela inflação.
2. Trabalhadores formais com reajustes vinculados ao mínimo.
Setores com negociações coletivas que acompanham a evolução do piso nacional tendem a perder mais rapidamente o acesso ao Abono.
3. Trabalhadores com oscilações nominais no salário.
Mesmo um pequeno aumento pode eliminar o direito, já que o teto ficará estagnado em termos reais.
Esse conjunto representa grande parte dos brasileiros formais que dependem do PIS/Pasep para reorganizar as finanças ou enfrentar momentos críticos do ano.
O impacto social previsto até 2035
Estudos técnicos indicam que a redução acumulada pode ser significativa. Ainda que o governo celebre a economia fiscal gerada, há preocupação sobre o impacto da medida na desigualdade de renda, especialmente em regiões onde a renda média é baixa e a dependência do Abono é maior.
O efeito pode ser observado em três níveis:
• Para as famílias: menor proteção econômica anual e dificuldade adicional para arcar com despesas essenciais.
• Para as economias locais: redução da circulação de recursos injetados tradicionalmente pelo Abono.
• Para o mercado de trabalho: maior vulnerabilidade do trabalhador formal de menor renda.
A política fiscal se beneficia no curto prazo, mas cria um cenário complexo para as próximas décadas.
Regras do Abono que não mudam com o PIS/Pasep 2026
Apesar da nova fórmula de reajuste, todas as demais regras permanecem intactas. O trabalhador ainda precisa cumprir:
• Inscrição no PIS/Pasep por cinco anos.
• Exercício de atividade remunerada por pelo menos 30 dias no ano-base.
• Informações corretas no RAIS ou eSocial.
• Cálculo proporcional ao número de meses trabalhados.
Isso significa que o mecanismo mais sensível ao trabalhador foi justamente o único alterado pela EC nº 135/2024: o teto de renda.
Calendário e transição para o PIS/Pasep 2026
Em 2025, o sistema mantém seu funcionamento original. Apenas em 2026 o efeito começa a ser percebido. Entre 2026 e 2035, o país viverá uma fase de redução contínua de beneficiários. Para o trabalhador, isso significa maior atenção ao recebimento de salários, variações contratuais e negociações coletivas.
As empresas também precisarão redobrar o cuidado no envio de informações ao RAIS e ao eSocial, já que divergências continuam impedindo o pagamento do benefício. A diferença é que, agora, o número de trabalhadores envolvidos será potencialmente menor.
Por que o PIS/Pasep é tão relevante para a renda do trabalhador
O Abono Salarial cumpre função essencial na estabilidade financeira de famílias de baixa renda. Em muitos casos, o benefício anual é utilizado para reorganizar gastos, investir em necessidades básicas, pagar dívidas, reforçar o orçamento escolar ou suprir despesas emergenciais.
A retirada gradual desse reforço pode deixar milhões de trabalhadores em situação de maior fragilidade. O PIS/Pasep 2026, portanto, torna-se um marco de transição que redefine o acesso ao benefício e exige planejamento financeiro por parte do trabalhador.
O que esperar para os próximos anos
Com o avanço da defasagem entre salário mínimo e limite de renda, o debate tende a se intensificar. Entidades sindicais, especialistas e parlamentares já se movimentam para discutir alternativas. Entre as possibilidades futuras, destacam-se:
• revisão do mecanismo de reajuste;
• criação de regras compensatórias para faixas intermediárias;
• ajustes no cálculo do Abono para manter parte dos beneficiários;
• pressão social por mudanças a partir de 2027.
Apesar disso, até que uma nova emenda seja aprovada, a regra de desvinculação permanece integral.
PIS/Pasep 2026: um divisor de águas
A implementação da nova regra não encerra apenas um ciclo histórico; ela inaugura uma década de mudanças profundas no acesso ao Abono Salarial. A política fiscal ganha previsibilidade, mas o trabalhador perde espaço num programa que sempre funcionou como proteção financeira em períodos críticos do ano.
O PIS/Pasep 2026 representa o primeiro passo dessa transformação. A partir dele, milhões de trabalhadores precisarão acompanhar de perto a evolução do salário mínimo, o comportamento da inflação e a própria faixa salarial. Em muitos casos, mesmo reajustes que não trazem ganho real serão suficientes para excluir o trabalhador do benefício.
O debate está apenas começando. E seu alcance se estenderá muito além de 2026.






